Da convicção à arrogância
O universo jurídico não imanta os seus integrantes - juízes, procuradores, autores e alvos de ações - com os fundamentos da contenção: às vezes o ganhar seguido leva à soberba e, por vezes, o perder contínuo conduz ao desespero. A iniciativa do Ministério Público de propor nova ação contra José Dirceu em cima de julgamento que caminhava para a liberação do réu já condenado foi, para dizer o mínimo, temerária e se sabia que os menos contidos fariam o que o ministro Gilmar Mendes fez encarando a medida como pressão intolerável.
Pode-se dizer que há de tudo nesses julgamentos, menos tolerância e, sobretudo, uma clara falta de visão do outro como se reproduzissem em esfera imprópria o radicalismo adequado ao exercício das paixões da política. A certeza dos que apostavam no avanço das punições, em aparente sintonia com os sentimentos da maioria esmagadora da população, era de tal ordem, de tão arraigada certeza, que os aproximava e muito da arrogância: embora sabendo dos riscos de decisões contrárias, viam no quase imobilismo da outra parte a segurança de que a cruzada seria bem-sucedida.
De outro lado, se os constrangimentos aos acusados eram assim tão extremos nas regras do Direito e isso em seus fundamentos básicos, por que houve tanta demora nessa reversão? Temor do julgamento público, afinal, instituições humanas são assim mesmo, mas julgamentos não podem expressar o cenário de programas de auditório de televisão, ainda que a chamada sociedade do espetáculo milite nesse direcionamento.
Decisões de primeira instância não valem enquanto a do segundo grau não é prolatada? Por que o habeas corpus do goleiro Bruno, concedido pelo ministro Marco Aurélio, afinal não pode prevalecer diante de expressiva reação da opinião pública ante a exuberante matéria de prova recolhida no júri que o condenou e tal não prevalece nos graves crimes contra o erário pelo contubérnio público-privado? É evidente que prisão preventiva prolongada tem sentido de antecipação de pena, mas a condenação prévia, ainda mais por duas vezes, pode também justificá-la.
Há, no entanto, axiomas que não podem ser repetidos como aquela sentenciosa presunção de inocência, a que tantos se referiam, quando a culpa é mais do que manifesta mormente quando quadrilha não pode e nem deve ser confundida com o compadrio.

Condicionais
O juiz Sergio Moro fixou os regramentos a que se deve subordinar o ex-ministro Zé Dirceu ao deixar a prisão: usar tornozeleira eletrônica, entrega de passaporte, ficar em casa em Vinhedo e não viajar, embora possa deslocar-se na cidade. Destituído do trabalho, não poderia pagar multas como se deu com Eike Batista para ser mantido solto por ordem de juiz federal.

O trem
Quando o trem chega (e eu testemunhei a festa que foi o seu desembarque glorioso na pequena Jussara) há euforia e quando permanece todos o querem à distância. Vide o drama da transferência da linha em várias cidades do Paraná. A bronca em Curitiba é com o trem que leva insumos e matéria prima para a fábrica de cimento privada da Votorantin, em Rio Branco do Sul, e que não se ajusta, de forma alguma, a normas municipais para regular seu tráfego. Outra questão permanente é a da remoção da linha, prometida há tanto tempo e jamais cumprida.

Balada
O prefeito Rafael Greca pretende colocar em ação o sistema da "Balada Protegida" no clássico Atletiba de domingo. Autoridades policiais, preocupadas com os transbordamentos em termos de violência, chegaram a pedir a alteração da data do jogo Paraná x Atlético Mineiro para que não coincidisse dia 10 com o depoimento de Lula a Sérgio Moro ante a perspectiva de mobilização de massas populares a favor e contra. Será que o comando vai atrás de alvarás na venda de refrigerantes e guloseimas ou quem sabe até a interdição pelos bombeiros do Couto Pereira por falta de segurança? Em futebol não cabe "Balada Protegida" e sim a "Bolada Protegida", que é o cuidado do jogadores da barreira em não levar uma bolada nas partes pudendas e necessariamente protegidas.

Soco no olho
O Detran faz campanha do estilo soco no olho contra bêbados ao volante sendo visitado pela morte, a Parca, nos botecos. Por sinal que isso se integra ao concurso de comida de boteco, em que a cervejinha e até um licorzinho parecem indispensáveis. Evitar a morte pós-boteco é indispensável, daí o alertamento. Por que não sugerir que bebum só saia do botequim em táxi seguro?

Folclore
Quando a companhia Tônia Carrero, Adolfo Celli e Paulo Autran trouxe a tragédia Otelo ao Guairão, o popular Esmaga, Alvino Cruz, ficou excitadíssimo e chegava nos conhecidos dizendo o que ia acontecer: o fofoqueiro Yago esquentaria a cabeça do negro com tanto ciúme que ele mataria a loira Desdêmona. Enchia tanto a paciência do público que pediram o seu afastamento do pequeno auditório. E, lá no fundo, logo depois do desfecho esperado, a carantonha atrás da cortina, sorridente e sem dentes, afirmava "eu não disse?".