Delações ratificadas
Para uns, soa como o juízo final; para a maioria, como apenas o juízo. Afinal, a decisão da presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, homologando as delações premiadas da Odebrecht que tanto suspense haviam provocado. Claramente, é uma decisão que atinge o governo, maior interessado em adiamentos, em ganhar tempo, sob a suposta hipótese de com isso dar andamento às reformas e recolocar o País na rota do desenvolvimento, o que se torna um tanto quanto impossível com a atmosfera de suspeita que alcança ministros e até o próprio presidente Michel Temer.
Não é pacífico mesmo na intimidade do Supremo Tribunal Federal, ainda que tal pudesse se dar já com Teori Zavascki, tal o ritmo que vinha imprimindo à relatoria, o entendimento de que se trata da melhor solução, posto que seria incontestado se não houvesse o acidente aéreo e o ministro aí estivesse para sustentar a tese ora adotada. Há quem entenda, inclusive, que o ato da ministra Carmen Lúcia é, antes de tudo, homenagem às ações e à linearidade de estilo do relator, sem o qual, como disse Sérgio Moro, a Lava Jato não sobreviveria.
Isso se dá simultaneamente com a prisão de Eike Batista, o que dá a esse episódio um sentido de filme do agente 007 com tudo o que tem de cosmopolita e de modernidade que soa em sentido contrário à nossa vocação para a opereta bufa, o acerto, a sacanagem. As possíveis vítimas dessa nova etapa do processo não ficarão perplexas, como sabemos, e atuarão em todos os fronts imagináveis, do político ao judicial, para alcançar aquilo que sempre visaram, uma forma, sutil ou escancarada, de "melar" a Lava Jato.

Invasões esperadas
Professores olham essa etapa de suas divergências com o governo estadual de "aquecimento" para a arregimentação maior: por enquanto fingem, como sempre, aceitar a linha judicial, mas não abrem mão de estocadas como a do cerco às inspetorias regionais no impedimento à livre circulação dos seus funcionários. O governo, que aceita o transtorno nessa via, recomendou a elaboração de boletins de ocorrência para instruir na Procuradoria Geral do Estado as ações respectivas de despejo incontinenti dos invasores.
Objetivo da arregimentação é claro: embora o assunto não seja de abrangência geral, ele é tratado como se alcançasse toda a categoria com possível supressão de vagas, o que é de interesse corporativo pela manutenção do quadro social, uma etapa diferenciada, mas parecida com a que tratou do ensalamento e com possível fechamento de unidades ociosas, também preocupada com baixa de custos operacionais para evitar que se repita aqui o que sem dá em termos fiscais no Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul .
Visa-se com tudo isso acumulação de energia para o embate mais sério a ser traduzido pela greve e o compromisso assumido pelo governo, nas palavras de Valdir Rossoni, o homem forte da Casa Civil, na adoção pela primeira vez do não pagamento dos dias parados, algo para o que não estão preparados nenhuma das partes por seu caráter insólito e hoje despojado daquela elasticidade que permitia negociações infinitas. A opção reduzida é essa: ou essas medidas já ou o mergulho no insondável de possíveis parcelamentos salariais como ameaça.

A bomba
Rafael Greca demorou para revelar a bomba da herança fiscal e fala em atrasos de repasses à saúde, igualmente com fornecedores e terceirizados com a coleta do lixo, despesas subiram em 70% e a receita em apenas 28% (muito parecido com o caso de Beto Richa, protetor) e ainda o furo do fundo de pensão (no qual também há participação do governador ao autorizar aportes maiores dos servidores para o fim de equilíbrio atuarial do IPMC em 2008). Resumindo, o furo seria de R$ 1,2 bi. Ontem mesmo Gustavo Fruet replicou pelos meios sociais.

Ouvir menos
Um vereador, com o propósito de estabelecer isonomia entre os seus salários e o do Ouvidor da Câmara de Curitiba, quer baixá-lo de R$ 17.767 para R$ 15.156. Se o salário é por ouvir, certamente poderá ouvir menos.

Excesso
Depois das delações da Odebrecht, se vierem outras como as de Eike Batista e de Eduardo Cunha o resultado pode não ser didático ou ter a linearidade até aqui observada e gerando um quadro de tumulto nas escutas, o fenômeno das linhas cruzadas

Folclore
Versão inicial era a de que Fruet recebeu o governo com um furo de R$ 700 milhões e que teria deixado um de R$ 400 milhões. Pois, agora, Rafael Greca afirma que seria de R$ 1,2 bi em cima de represamentos de repasses de saúde com atrasos trimestrais, de prestadores de serviços como os do Instituto Curitiba de Informática e da coleta do lixo e também no saque em mais de R$ 200 milhões do fundo de pensão municipal. O debate vai ser pela internet que tem uma vantagem: pode até ser sujo, mas sempre menos de quando se dava nas pichações de muro que lembravam paredes de privada de rodoviária.