Guerra de aparências
E a greve, afinal, foi um sucesso ou acabou vitaminada pelo bloqueio ao transporte coletivo? O fato é que ela ocorreu e tentou configurar um divórcio entre a sociedade e o Parlamento que vem aprovando, ainda que levemente desfiguradas, as reformas trabalhista e da previdência. Nada está claro nem mesmo o trâmite da reforma da previdência ora em meia sola, mas ainda despertando fúria nos adversários. Também não deu empate até porque o momento é mais da reação do que do ativismo reformista e a superação não ficou claramente evidenciada.
Faltou organicidade na disposição do governo estadual contra a greve, tanto que vai haver problema para cumprir a ameaça de cortar o ponto de quem faltou porque o poder público não garantiu o transporte: deu o vale, mas não tinha ônibus. E houve também a postura do Judiciário e Ministério Público que dispensaram seus servidores para que compensem em maio a ausência de ontem. Da mesma forma, não se obteve no Judiciário a garantia da frota mínima solicitada pela Urbs e pelo cartel do transporte.
Em 43% da rede municipal de ensino não houve aula, o que significa que o alerta do prefeito Rafael Greca em torno do dia descontado não funcionou, ou pior, se for para valer vai gerar uma enorme confusão burocrática o que se repetiria em repartições estaduais. Frequência nos restaurantes foi quase zerada por causa da falta de ônibus e metade dos trabalhadores acabou não comparecendo.
O tumulto pela falta de transporte gerou outras consequências: problemas na circulação, isso sem falar nos bloqueios de manifestantes nas estradas e em avenidas como a das Torres em Curitiba. À tarde, não havia mais problemas nas estradas, os piquetes e as barragens foram removidos, permanecendo apenas duas frentes do MST em Laranjeiras do Sul e Barracão .
Para o governo, o impacto da greve geral foi mínimo, conceito adverso ao dos sindicalistas que acreditam no sucesso da parede e a encaram como a maior da história. Enfim, uma guerra de aparências, cujo efeito-demonstração será apurado na votação das reformas.

Fachin isolado
Nas últimas votações no STF, percebeu-se que Edson Fachin não consegue, como relator, repetir a atuação do seu antecessor no colegiado: o viés punitivo, de cobertura integral a Lava Jato, leva a pior. Na questão da acumulação de cargos (saúde e educação) que pode extrapolar o teto constitucional foi voto vencido, o único de onze, como já havia levado a pior na concessão de habeas corpus na sua turma.
O habeas corpus de José Dirceu, que tem tudo para ser aprovado, deve ser pautado para a semana entrante. O que pode reequilibrar as tendências é a nova etapa de denúncias como as de Antonio Palocci e, em especial, a do ex-diretor da Petrobras Renato Duque, tanto uma quanto outra, capazes de incendiar o ambiente.
A dinâmica dos acontecimentos não observa muita lógica, mas o fato é que o momento, talvez pela fadiga do material, favorece a defesa que esteve na pior durante todo o tempo, seja contundência do ataque e também o seu imobilismo e apatia.

O leão
Ontem, precisamente às 23h59min59s terminou o prazo de entrega das declarações do Imposto de Renda e, na capital, às 16 horas já haviam cumprido o dever pelo menos 95% dos contribuintes, um bom nível de adesão, o que evitaria riscos de saturação na rede.

Sabesp e Sanepar
A Sabesp, a maior empresa de saneamento da América Latina, está estudando a viabilidade de entrar na exploração do lixo metropolitano de São Paulo. Aqui a Sanepar, especialmente quando do fracasso do condomínio metropolitano, também pensou na hipótese do negócio já que o prazo de vencimento dos lixões tolerados está para acontecer.

Filho da crise
Tanto o Uber como os congêneres são filhos da crise no mercado de trabalho: no desespero e sem perspectivas gente altamente qualificada, dispensada dos seus postos, aderiu e observa que a questão do retorno é dramática. O Ministério Público do Trabalho deveria estar de olho na atividade por sua falta de garantias sociais aos trabalhadores. De um modo genérico, as ações laborais sem garantias são encaradas como trabalho escravo e uma intervenção preventiva seria tão pedagógica quanto às raras decisões judiciais tomadas a respeito.

Folclore
No jornal "Diário do Paraná", havia um funcionário chamado Monteirinho que era um classificador sensorial pelo hábito que tinha cheirar as páginas internas e dar conceito e classificação. "Hoje está um pouco melhor do que ontem." Até que um dia chegou o seu momento de glória quando o jornal exibiu seu primeiro anúncio perfumado do produto denominado "Dana". Foi um acontecimento, embora a experiência tivesse provocado até dores de cabeça por causa do odor forte (uma danação, segundo um trocadilho corrente), menos justamente para o Monteirinho que era assim chamado para não confundir com o Monteiro de São Paulo, o homem forte do Assis Chateaubriand.