Poder e ginástica
Enquanto novos prefeitos, em seus primeiros momentos, recorrem a factoides para mostrar atividade, aquele que realmente tem poder, o presidente Donald Trump, nos Esteites, deita e rola e, por decreto, tira o país do maior acordo comercial, a Parceria Transpacífico, ao mesmo tempo em que se vale disso para subjugar os consócios do Nafta, México e Canadá, para admitir que só permanece se não sofrer prejuízos. É o tom hegemônico em ação.
Torna-se triste e bizarro ver o prefeito João Dória, burgomestre de uma das maiores cidades do mundo, São Paulo, a remover grafites artísticos das paredes, prometer aumentar velocidade nas marginais ou entrar em choque com moradores de rua, como se dá também por aqui em Curitiba com Rafael Greca a tentar iluminar coisas pequenas como mexer nas vias calmas ou reinstalar a linha Colombo-CIC, como se estivesse restabelecendo a integração metropolitana, enquanto já está no forno a pizza do aumento da tarifa de ônibus acima de R$ 4. Para o povo, esse trauma é mais real como pesadelo do que o ato de Trump ao anunciar o rompimento do tratado que sustentava a Parceria Transpacífico.
Uma reação tardia de setores empresariais, ligados aos transportes coletivos, tenta agora demonstrar a causa verdadeira e histórica da quebra do equilíbrio contábil e que se deve, segundo eles, a Beto Richa quando assumiu como vice a prefeitura da capital e recusou-se a acatar um reajuste que já estava no disparo. Reconheça-se que Beto Richa até estaria com alguma razão, já que iria assumir e em seguida disputar a prefeitura, e pegava mal aceitar a imposição. O problema não estancou aí, já que o congelamento seria mantido por cinco anos.
A analogia com o exemplo do maior país do mundo serve, em primeiro lugar, para levar nossos prefeitos e governadores ao exercício natural da humildade quanto ao que é e implica esse exercício do poder ou se na verdade é mesmo algum poder. São Paulo tentou vacinar-se contra a alta das tarifas do transporte, mas a Justiça que age no terra a terra não concordou com o congelamento da transição com trens e ônibus e tascou a alta, e aqui o mesmo só serviu para o afloramento de reações empresariais que não foram exercidas no momento próprio e agora afloram nutridas de muito ressentimento e intenções políticas.

Símbolos
Comenta-se na Lapa que vereadores estariam empenhados em mexer nos símbolos da cidade e uma delas seria retirar o canhão desses signos, alusão ao feito glorioso do Cerco que assegurou a vitória do governo contra os amotinados da Revolução Federalista. Até agora nada há de concreto, mas isso lembra a última experiência paranaense a respeito no governo Alvaro Dias e sob o comando da secretaria de Cultura, dirigida por Renê Dotti: uma comissão com historiadores e especialistas em heráldica, dentre os quais o professor Ernâni Straube, desenvolveu mudança radical nesses símbolos entre eles o de tirar o agricultor com a ceifa à mão e substituí-lo pelo semeador. Aliás, aí há uma velha piada sobre os paranaenses que seriam tão autofágicos que esse cara representaria alguém disposto a cortar a cabeça de quem quisesse aparecer, anedota atribuída ao ex-presidente do Atlético e do Clube Curitibano, Jofre Cabral Silva, que morreu de emoção em Londrina ao perder uma partida de futebol.
A proposta mexeu com tradicionalistas que chegaram a recorrer à Justiça contra o que viam como agressão e o estudo, publicado pelo governo com riqueza de detalhes, até no posicionamento da harpia, ficou apenas nos arquivos. Hoje, aliás, com o Mauro Ricardo na Fazenda, isso seria impensável: dá para imaginar os custos em que implicaria botar os novos símbolos em documentos, placas, automóveis, prédios e outras sinalizações.

Dureza
Magistrado do Paraná, Marlus Melech, foi convocado pela Casa Civil da Presidência para auxiliar na reforma trabalhista na qual se pretende sobrepor o acordo coletivo, como forma de maturidade sindical, aos rigores da CLT, o apregoado entulho. O paranaense é respeitado como especialista e que entende que a legislação não seja tão rígida ao ponto de amputar o empreendedorismo. Por sinal que já foi bem pior quando se assegurava estabilidade com dez anos e aí as empresas despediam, em acerto, o profissional e o recontratavam numa prova antecipada de que acordo entre partes é mais forte do que a lei.

Cantada
A vereadora de Curitiba, Maria Letícia, quer punir cantada com multa. Fiu fiu não é assédio, porém entra na interdição. Se estabelecer normas para o olhar como apelo imagético, será pior do que a Lei de Segurança Nacional no cerco às subjetividades.

Folclore
Em 16 pesquisas, o aeroporto de Afonso Pena ganhou sete vezes como o melhor do Brasil, o que se deu ainda nas duas últimas sondagens. Semanas atrás, uma jararaca andou picando, no entorno, um viajante de Francisco Alves, registro bizarro e insólito, que não tira os méritos do nosso aeroporto, medalha de ouro do ranking.