Pode mudar? Pode
A decisão da turma do STF que entrega o caso dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, mais o ex-presidente José Sarney, este por não deter foro privilegiado, ao colegiado da Corte e distanciá-lo da primeira instância de Curitiba, marca o primeiro revés do ministro-relator Edson Fachin e sinaliza como possível o que foi sugerido por Gilmar Mendes no enfrentamento das prisões temporárias da Lava Jato. Se isso for aditado à circunstância de que o governo pode mudar, especialmente com a designação de Alexandre Moraes, a correlação de forças interna em seu favor, o que se percebe em várias arregimentações e ainda na prioridade que se tenta conceder a medidas que tirem o país do atoleiro recessivo, o que soa pragmático demais para um momento em que é exposta a corrupção sistêmica que alcança o país e seus políticos em escala nunca imaginada, isso tudo faz aflorar a pior das hipóteses, o triunfo da impunidade num imaginário ou comprovado abuso das pressões acusatórias.
Tecnicalidades como as que estabeleceram a conexão entre o caso do ex-presidente com o dos senadores com foro privilegiado, e que determinaram a decisão por quatro votos a um na 2ª turma, podem, lá na frente, apontar para uma reversão nos entendimentos, o que se constituiria num bom momento para os denunciados e, por extensão, à massa da base aliada com crise neurovegetativa em função das delações e provas documentais até aqui ainda não conhecidas em sua abrangência e profundidade.
Pode mudar? Pode e com argumentos bem fundamentados como o do partilhamento da Lava Jato, decidida há tanto tempo e vista como possível derrota do juiz Sérgio Moro, tal a forma emocional como o público acompanha os eventos e com uma perspectiva que lembra em tudo o comportamento imediatista das torcidas de futebol. O que convenhamos, ainda que compreensível no caso específico do Brasil, não é o desejável, em termos de racionalidade na configuração dos atos judiciais, nem sempre tão claros como se viu no recuo quanto à interdição de Renan Calheiros no comando da Câmara Alta e na decisão surpreendente que livrou Dilma Rousseff da pena acessória da perda de direitos políticos.

Ontológico
Nada mais ontológico do que o "zombie walk" no Carnaval curitibano. Quem decidiu por sua realização é, antes de tudo, um entendido em essências e epistemologia. É a cara do nosso Carnaval, o desfile de mortos vivos e a postura de estátua do público nas arquibancadas, a galera catatônica.

Paraná surfa
A indicação do deputado federal Osmar Serraglio para a pasta da Justiça precedido, em especulações pelo nome da procuradora de Justiça Maria Tereza Uille Gomes, sugere um bom momento de pessoas da terra. Serraglio teve comportamento exemplar na CPI do mensalão, Maria Teresa é integrante do Conselho Nacional de Justiça e foi secretária de Justiça e presidente da Associação dos Procuradores.

Bloqueio
O Tribunal de Contas da União, que intenta um pente fino na Universidade Federal do Paraná, em função do chuncho descoberto na área de pós-graduação, decidiu bloquear os bens de nove servidores envolvidos.

Expectativa
É animadora a expectativa de negócios no carnaval litorâneo: Guaratuba, uma vez mais, operará como barragem à evasão dos nossos banhistas para Santa Catarina e na Ilha do Mel, única praia de Paranaguá depois das municipalizações de Matinhos e Pontal, estima-se que haverá um gasto per capita de R$ 4.500 pelo público limitado a 5 mil pessoas que a ocupará por todos esses dias. Guaratubanda e Caiobanda garantem animação na orla com seus trios elétricos.

Ufanismo
Morretes inova em seu Carnaval homenageando suas figuras de artistas e historiadores apresentados em bonecos gigantes como os de Olinda: de Rocha Pombo a Lang de Morretes, de Mirtilo Trombini a artistas populares serão cultuados. Morretes é seguramente a cidade litorânea que melhor se preservou em seu casario e ambiente, daí o significado profundo dessa exaltação.

Folclore
Há figuras fortes no histórico morreteano dentre elas a do repentista Bento Cego, cuja obra foi reconstituída, ainda que essencialmente oralizada, e a do Marciano, que era uma versão do Barão de Munchausen e que adaptava toponomicamente as histórias universais do mitomaníaco europeu à nossa geografia. Uma dele é genial: foi caçar nas áreas do Rio Caraguaçu e, de repente, se viu sem munição ante à enorme capivara. Pegou uns coquinhos de juruvá com se fosse chumbinho perdigoto e atingiu o animal. Cinco anos mais tarde foi à caça no mesmo lugar e, de repente, como se uma verdadeira manada de elefantes saísse da mata, remexendo com as árvores, ficou deslumbrado com a majestade da capivara com uma árvore às costas já com coquinhos de juruvá em produção.