Um susto previsto
Mais grave do que o caos fiscal das unidades federativas é a situação previdenciária de cada uma delas, uma anomalia de difícil reversão. Há muito tempo o governo estadual se refere a um capital superior a R$ 7 bilhões, mas desde 2015 a ParanaPrevidência sofre um saque de R$ 150 milhões mensais ou R$ 1,8 bi anuais sem falar no empréstimo de R$ 640 milhões que o Executivo paga em 70 prestações a um juro anual de 5,5%. Esse arresto se refere à cobertura de 33 mil aposentados até então remunerados pelo Tesouro.
Sindicatos entraram com mandado de segurança até hoje não julgado no STF, ainda que conte com o parecer favorável ao governo por parte da Procuradoria Geral da República. Durante as duas gestões de Roberto Requião mais a primeira de Beto Richa o governo não pagou a parte patronal que lhe cabia, o que agravou o processo de descapitalização do fundo de pensão, cujo horizonte atuarial de 70 anos caiu para pouco mais de 10.
Governos empurram com a barriga essa questão e na hora em que houver o estouro teremos, em vários pontos, a repetição do que se dá com aquelas três unidades sob calamidade e que se constituem num dos pontos de estrangulamento da economia, como se vê nas prolongadas e duras negociações na busca de uma saída para o Rio de Janeiro. O histórico previdenciário do Paraná alcança a sua modernidade com Jaime Lerner que conseguiu, com a binacional de Itaipu, os recursos mais densos decorrentes da recepção de royalties na gestão de Euclides Scalco e antes disso houve o malogrado Instituto de Previdência do Estado (IPE), que pelo menos oferecia assistência médica de bom nível, hoje inexistente e pessimamente mal resolvida. Também o governo se esquivou das suas responsabilidades, ao tempo do IPE, quanto ao suprimento da contribuição patronal sem a qual o sistema se inviabiliza. Por isso mesmo é que se olha o caso previdenciário como uma bomba-relógio e como se vê nem a presença de um Reinhold Stephanes como secretário na área, ele que já foi ministro da pasta e perdeu por um voto a questão da idade mínima, anos passados, garantiu cautela no fluxo de lua de mel que empolgava o governo em suas prodigalidades.
Estão lançando sal na lesma e dentro em pouco ela se dissolve.

Bomba nuclear
O que é mais forte: os alegados R$ 1,2 bi do furo fiscal herdado por Rafael Greca ou os R$ 4,25 da tarifa de ônibus que vigora a partir da próxima segunda-feira e alcançará a quase totalidade da população, descontados os privilegiados com o vale transporte. Alega-se que se trata do mínimo indispensável para restabelecer o equilíbrio dos contratos de permissão e que isso possibilitará novas estações de embarque e desembarque e gradual renovação da frota hoje praticamente sucateada.
Como não há detalhamento do encontro de cálculos, se é que a Urbs apresentou algum de porte significativo, teme-se a volta do pior: a caixa preta sempre questionada e jamais clareada só faltando a criação do grupo Pró-Cidade na Câmara Municipal capaz inclusive de eleger, ao menos por duas vezes, o presidente da Casa em comum acordo com o cartel. Nem tudo, pois do ´´Volta, Curitiba´´ é positivo. Pelo jeito engoliu a tarifa técnica de R$ 4,57.
Na questão do aumento, um detalhe relevante: não haverá mais a domingueira, criada por Beto Richa, a tarifa especial e subsidiada, que estimulava a mobilidade interbairros, talvez até sinalizando aquela acusação de parte do empresariado que foi o governador, quando prefeito, que desequilibrou os contratos, primeiro negando reajuste quando vice de Cassio Taniguchi e depois congelando as passagens por mais de cinco anos.

Vulnerável
Todo o mundo saudou a passagem do Depen da Justiça para a Segurança como garantia de maior proteção ao sistema, enfatizando mais a repressão do que a proclamada e nobre ressocialização dos detentos. Pois bem funcionário de carreira lotado como chefe de Segurança Externa teria desviado nada menos de 22 armas que haviam sido doadas para o setor pela Delegacia de Explosivos. Se até nisso há vulnerabilidade, imagine-se no resto e, especialmente, na vigilância de presos divididos em facções superorganizadas diante do governo pasmo e impotente.

Folclore
A prisão de colombianos, que se esconderam num caminhão para vir de Ponta Grossa a Curitiba ao jogo do Milionários contra o Atlético Paranaense, fez lembrar um hábito comum que era o ataque de piratas nos caminhões que levavam café ao porto de Paranaguá pela Estrada do Cerne, cheia de rampas que facilitavam esse tipo de atuação: o "artista" saltava na carroceria, rasgava o encerado que protegia a carga e passava a lançar as sacas na rodovia que depois cuidava de recolher. Nos anos 50, quando Paranaguá superou Santos como maior porto cafeeiro do mundo, caminhões de pequeno porte aos milhares vinham pelo Cerne e entravam na Graciosa rumo ao terminal. Para se defenderem, os caminhoneiros passaram a usar cães policiais na guarda da carga preciosa.