Dois momentos
A evidência da crise fiscal de Curitiba, por chegar tarde na avaliação do tema, recupera parte substancial do prestígio de Beto Richa pelo ajuste praticado, mesmo com o expoliatório avanço no capital da Paranaprevidência (um saque de praticamente dois bilhões anuais para dar fôlego ao tesouro). Curitiba corre um risco evidentemente menor do que os do Rio, Minas e Rio Grande do Sul, a bomba nuclear do momento, mas carece de intervenção cirúrgica para respirar com racionalidade.
Mas se esse aspecto beneficia nosso governador, já o episódio da operação "Carne Fraca" revela a permeabilidade da corrupção entre estamentos do governo, seja na Receita, visível no desdobramento da "Publicano" ou em mediadores da pasta da educação nos desvios das construções escolares evidenciadas pela "Quadro Negro". É surpreendente o número de unidades agroindustriais nossas envolvidas como a expor a tolerância do setor público à corrupção e sempre praticada por agentes políticos delegados até mesmo pela nossa augusta representação na Câmara Federal e nela carimbados.
Guardadas as proporções, o "modus operandi" dos desvios e dos achaques parece encontrar alguma simetria com o know, aqui agravado com as relações pessoais de intimidade do nosso governador com algumas das lideranças mais agudas das gangues, algo surpreendente para nossos padrões comportamentais. O ajuste fiscal tardio do município da Capital mostra que apesar de erros pontuais do processo na questão previdenciária estadual justifica o "pacotaço" para evitar o caos que atinge a maioria das unidades federativas e ainda nos constrange, mas a forma como se dá a patologia parece assentar-se no mesmo fundamento do liberou geral dos nossos casos autóctones.
Outra melhora sensível foi na intervenção de Beto Richa na designação dos comandantes da Itaipu, verdade que algo também protegido pela fatalidade geográfica e a circunstância, de fora o período de Cesar Cals, termos ali dominado com Ney Braga, Euclides Scalco e por um longo período por Jorge Miguel Samek. Uma espécie de direito de conquista ora reafirmado, mostra o governador como líder em ação e que precisa estar mais presente nas questões nacionais pelo que representa como eleitor máximo da terra. Com todas as suas falhas, tem o perfil avantajado relativamente aos caciques nacionais, o que se torna mais relevante num momento de dramática transição para o país.

Uma tradição
Às vezes perdemos a noção de como os paranaenses, em várias procissões, notadamente o jornalismo, se destacam quando deslocados aos grandes centros. A história da TV brasileira, por exemplo, coloca em destaque a figura do ponta-grossense Túlio de Lemos como tivemos José Augusto Ribeiro em editoriais no Globo e em análises na Venus Platinada e outros tantos como Roberto Mugiatti nas organizações Bloch e Carlos Maranhão na Editora Abril, onde também brilharam o hoje historiador Laurentino Gomes, maringaense, e o palmeirense Hélio Teixeira. Agora a lista se completa com a ida do repórter e editor James Alberti para a equipe de produção do "Fantástico", recentemente premiado com o Esso pela série de reportagens que devassaram a corrupção sistêmica na Assembleia Legislativa do Paraná.
Isso tudo reafirma algo que normalmente negamos: a existência de talento como os que também se consagraram em outras atividades como o teatro de Ary Fontoura, curitibano, e a maringaense Sônia Braga. Muitos desses jornalistas como Hélio Teixeira e o próprio James Alberti e Mauri Konig integraram essa "Folha", orgulho que cultivamos.

Radicalismo
O radicalismo das posições políticas no Brasil é o redutor do momento, capaz de botar um pouco de ideologia até nesse debate sobre o retorno livre da cerveja aos estádios. Para quem se acostuma com torcidas organizadas e cujos membros, aptos em lutas marciais, marcam os espetáculos, com muitos deles drogados, nas cenas de violência que têm gerado, aqui e lá fora, assassinatos só recentemente punidos, apesar de situações como a da torcida corintiana, que com o lançamento de foguete matou um menino na Bolívia, criando um caso diplomático por causa da prisão de dezenas de envolvidos.
Parece que o assunto não é da alçada estadual como não era da municipal e é nesse ponto que o Ministério Público vai agir em ação direta de inconstitucionalidade, se for aprovada. Mais casos de processamento de torcedores criminosos será a melhor saída para a questão que também não é enfrentada com a evasiva da torcida única, tal qual se deu agora em São Paulo.

Folclore
O porto de Paranaguá e seu entorno são mais uma vez postos à prova com a apreensão pela Polícia Rodoviária Federal de 37 toneladas de fertilizantes já na Região Metropolitana. Houve até violação de contêiner, em passado distante, com afano de automóvel apanhado no oeste, isso sem falar nos desvios de resíduos de soja que por isso mesmo eram atribuídos aos pombos que estariam, por esse tipo de versão, com o corpo de um lutador de sumô ou, ao menos, do ex-governador Orlando Pessuti, antes do regime que o emagreceu.