Paraná desigual
Ontem, pela manhã, haviam distribuído na agência do trabalhador em Curitiba o dobro em senhas das vagas disponíveis no mercado de trabalho e à tarde foi feita uma nova partilha. Curitiba e região, conforme os dados do Caged, respondem por 77% do saldo negativo. Para compensar, aliás confirmando uma tendência dos últimos levantamentos, áreas do interior aparecem no ranking da geração de emprego com indicadores positivos dessa vez com 2.470 vagas no Sudoeste, 1.035 no Norte Pioneiro, 579 no Oeste e 467 no Sudeste. Dos 29 mil de saldo negativo, 19.500 foram gerados na Grande Curitiba, 77% do total em que se capta a força impactante desse fato no conjunto da economia.
Se vincularmos o que está acontecendo, e que nem sempre é negativo, por sinal que às vezes aparecendo bem nacionalmente e até nas primeiras posições, ao ambicioso programa "Paraná Competitivo" fica, clara, a impressão de que o processo estagnou, pois ninguém esquece da repetição em cantochão de que geraria um investimento de R$ 20 bilhões, isso batido há pelo menos dois anos, ainda que se tenha nesse entretempo contemplado o caso da unidade Klabin em Ortigueira, um bolsão de subdesenvolvimento em termos de IDH. Também os alegados investimentos públicos, atribuídos à Copel e à Sanepar, não se deram nos níveis esperados como de resto a expectativa para o novo orçamento dependerá da ruptura do quadro até aqui recessivo e sem perspectiva próxima de alteração antes do último quadrimestre.
Curitiba e região metropolitana são em função do quadro consagrado, que até aqui beneficiou o eixo industrial capital-Ponta Grossa, o motor de arranque do desenvolvimento em termos de empregabilidade e tecnologia, bastando lembrar que lá se situam tanto o parque automotivo, já apontado indevidamente como o segundo polo do país, como a chamada malha produtiva que o acompanha. Esse raio xis momentâneo é de traço conjuntural, volátil, mas que tem pelo menos a afirmação de um dado: o de que o interior, isso em função do agronegócio, tem aparecido com mais destaque, um contraponto, de qualquer forma, à tendência centralizadora do parque produtivo, o que ameniza as tensões geradas pelo desequilíbrio regional estruturalmente estabelecido.

Quebrados
Dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 60 deles, pouco mais de 1%, estariam com suas contas em relativo equilíbrio. Nos outros a sensação de quebra leva a atitudes bizarras de alguns desses burgomestres entregando as chaves da cidade a Deus, um gesto de opereta bufa que mostra como os pequenos imitam os grandes dando resposta de marketing às aflições, como aliás os governos estadual e federal fazem.

Instituições livres
Há instituições que devem ser preservadas em sua atuação de pesquisa e análise livres da amarra estatal como IBGE no plano nacional e o Ipardes, no estadual. Toda a tentativa de alinhamento obrigatório como se deu no Ipea, precisam de reação do corpo consultivo. Da mesma forma um órgão como Dieese só cumpre suas funções comprometido com uma só cultura: a do trabalho. No Ipardes, houve em passado recente o bloqueio a uma publicação de conjuntura porque desagradava o governo e ao menos tivemos reação dos seus quadros, o que é um bom sinal.
Um IBGE engajado, por exemplo, não passa de um Ibope mais do que debochado. Num país que rejeita por hábito e vocação a independência do Banco Central é por que fica de costas a uma visão mínima de República.

Greca retorna
Saindo ontem à tarde do hospital em que se encontrava já se percebeu que o prefeito Rafael Greca vai tentar recuperar os dias de convalescença com uma dosagem de críticas ao seu antecessor. Aliás, ontem se insinuava que Fruet teria cedido às exigências do Atlético em relação às obras da Baixada, o que soou como surpresa porque, ao contrário de Beto Richa, sempre reagiu a esse tipo de concessão. Hoje se Beto apoiasse a pretensão rubro-negra pegaria muito mal por causa dos sacrifícios que está impondo à sociedade em nome do ajuste fiscal garroteando salários, aplicando altas tributárias e brecando investimentos.
Parece que houve tão-somente uma sincronia entre prefeitura e Paraná Fomento, firmada em recente decreto no finzinho do governo.

Folclore
Curitiba carece das ações do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc), mas é difícil a reconstituição do órgão com as características que ganhou em seu início, primeiro pela investida em estudos sistemáticos sobre as vocações da cidade, e depois por um pacote de intervenções que se deram justamente quando Lerner, ex-presidente da instituição, assumiu o governo da cidade. Estudos de equipes multidisciplinares foram colocados em pauta tanto no governo Leon Peres como no seu substituto Parigot de Sousa e com deslumbrado apoio do regime militar. Lerner deixou brigado o Ippuc pelo fato de Omar Sabag prefeito não ter apoiado o projeto da Estação Rodoferroviária da instituição. O que prevaleceu é ótimo.