MP, a esperança
Há uma tênue esperança de reversão no caso da tarifa de ônibus extorsiva de Curitiba na intervenção, agora apropriada do Ministério Público estadual: se juntar às indagações de agora, com 15 dias úteis de prazo prestes a exaurir , à Urbs sobre as razões técnicas que o fundamentaram, ao acervo documental que o Gaeco elaborou sobre as empresas em função de uma delação premiada do advogado Sacha Reck, teremos um cenário adequado para aquilo que nunca se fez: a devassa sempre negada do sistema.
Criar-se-ia um clima, guardadas as proporções, de Lava Jato o que não aconteceu até então apesar da CPI dos vereadores, da auditagem e ainda da revogação do aumento pelo Tribunal de Contas. Enquanto o clima de acomodação histórica é promovido pela prefeitura, ainda que isso nada tenha a ver com o encontro de Rafael Greca com Donato Gulin no Country Club, pois se trata de um retorno à paz negociada do passado numa relação pactual de meio século, há essa nova perspectiva - a de finalmente a Esfinge ser decifrada sem que corramos o risco de ser por ela devorados, todos, inclusive a opinião pública.
O Ministério Público fez esse pedido formal no dia 17 do mês passado e até agora o poder municipal se mantém em postura de paisagem na certeza de que breca mais essa ação como se deu com a intentada pelo Tribunal de Contas. Há uma espécie de certeza fundamentalista da prefeitura de que tudo está nos trinques, com forte sustentação jurídica, para dissolver qualquer excesso de cautela em relação ao tema, já que a caixa preta sempre operou sem muita contestação, apesar do chio dos chatos de sempre.

Empresa maior
Não se fez ainda por acaso um estudo acentuado sobre a natureza jurídica da Urbs como empresa pública e em que fundamentos se assenta: está para a municipalidade da capital como a Copel dentre as estatais no governo paranaense. Goza de respeitável autonomia em setores de concessão de serviços, especialmente da mobilidade urbana. Pois apesar disso jamais interveio, por via técnica ou doutrinária, na questão operacional do Uber como se nada tivesse a ver com o assunto, embora de área em que aufere estipêndios régios como os que pingam dos taxistas e mais a taxa de gerenciamento de 4% do sistema de transporte que o Tribunal de Contas buscou extinguir para baixar as tarifas. Teve, é claro, a missão de guinchar esses operadores "clandestinos" ora bloqueada no caso de mais de vinte deles que obtiveram liminar para atuar livremente.
Em todas as discussões básicas sobre o sistema como o questionamento origem-destino dos passageiros, embora com todos os dados à mão, obviamente dependeu como sempre de pesquisa alheia e que provocou a ruptura da integração metropolitana, ainda que tenha quadros de engenharia de sistema para uma interpretação adequada. Quando se fala em devassa no sistema de transporte ela incorporaria, necessariamente, uma avaliação técnica sobre a Urbs e sua capacitação na área em que, há tantos anos, atua.

Audiência
O empresário Marcelo, ex-presidente da Odebrecht, prestou testemunho ontem na sede do Tribunal Regional Eleitoral no processo que investiga fatos ligados à chapa vencedora do pleito nacional, Dilma Rousseff-Michel Temer, evento que observa indispensável sigilo. Delações dele já feitas na Justiça Federal, podem ter relação direta com o financiamento da campanha. Ainda recentemente se falou muito no pacote enviado pelo ministro Padilha ao escritório do amigo de Temer, o advogado Yunes, que declarou à revista Veja ter sido mula na transação e que teria acabado nas mãos do lobista superenvolvido, o Funaro.

Rejeição
Michel Temer, apesar do mau ibope, conseguia tudo em termos de maioria nas duas casas do Congresso desde os feitos do teto dos gastos como a da Medida Provisória que alterou o Ensino Médio. Pois a principal das reformas, a da Previdência, está ameaçada na Comissão Especial da Câmara Baixa que a examina e que rejeita pilares básicos de sua estruturação. Quando a Lava Jato lhe dá algum descanso, eis que pinta algo na base aliada e essa é, de fato, uma preocupação de primeira ordem. A maioria, disposta a emendar o projeto, discorda em especial de um dos fundamentos básicos: a idade mínima de 65 anos.

Folclore
O que aconteceu com a escola de samba paulista, "Nenê de Vila Matilde´, ao homenagear Curitiba e que acabou caindo para o segundo grupo já havia se dado em relação ao Paraná em 1982 com a Império da Tijuca no Rio de Janeiro que colocou em destaque o pinheiro, a gralha azul e o nosso folclore e acabou rebaixada. Políticos em maioria torcem para que essa urucubaca prevaleça na Lava Jato, também um cenário da terra com alguma semelhança carnavalesca, tantas as máscaras e os fetiches, mas profundamente séria e capaz de significar, como no passado, em 1894, uma encruzilhada como a havida no Cerco da Lapa na guerra civil mais abrangente da história brasileira. Esse é um divisor de civilidade.