Transparência que cega
Já se disse que transparência em excesso pode levar à cegueira por excesso de luz. Em sua posse, ontem no Tribunal de Contas, o novo presidente Durval Amaral fez referência à Operação Quadro Negro, aquela dos desvios nas construções escolares de obras inacabadas e faturadas como prontas como um feito daquela Corte. Na mesma direção de raciocínio, Beto Richa poderia afirmar que se deve a ele o prestigiamento ao Gaeco nas suas intervenções no caso das construções escolares e no da descoberta dos chunchos da Receita Estadual. E poderia aí lembrar que no episódio da rotatividade do pessoal pleiteada pelo secretário de Segurança, Cid Vasques, agiu com inteira imparcialidade para que a própria Procuradoria de Justiça o decidisse e o fizesse positivamente em favor do seu braço investigatório.
Sócrates, aquele da cicuta e não o da caipirinha e craque do Corinthians, dedicou parte de sua vida ao combate à deturpação da lógica no verbalismo dos sofismas, decorrência normal dos feitos de um dos criadores do método e consequentemente da dialética na busca do conhecimento pela dedução inscrita no diálogo. Essa ruptura para o raciocínio era a clássica maiêutica, num processo de parturição mental. Nessa linha de argumento, Michel Temer, ora festejando a queda da inflação como feito do seu reinado e não da inércia da economia no fundo do fosso, poderia argumentar que nada faz para quebrar a sincronia institucional e age com máximo respeito com a Lava Jato mesmo que aponte para sua direção e dos colegas de ministério, muitos dos quais obrigados a tirar o time de campo.

Deletado
Gustavo Fruet e sua expressão no blogue prefeitural foram devidamente deletados, embora a prefeitura justifique que se trata de um problema técnico. Por sinal que se sabe a intenção do novo prefeito em não mexer nos atritos – o dos transportes coletivos e do Instituto Curitiba de Informática, monopólios que Fruet vinha enfrentando. "Volta, Curitiba" à acomodação e também ao silêncio nas relações pactuais com a paz e o silêncio dos cemitérios como, afinal, sempre aconteceu.

Penitenciárias
O novo presidente do TC, aproveitando a motivação da questão carcerária, pretende colocar seus fiscais do corpo técnico à análise dos dispêndios nas prisões para apurar se tais custos, R$ 35 mil ao ano por preso, compensam no concernente à ressocialização. Uma avaliação singela mostrará que o desempenho na questão do trabalho é muito baixo.
Outro ponto relevante do seu programa é o de avaliar a qualidade das obras (equipamento, material utilizado) bem como as que se encontram paradas.

Sustentabilidade
Mérito maior da proposta de reabsorção de municípios é a de mexer num tema-tabu de interesse de um certo setor da classe política. Seu valor é, portanto, doutrinário ao fixar condições mínimas de sustentabilidade no viver das cidades. É que os aparatos gestores de prefeitura e Câmara exigem muitos recursos nem sempre compensados com sua atuação e muitas vezes visível na ausência de quadros para assumir responsabilidades. Por sinal dá pra fazer uma pergunta: há alguém, neste momento no Brasil, como homem providencial? Dá para imaginar igual pergunta na base municipal e a resposta é sofrida.

Lava Jato
Mariano Marcondes Ferraz, da Decal, empresa que negociava armazenamento e acostagem de navios para a Petrobras e que teria dado um capilé de 870 mil dólares ao delator Paulo Roberto Costa, e que foi liberado por Sergio Moro, está denunciado.

UPAs
No Paraná nada menos de 14 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), construídas nos últimos anos, se encontram fechadas e sem utilização. A redução do corpo clínico de quatro para dois médicos como número mínimo baixa custo, mas não resolve. O problema maior é a falta de recursos para a aquisição de equipamentos. Na própria Região Metropolitana e litoral há várias delas nessa condição. Já se esclareceu que antes a classe política, em passado distante, agia em emendas para construir hospitais, UPAs, enfim instalações e hoje se dedica ao varejo da obtenção de verbas para comprar matéria prima e insumos insubstituíveis. É o Brasil descendo a ladeira.

Folclore
Candidatos à presidência da Câmara Federal devem passar em campanha por Curitiba, mas não consta que tenham posto em sua agenda uma visita ao ex-dono da área, Eduardo Cunha, na prisão, a quem tanto serviram. Ontem foi o goiano Jovair Arantes, depois o brasiliense Rogério Rosso e em seguida o Rodrigo Maia. Todos apontados, de um modo geral, como integrantes do baixo clero. Depois de tudo que acontece ainda há um alto clero?