Uma crise programada
Acreditando que estava em ofensiva ao submeter o funcionalismo estadual à opção de receber atrasados das promoções e progressões com sacrifício do reajuste, que afetava a maioria, o governo estadual mostrou-se folgado demais ao impor durezas ao professorado no que concerne à hora-atividade e também ao direito de licença médica, sem complicações. Fez isso em momento inercial fora das aulas e, por mais justificadas que fossem as medidas no sentido da economia do erário, elas agrediam o que a APP considera inegociável: qualquer hipótese de menos direitos.
Tinha tudo, como coloquei em comentário, de provocação aberta após a celebração precipitada de uma vitória em cima do setor mais organizado do funcionalismo e, é claro, com o background da crise fiscal de unidades federativas mais importantes que o Paraná como Rio, Minas e Rio Grande do Sul, potências superiores em renda interna. Claro que os dados tinham objetivo de arrefecer demandas, enfim, conter e inibir. Era previsível, até pelos recados das lideranças à época da notícia das intenções oficiais, que a reação viria, ainda que num tempo mais adequado, o que precede o início das aulas.
E o estilo de sempre, duro e selvagem, se exibiu na ocupação (aceitemos o eufemismo com seu filtro ideológico) das instalações da Secretaria de Educação por cerca de 200 militantes da causa irrenunciável, em que nossos professores têm PHD que tanto lhes falta na missão maior de sua profissão, sempre com os boletins vermelhos das avaliações nacionais como o Enem e outras de cunho internacional. Baixaram um édito, sem conversações prévias, e agora vão ter que negociar naquele ritualzinho de sempre em que a sociedade perde mais que o governo.

O feito
Quando impôs o sacrifício do ajuste fiscal, desenvolvido em várias etapas, o governo estadual, como é do estilo, anunciou um investimento orçamentário inatingível para dourar a pílula e agora se percebe que despendeu de recursos diretos do Tesouro no exercício R$ 1,73 bilhão, o equivalente, imaginem, se não for menor, a uma folha de pagamento dos barnabés. E isso tem outros ingredientes já que a ParanaPrevidência é tosquiada em R$ 1,8 bi ao ano, mais, portanto, do que o suposto ganho aludido para reduzir encargos do Tesouro no pagamento de 33 mil aposentados. É pedalada para ninguém botar defeito, mais talentosas e sutis do que as sempre atribuídas à presidente cassada.

Scaps
Nas redes sociais, a reprodução de dados do Portal da Transparência atribuindo a Beto Richa num mês, deve ser dezembro, com décimo terceiro, R$ 67.526, Fernanda Richa R$ 55.145 e Cida Borghetti R$ 64 mil. Esse tipo de registro é igual à "matemágica" de garçom de boate que tasca na nota a placa do carro, a soma dos anos vividos e, é claro, a despesa.

Volta
Depois de dois meses, voltou ontem a funcionar o Pronto-Socorro do Hospital Evangélico. Foi pesado o ônus disso tudo para o sistema de saúde que nele tem uma das principais unidades depois do Hospital de Clínicas. O furo financeiro do hospital é da ordem de R$ 350 milhões.

Inflação dobrada
Motoristas e cobradores já fixaram sua pretensão para o contrato coletivo de trabalho com as empresas da capital e Região Metropolitana: querem 15% possivelmente com a visão de que será preciso baixar a bola. O cartel dá a resposta na semana entrante. É o primeiro teste de Rafael Greca para valer. Em São Paulo, a bilhetagem automática pode suprimir cobradores e aqui os sindicalistas levantam a bandeira da dupla função até para impedir que isso se faça nos micro-ônibus, batalha que perderam para o bem da cidade e a sustentação da tarifa.

Urbs
Além de ameaçada de perder poder com a anunciada agência de regulação do transporte, a Urbs está numa pior: não pagou seus 1.500 trabalhadores, mas as circunstâncias não favorecem a hipótese de greve. Como diz aquele adágio, quem tem CUT também tem medo.

Promessa
Valdir Rossoni, da Casa Civil, assegura que se houver greve de professores haverá desconto imediato dos dias parados. Obrigação de governo não é sacrifício, no sentido da provação, mas retorno ao sentido original da palavra "sagrado ofício", que aliás tem renunciado ao longo de tantos anos e de sucessivos reajustes que, às vezes, só rendem prepotência e soberba.

Folclore
Houve uma época em que o setor de comunicação social da Secretaria de Saúde usava o código médico IRA (Insuficiência Respiratória Aguda) para referir-se à patologia sem decliná-la na totalidade. O pior é que isso se dava num tempo em que IRA em caixa alta era uma referência ao Exército Republicano Irlandês. E ainda havia a beleza de Ira de Furstenberg.