Ponte e pinguela
Quando Fernando Henrique Cardoso ao referir-se à ponte para o desenvolvimento inscrita em mensagem do PMDB frisou que se trata mais de uma pinguela do que de um viaduto tipo Rio-Niterói não estava caricaturando a figura de Michel Temer (que com isso se mostrou contristado), todavia, deixou claro na frase "é o que temos´´ que se trata da perspectiva disponível para sair do marasmo em que nos atolamos. A alusão à ponte é intelectual e remete ao documento de ruptura saudado como um renascimento do partido do velho Ulysses, sabidamente um exagero.
A intenção é a analogia entre as condições em que FHC postulou o Plano Real, o maior feito em termos de durabilidade dessas últimas décadas e que beneficiou Lula na sua arrancada e foram detidos na regência de Dilma, e as de agora de um momento em que podemos navegar da recessão para a depressão, como aquela do fim dos anos vinte nos Esteites. Sinais positivos como o da queda da inflação, quando a economia chegou ao fundo do poço com seus 12 milhões de desempregados, são ainda insuficientes posto que permitindo a ousadia do Decom na baixa da taxa de juros e que anima a novas investidas, ainda que até agora os bancos não tenham indicado que mudarão seus hábitos.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a figura que dá mais prestígio internacional ao governo, está com a missão mais delicada: a de fazer da experiência, negociada inclusive com Judiciário e governo do Rio de Janeiro, a medida padrão para o acerto das contas dos governos estaduais e as respectivas contrapartidas pela suspensão por trê anos das dívidas com a União. Sabendo-se do fisiologismo imperante já demonstrado na Câmara Federal e assembleias legislativas de estados quebrados, a tarefa é gigantesca. Aí, sim, teremos sinal de ponte, da qual dá para lembrar o cancioneiro popular: " Fui passar a ponte// a ponte estremeceu// a água tem veneno, baiana// quem, bebeu morreu´´.

Afogamento
Morre mais gente por afogamento nas cavas e rios do planalto do que na praia, mas ontem tivemos o quinto caso de um adolescente. Livres de ocorrências do gênero, os 10 pontos de balneabilidade zerada que acentuam, porém, que o governo continua perdendo a guerra do saneamento em todos os fronts em que pese a pose da Sanepar com seus prêmios nacionais.

Indulto
Dos 1.800 presos liberados pelo indulto de Natal, apenas 90 deixaram de retornar. Esses 5% não anulam a relevância dessa medida de política criminal há tantos anos adotada.

Tom agressivo
Algumas medidas de Rafael Greca, como a da supressão do guarda-valores de moradores de rua ou essa mais recente de cerco a bares e bistrôs em nome de uma ´´balada segura´´, provocam um divisor de águas nas redes sociais. O caminho adotado com interdição de casas comerciais é extremo quando tais questões podem ser precedidas de diálogo. É claro que isso pode ser apoiado pela maioria da população, minada em seu conservadorismo. Não é por aí que se impedirá, por exemplo, o tráfico de drogas no centro histórico e a ocorrência de casos como o empresário que se viu impelido a fechar sua loja e sair do país com medo de mais retaliações por parte do crime organizado no bairro São Francisco.
Nas redes sociais muita crítica, uma delas lembrando que buteco nem bistrô não podem ter comissão de sindicância para liberar frequentadores como nos clubes e que ingresso de escoteiros e congregados marianos não garante uma balada com gengibirra e água benta. Radicalismo gera exatamente isso, o não raciocínio.

Beto, o culpado
Estudo recente – que divide o empresariado do transporte coletivo de Curitiba - aponta que a quebra clara do equilíbio financeiro do sistema se dá com a posse de Beto Richa, o vice, substituindo Cássio Taniguchi que lhe deixou no disparo um reajuste tarifário que se recusou a acatar e manteve, depois de assumir, efetivamente, essa hibernação da passagem, com o que obteve dividendos políticos na reeleição. Essa tese é mais ou menos clara porque o período de congelamento foi longo. Nos bastidores, os empresários mais acomodados e com tradição de lidar politicamente com o poder concedente, e aí figuram os maiores, alguns deles visados pelo Gaeco até em escala nacional, não querem conflito, mas há um grupo determinado a fazer a denúncia e inclusive em montar um sindicato paralelo.
A aparência de pacificação com a eleição de Rafael Greca e a liderança de Beto Richa com a anunciada reintegração metropolitana, para julho, não evita o ´´racha´´ anunciado.

Folclore
Até nas vaias se nota diferenciação de alvos: a de Requião no Teatro Guaíra na frente do seu líder, o venezuelano Chávez, foi a maior de todas. Contra Lerner, no mesmo espaço, houve outra a ´´bocca chiusa´´, murmurante, coisa de aristocrata.