Luzes no meio do túnel
A devassa na corrupção brasileira, comandada pela força-tarefa de Curitiba, sempre esteve sob ameaça, a despeito do volume probatório de denúncias elencadas. Como a maior parte dos clientes propineiros é de políticos, todos protegidos pela alegação de que sempre foi assim e que a praxe tem um jeitinho de direito adquirido, viam essas investigações como a criminalização da política e até pessoas não enroladas, como o ex-prefeito Gustavo Fruet, se alinharam nesse conceito como se o vale tudo de fazer campanha com dinheiro público fosse mais do que tolerável e até necessário.
A cada momento havia uma bandeira dos insurretos para fulminar as ações judiciais e uma das mais repetidas foi a da "presunção de inocência", uma espécie de abracadabra e com ares sacramentais, ante provas esmagadoras que ratificavam delações premiadas, lei recente e que punha abaixo o poder demiúrgico dos criminalistas, inclusive o maior deles, apodado de "Deus" pelos colegas, Marcio Thomaz Bastos,que dançou no mensalão, e iria se dar mal certamente na agudeza do petrolão. No trato do público-privado no Brasil, dá para firmar o axioma que sempre aí, pelo que a história mostra, há presunção de culpa, jamais de inocência.
Com as revelações dos executivos da Odebrecht ver-se-á que a capilaridade da corrupção pega outras instituições públicas e chega às unidades federativas e aos municípios, retrato de um país engolfado pela sordidez. Mesmo levando em conta que possam ser reduzidos alguns dos rituais da Lava Jato, como o das prisões prolongadas que resposta se dará a tanto crime, mais do que comprovado, e como atenuá-los sob a vigilância permanente da sociedade até aqui perplexa, porém confiante num sinal de restauração?
O bom é que o ritmo da Lava Jato segue com a prisão ontem em Miami dos lobistas, pai e filho, Jorge e Bruno Luz, ligados ao PMDB, e que movimentou US$ 40 milhões em propina em favor do ex-presidente do Senado Renan Calheiros, o senador Jader Barbalho e Silas Randeau, ex-ministro de Minas e Energia. Como se vê mais luz, muita luz, luzes, no meio do túnel.

Vila Matilde aqui
Como recíproca da homenagem que a escola de samba ´´Nenê da Vila Matilde´´ fez em favor de Curitiba, o prefeito Rafael Greca trará os carnavalescos para exibição na Capítal no aniversário da cidade em 29 de março. Será que ate lá festear não tirará recursos da saúde como se alegou para adiar a Oficina de Música? Pelo menos o mutirão médico estará em pleno andamento até aquela data. .

Pressão
Inimaginável, para dizer o mínimo, seria que o pretendido por 32 dos 38 vereadores curitibanos que suas emendas sejam ´´impositivas´´, isso é obrigatórias, fosse adotado pelos deputados. Em primeiro lugar, seria inadmissível pela compulsiva submissão da base aliada que aliás botaria em risco todo o esforço fiscal que não consegue deter os gastos e teria nas emendas algo como uma bomba de neutron no sistema.
O município da capital também está numa pior, como seu prefeito tem seguidamente alertado e pensa até em imitar Beto Richa e cancelar aumento a barnabés. Essa jogada suburbana leva jeito de pressão, chantagem e, por isso, deve ser rejeitada. Se emendas observassem uma lógica e não fossem dispersas vá lá, mas teriam o dom de botar mais irracionalidade no orçamento.

Mutirão
Estamos nos tempos de mutirão: ora o de fiscalizar bares e bistrôs e ver se contam com alvarás e respeitem as leis do silêncio, ora de lavar o calçadão e agora um que visa retirar propaganda irregular de postes e muros. Entre os mais comuns da cidade estão os que anunciam como recuperar amante perdido na consulta ao tarô. De qualquer forma, é mais barato e às vezes tão eficaz quanto à ida no analista. É que a maioria das pessoas só quer uma coisa: atenção e um pouco de carinho. Por isso que políticos e pastores sobrevivem .

Bom momento
A nomeação de mais um paranaense no Ministério, Osmar Serraglio, na Justiça, impõe ao nosso governador maior envolvimento na política nacional não só pela expressão de nossa economia como ainda em função da condição especial dele, Beto Richa, como um dos mais fortes cabos eleitorais (duas vezes eleito prefeito da capital e governador) do PSDB. Não se justifica ficar agindo só no plano regional, embora seu desejo de eleger-se senador. Sua ligação com o ministro Ricardo Barros, da Saúde, com o qual tem tanta afinidade revelada em ações comuns, é fortalecida também pela posição hostil que Serraglio mantém contra o PMDB de Requião, seu adversário mais permanente.

Folclore
O mais retórico dos jornalistas da Gazeta do Povo, anos 40 a 60, era Dicesar Plaisant, cujo filho do mesmo nome, atuava na imprensa de Londrina. Dicesar era o mestre gramatical, o orador. Um dia fizeram uma perfídia com ele: pediram uma nota social a um casal que comemorava bodas de ouro em Santa Felicidade: chamavam-se Romeu e Julieta com sobrenomes trocados de Capuleto e Montecchio e o jornalista com seu texto parnasiano falou do exemplo de luta e amor daquele casal cercado pelos filhos, netos e amigos. Certamente, a festa encheria o Madalosso, segundo ou terceiro do mundo. A turma de debochados vibrava com a nota social que não foi publicada, mas ficou na história do nosso jornalismo boêmio no rol das safadezas comuns que uns faziam com os outros em meio aos afazeres da redação.