Céu de brigadeiro
Aparentemente até circunstâncias da economia favorecem o governo Michel Temer no seu enfrentamento aberto com a Lava Jato e um deles está na baixa da inflação e de o risco de calote e dólar recuarem ao nível pré-crise. Mas não combinaram nada quer com os russos ou com o povo, pois a pesquisa de opinião mostra o presidente em aguda baixa com 62,4% de rejeição.
Na intimidade da "bolha de plástico" em que vivem tudo é motivo de comemoração e Michel Temer pretende agora colocar um ex-ministro do STF Carlos Veloso na Justiça, o que soa como ato de distanciamento, face às formulações anteriores, e marca pontos. Medidas até aqui cogitadas como a das contas inativas do Fundo de Garantia, a despeito da marola que vem provocando no público, não implicará em aquecimento significativo da economia, dada a sua dispersão entre alguns milhões de beneficiários, a maioria deles atolados em dívidas que aparentam uma óbvia prioridade. E como resposta do outro lado, tivemos os 8 a 1 no STF contra o habeas corpus de Eduardo Cunha que permanece preso e novas incursões da Polícia Federal contra gente e familiares da base aliada.
Essa vai ser a nossa rotina daqui para a frente: a cada novo espaço pró-infratores, o repique das diligências da força-tarefa da República de Curitiba. O céu é de brigadeiro, como dizem os aviadores, porém o inferno e o purgatório crepitam.

Solidário
O pleno do Tribunal de Contas deu apoio total ao conselheiro Ivan Bonilha ao ratificar o seu parecer técnico-jurídico pela redução imediata das tarifas de ônibus aumentadas em escala inaceitável na capital. Trata-se de um posicionamento doutrinário pelas prerrogativas da instituição e até o seu alargamento em condições excepcionais. O prefeito Rafael Greca tentou matar o assunto no nascedouro com visita a gabinetes de conselheiros, agora irá fazer o mesmo, pois isso faz parte do estilo, no Tribunal de Justiça, onde buscará segurança para manter as tarifas em nome da sustentabilidade do sistema, ao que dá acento teatral.
A última intervenção do TC no tema foi a surpreendente auditagem, e com proposta de baixa de custos das tarifas e se pediu, por exemplo, a supressão dos 4% de taxa gerencial da Urbs é porque conhece bem as entranhas da maior empresa pública municipal, tantas foram as glosas nas suas prestações de contas, inclusive no atrito com os radares que explorava de forma irregular nomeando, por atos de credenciação, fiscais de trânsito que para exercerem o poder de polícia careciam de ´´fé pública´´ que se obtém em concurso. Sobre o tema, há um parecer do próprio Bonilha, quando assessorava Nestor Baptista, que fulmina tais abusos. Se isso fosse aceito, as multas poderiam ser anuladas e teríamos o caos na burocracia.

Estatística
Tentou o ex-reitor da Federal Zaki Akel alegar que os R$ 7,4 milhões desviados da Universidade no programa de bolsas é estatisticamente insignificante quando houve no setor movimento de R$ 725 milhões. O argumento minimalista também não clareia como a Universidade chegou tão atrasada no assunto depois de circular em outras instâncias e o próprio Tribunal de Contas da União. O novo reitor, Ricardo Marcelo Fonseca, mostrou que a rede de sensoreamento da UFPR falhou exibindo a cronologia dos eventos e afirmou que fará o máximo para recuperar os recursos desviados.

Testemunha
Paulo Ricardo Costa, aquele das delações da Petrobras, alegando que não tem recursos para viajar a Curitiba como testemunha de acusação contra Sérgio Cabral em audiência de 9 de março quer que ela se processe por videoconferência. Como se vê, o estrago financeiro da Lava Jato foi bem além do ex-bilionário Eike Batista.

Mandado de Segurança
A Procuradoria Municipal de Curitiba entrou com mandado de segurança no Tribunal de Justiça para assegurar a tarifa de R$ 4,25 e desconsiderar por inepta a intervenção do Tribunal de Contas na pendência. Mas a favor da população outra providência do Ministério Público que deu 15 dias ao município para clarear como funciona o obscuro Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC), peça importante de todo o sistema. Novamente, como se dava em passado recente, a cidade é feita refém do pacto público-privado do transporte coletivo. Nem todo ´´Volta Curitiba´´ é tolerável, como se percebe.

Folclore
De histórias de racismo, uma das mais curiosas é do meia Robson, do Fluminense, que dizia com a maior clareza: "Eu já fui negro e sei quanto isso é duro". Negro, aí, é o da escala econômica, o pobre, por sinal que esse tipo de classificação não fica bem num time pó de arroz como o Flu. Por sinal que devemos ao futebol boa parte da derrubada de muros sociais: Coritiba e Atlético não aceitavam jogadores negros em passado remoto e o que mais os abrigava era o Paraná, isso nos tempos do Ferroviário. Lembro da linha intermediária Baiano, Ferreira e Janguinho, os dois últimos campeões pelo Santos em 1935, todos irmãos.