Reféns do cartão
Dentre as medidas, bastante dispersas, que o governo Temer anuncia está a da redução dos juros do cartão de crédito em meio a um programa disperso, no qual se incluem as contas inativas do FGTS para botar cerca de R$ 40 bi no mercado. Não é a bala de prata, enunciada por Fernando Collor para matar o lobisomem da inflação com um só tiro, bolado pela ministra Zélia, com o congelamento da poupança e de outros ativos financeiros, mas se qualquer uma das medidas emplacar, dentre elas a dos juros extorsivos da moeda de plástico, serão surpreendentes seus efeitos.
Para ilustrar, basta lembrar que recente pesquisa da Fecomércio apurou que são das classes A e B de Curitiba, em torno de 94%, o acervo das famílias endividadas atreladas justamente ao cartão, do qual são reféns, no parcelamento infinito. Até mesmo uma suavizada nessa carga já credenciaria como criativa a intervenção do governo ora condenado à inércia, a despeito da veemência do discurso e da proposta reformista, o futuro imediato e salvacionista do Brasil.
A vantagem dessas proclamadas reformas que, ao contrário das "básicas" de João Goulart, não atiçam o conflito de classes e nada têm de revolucionárias e que levaram as rezadeiras às ruas do Brasil aos milhões como sinal de resistência e que serviu para a intervenção militar em 1964. Essas que, naturalmente, implicam em possíveis perdas de direitos sociais na legislação trabalhista e previdenciária, tal como se viu nas manifestações de ontem e que se prolongarão no mês, inclusive com uma greve no dia 15, tentarão definir-se na prática do tiro com chumbo perdigoto, enquanto se providencia, essa sim a preocupação estratégica, a blindagem da classe política em seu atrito judicial. Antes de salvar o Brasil, preservar a fauna e salvar-se, eis a clara prioridade.

O aneurisma
O cuidado com os problemas de saúde dos presos da Lava Jato é extremo, e isso não só por causa da tutela estatal dessas pessoas, mas ainda pelos riscos a que está sujeito todo o processo na hipótese de um infortúnio. Ante a proclamada afirmação de Eduardo Cunha de que era portador da mesma patologia que matou a ex-primeira dama Marisa Letícia, tomaram as autoridades a cautela de proceder o exame no paciente que se recusou a fazê-lo.
Percebe-se, com isso, que a manobra do ex-presidente da Câmara Federal visou, antes de tudo, uma provocação que entra no rol de rabulices extremas, como a dos advogados que entram em choque aberto com o juiz Sérgio Moro, que soam conflitantes, com a suposta aura acadêmica dos autores para desestabilizá-lo e, com isso, gerar uma visão de parcialidade e perseguição de traço pessoal.
No momento mais delicado da Lava Jato, quem está na ofensiva é o governo e, de repente, opera em seu favor um atrito como esse. Aconselha-se maior concentração, menos exibicionismo para evitar tiro no pé ou gol contra. As coisas devem ser mais objetivas e consistentes como o pedido da Procuradoria Geral da República de investigação contra os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney.

13º e terço de férias
Está prejudicada a instrução do Tribunal de Contas do Estado que proibia prefeitos e vices de receberem o décimo terceiro e o terço do adiantamento de férias em função de entendimento em contrário do Supremo Tribunal Federal. Cioso dos fundamentos técnicos da instrução que baixara, levaram ao cálculo de que tal implicaria num dispêndio da ordem de R$ 41 milhões anuais, nada desprezível para um quadro recessivo.
Se não houver uma cultura de austeridade no país, imposta até pelas circunstâncias em função da crise e do único meio de superá-la, iremos mal como estamos vendo na dureza das negociações entre a União, o Judiciário e o Rio de Janeiro.

Menos ruído
Todos esperavam que o engajamento dos professores em torno de suas causas, como a da hora-atividade, implicasse em presença constante no Legislativo, mas tal não se deu. E isso não se deve à derrubada pelo Tribunal de Justiça da liminar de primeiro grau que os favorecia. Mas a mobilização persiste e, tanto que, no próximo dia 15 haverá greve geral, essa nacional da categoria, pelo direito à aposentadoria digna. Amanhã, em Maringá, uma reunião extraordinária do Conselho Estadual examinará a hipótese da greve como alternativa para a conjuntura ora enfrentada com perdas significativas de direitos.

Folclore
Saque do cartunista Solda em cima do aumento dos ônibus: Rafael Greca, Pretérito Imperfeito.