Lava Jato sob ameaça
Integrantes da força-tarefa vieram a público, anteontem, por causa do parecer que Requião iria apresentar na CCJ do Senado sobre abuso de autoridade, sugerindo que a medida decretaria o final da Lava Jato. Ora, pelo volume do material recolhido (e em dinheiro a propina até agora apurada mal chega a 5% do "investido" pela Odebrecht) não há como imaginar um bloqueio nas apurações. É claro que a reação política no projeto, obra de Renan Calheiros, cinco vezes enquadrado, não pode e nem deve ser subestimada. Mas de uma comissão, ainda que relevante como a de Constituição e Justiça, até a ida a plenário há um cronograma de trâmite a possibilitar mediações que não expressem juízo final e deserção.
O pedido de vista brecou o andamento da matéria, mas deu para perceber que no parecer Requião quer interferir no ato de julgar e num momento-chave da avaliação, a exegese, a inteligência dos artigos de lei e a hermenêutica, a sua interpretação como passíveis de caracterizar abuso de autoridade. Seria extremamente ingênuo esperar que os políticos, como classe organizada, como estamento, não reagisse ao cerco a atinge de forma quase genérica.
Quando se acentuava a série de delações, o político paranaense, Gustavo Fruet, embora sempre visto como não integrante da área envolvida, fez um pronunciamento ratificando o conceito de que se "criminalizava" a atividade. E isso foi dito antes de haver a citação do seu nome como beneficiário de doações nas quais era nominado como "Dentuço".
Qual a coação é mais forte: a exercida contra a Lava Jato ou a em andamento contra tanta gente da fauna política? E com um detalhe: não é possível que não haja um diferencial de culpabilidade entre um Eduardo Cunha e alguém como Fruet ou Beto Richa em função do grau de envolvimento. Todos esses matizes precisam ser avaliados antes que se chegue nos 100% da grana colocada pela Odebrecht no propinoduto. Em nenhuma demanda jurídica há vitória prévia de um lado, por mais candente que seja a argumentação em seu favor, e essa distonia dos acusadores indica dúvida, possibilidade de pizza e de ganhos para o lado oposto.

Capivara versus baleia
Há um alarme geral sobre as consequências psicossociais do Baleia Azul, mais em Curitiba do que em qualquer outra parte do Brasil. Surgiu no mesmo meio, as redes sociais, um antídoto chamado "Capivara amarela". Quem sabe a soma de coisas antagônicas nessa dialética cromática gere o verde da esperança. O fato é bem no sentido da diversidade inspirado nas aberturas da internet. Está aí uma autovacina no blogue da ajuda aos que venham a ser seduzidos pela morbidez do desafio à cuca e ao espírito dos jovens.

Palocci alinhado?
No final, ontem, da audiência com o juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci deu a entender, de uma forma sutil, que poderia cooperar, o que não fez ao longo de todo o interrogatório quando afirmou não saber quem é o "italiano" e também que nunca teve relações com empreiteiras que não fossem institucionais. Pelo jeito não terá a rigidez de um Zé Dirceu, obstinado em não abrir o jogo e expondo-se a extremo sofrimento e duras penas, mas não se mostrou disposto a uma cooperação sem mais diálogo. É por essas que o açodamento nervoso da força-tarefa não se justifica. Quem está mais para perder a paciência é o preso e não o acusador especialmente quando já obteve tantos e bons resultados.
Outro detalhe: Palocci adiantou ter informações que dariam mais um ano de trabalhos para o juiz Sérgio Moro e à força-tarefa. O fato de o Ministério Público não ter feito perguntas foi interpretado como um sinal de possível delação do depoente. Hipótese, é claro, como tantas que gravitam no processo.

90% ruim
Não é resultado de uma pesquisa, mas decorrência das ações da AIFO (a frente que reúne Polícia Civil, Militar mais Guarda Municipal e bombeiros na fiscalização de bares e casas noturnas) a constatação de que dos 317 estabelecimentos inspecionados (da questão do alvará a normas contra incêndio e sons extremos) apenas 33 seriam regulares. Isso indica que 90% deles estão irregulares.

Muito preconceito
Um setor de atendimento a vulneráveis foi criado na Delegacia de Homicídios e que em pouco tempo de existência tratou de 13 casos de ações contra negros, moradores de rua, homofobia. Curitiba não tira nota azul nesse boletim e se revela fortemente preconceituosa como se viu no caso recente do casal homoafetivo que contou com a solidariedade de vizinhos e que estaria sob análise dessa área da especializada.

Folclore
Paulo Leminski dizia que a praia de Curitiba é o bar. O último e mais concorrido até imitado e nunca igualado foi o do Pasquale no Passeio Público e que tinha seus dias de glória aos sábados. Com o endurecimento da tal "Balada segura" de Rafael Greca apurou-se que 90% das casas noturnas e bares da capital estão irregulares. É como se a praia tivesse perdido os sinais de balneabilidade.