Arrocho continua
Em dezembro, o governador do Paraná deu continuidade ao ajuste fiscal, que ele e sua equipe vivem a elogiar, ao elevar de 12% para 18% a incidência do ICMS sobre remédios. Como se vê, um ato forte em defesa dos frascos e comprimidos para desespero dos fracos e oprimidos, alvos obstinados de todas as autoridades em todos os tempos.
Não se sabe se as coisas ficam por aí, mas o reajuste certamente há de prejudicar, antes de tudo, a prioridade de Rafael Greca atribuída à saúde e à sua própria afetada nos produtos que deverá consumir enquanto estiver hospitalizado. O garrote vil tem desdobramentos severos e o setor farmacêutico, que vive o peso da crise, sabe que isso acrescentará mais carga dramática à atividade.
Quando se acreditava, até pela euforia com que se comemora seus feitos fiscais, que a onda de altas seria contida, temos mais esse "presente" assinado em decreto alguns dias antes do Natal. Coisa de gênio: nega o reajuste automático do funcionalismo, alegando compressão de gastos, e se o barnabé ficar doente sofrerá com mais esse ato de vampirismo fiscal ao buscar remédio na farmácia.
Como uma das mãos lava a outra, o magnânimo governador teria encaminhado à Prefeitura de Curitiba, nesses dias, mais R$ 4 milhões para a compra de remédios. Com essas acrobacias, poderia figurar no elenco do Cirque de Soleil.

Questão carcerária
A facilidade com que o crime organizado opera no interior do sistema carcerário, garantindo-lhe condições logísticas para comandar o tráfico de drogas e outros crimes daí decorrentes, como os casos de um Fernandinho Beira-Mar em presídios de máxima segurança, revela, antes de tudo, o fracasso das instituições envolvidas, inclusive o Judiciário. Um dos dirigentes do Instituto de Defesa do Direito de Defesa afirma, com a segurança de estatísticas atualizadas da área, que nada menos de 40,1% dos sentenciados não têm processos conclusos de julgamento.
Entre os absurdos constatáveis, a impossibilidade de controlar o giro de telefones celulares e equipamentos mais sofisticados no interior dos presídios. Essa facilidade operacional, obviamente inadmissível em países mais civilizados, vinculada ao livre funcionamento em nosso caso do PCC e do Comando Vermelho que teriam se enfrentado em Manaus em manobra sangrenta e que visava fuga em massa de presidiários que pode ter acontecido na tragédia que estatisticamente só perde do massacre do Carandiru.
Só falta, como sugeriu articulista da "Folha de S.Paulo", o sistema deixar-se comprar por essas siglas sinistras como fez, em alta escala, com as empreiteiras.

Micro-história
O novo prefeito de Almirante Tamandaré, Gerson Colodel, anulou o decreto que a gestão anterior havia baixado reduzindo vencimentos do prefeito, do vice e vereadores e os aumentou em 20%. Nossa cultura é a do assistencialismo, do patrimonialismo e não da austeridade como se vê no Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul como também no mundo menor dos municípios. Raros os exemplos como o de São Paulo em que a Justiça declarou ilegal o reajuste dos vencimentos dos vereadores.

Descoberta
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo descobriu a pólvora ao reconhecer que as ações da Lava Jato (que ele não combateu porque as entendia como legais e justas) tiveram destaque na consumação do impeachment de Dilma Rousseff. É que enquanto as bases do partido queriam derrubá-lo porque não controlava a Polícia Federal, e afinal acabou caindo, os efeitos das revelações do processo comandado por Sérgio Moro acabaram nutrindo, de forma inquestionável, o impedimento da presidente.
Não dá para esquecer também que uma parte ponderável do PT tentou poupar Eduardo Cunha, como meio de segurar o impeachment, no processo ético que rolava contra ele na Câmara Federal. Pecados são mais difusos do que confusos. Todos se merecem, nós não

Folclore
A proposta da vereadora Fabiane Rosa de proibir fogos de artifício em Curitiba rendeu polêmica e os fabricantes argumentaram que a medida é inconstitucional. Dá para imaginar Réveillons sem esse aparato em todo o mundo? Trata-se, porém, de colocar o inegável sofrimento dos cães em destaque. É um caso bem parecido com o havido na Argentina, fronteira com o Brasil, com ambientalistas do país vizinho que irritados com o voo panorâmico de helicópteros sobre as cataratas e que abalavam os inúmeros ninhos de andorinhões ameaçavam até abater os aviões de rosca no linguajar catarinês. É decorrência de uma afetividade extrema por animais como aqui no Brasil se impediu a duplicação da BR-116 a pretexto de proteger um casal de papagaios na Serra do Cafezal.