Lição de Ricupero
Quem ouviu o presidente Michel Temer falar de sua administração (na qual insiste em cortar os tempos de interinidade) percebeu que ele está disposto a transformar, de qualquer jeito, a pinguela num viaduto ou até numa Rio-Niterói. Só colocou fatos positivos ocultando a queda de seis ministros e mais um assessor (Yunes) bem como o cerco da Lava Jato. Sua palestra lembrou em tudo a indiscrição do diplomata Rubens Ricupero ao repórter da Globo quando disse que se ocultava fatos negativos e dava-se ênfase aos aparentemente positivos.

O esforço de pasteurização da imagem presidencial está em tudo, visível até nas montagens televisivas para dar organicidade ao depoimento, obviamente posto fora do alvo das vaias e possíveis panelaços. Isolar-se da realidade circunstante é preciso, afinal fim de ano exige uma boa dose de pensamento positivo ainda mais quando a perspectiva se torna cada vez mais sombria. Dá para lembrar que os petistas à época festejaram muito o descuido de Ricupero e talvez esteja aí o único lado auspicioso do ocorrido, pois naquele pleito não venceram.

O furo
Agora se pretende saber as dimensões do furo fiscal do Paraná. O último informe é que chegaria a R$ 4,1 bi compensados por alguns recursos a receber que o transformaria em zero, segundo Mauro Ricardo Costa, que insiste em novos e necessários cortes em funções comissionadas e até em pastas. Há uma toalete permanente nas contas como se dá com o fundo de pensão estadual no qual o governo meteu sua mão pesada, primeiro na tomada de um empréstimo de R$ 640 milhões e depois no avanço no capital mensal de R$ 150 milhões referentes a mais de 30 mil aposentados que eram pagos pelo Tesouro e agora resultam de saques no capital da ParanaPrevidência.

O horizonte atuarial se os governos estaduais tivessem pago ano a ano a contribuição patronal (e deixaram de fazê-lo os dois períodos de Requião e um de Beto Richa) seria hoje de 70 anos, mas está por aquela omissão reduzido drasticamente a pouco mais de uma década. Uma hora isso vai ter que ser esclarecido já que a democracia que praticamos não tolera indiscrição tão malévola quanto essa com governos que se sustentam com marketing.
Sacando anualmente do fundo de pensão cerca de R$ 1,8 bilhão só com esse mensalão expressivo, ainda sub judice no STF, mas com parecer favorável da Procuradoria Geral da República, vai estiolando a capacidade de resistência de um instrumento, que era tido como um dos melhores do País e se encontra hoje quase em situação idêntica à maioria, muitos deles por força da rapinagem sindical e da gestão desastrada.

De ônibus
Gustavo Fruet foi à sua posse de bicicleta, transformando-a em símbolo de sua gestão e afixado à frente da prefeitura. Rafael Greca, já que o metrô foi enterrado, vai de ônibus elétrico da Volvo e verde para sinalizar novos tempos no setor, renovação da frota, ganho em tecnologia. Já no segundo mês de sua gestão terá que mexer na tarifa em função do contrato coletivo de trabalho de motoristas e cobradores, se é que antes disso não terá discretos arranca-rabos em torno de adiantamentos salariais nas empresas mais frágeis.

Outra coisa grave será se Beto Richa admitir em favor de Greca o que negou para Fruet no subsídio que acabou gerando o fim da integração metropolitana. Urge ter atenção, pois a amnésia não tomou conta do público.

O ideal inovador seria um prefeito jovem assumir o cargo de asa delta até para pontuar o drama da circulação saturante da cidade que tem maior número de carros por habitante.

Mistificação
Em saneamento da mesma forma que a Sanepar oculta o fato de lançar esgotos crus na bacia hidrográfica do Iguaçu (pelos quais é processada pelo Ibama na justiça) tal se dá também com a balneabilidade de nossas praias: há dez pontos permanentemente, dispersados pela orla, sem condições de uso. Como consideram essa interdição fora do cálculo dissimulam dizendo como ontem que só há um ponto comprometido em Antonina na Ponta da Pita. Um deboche típico de burocrata.

Hospitais
Que os hospitais filantrópicos estão quebrados todos sabem. Tanto que antes os parlamentares obtinham emendas para montar unidades de pronto atendimento e até hospitais e hoje se limitam ao varejo de levantar grana para compras imediatas de algodão e esparadrapo, insumos do dia a dia. O pior é a confusa explicação dos burocratas sobre tais repasses do Ministério da Saúde para as prefeituras como se deu agora com a suposta retenção de R$ 34 milhões para tal fim. Enquanto o prefeito de Curitiba nega, a secretaria de saúde estadual vai em cima dos ministérios públicos, estadual e federal, para investigar. Citam Diário Oficial, data da remessa bancária e deixam tudo mal explicado.

Folclore
Gengibirra é um símbolo curitibano como a vina. Daí ser entronizado na celebração de posse de Rafael Greca e expressão de marca resistente quando tantas como as do Mate Leão foram tragadas pelo capitalismo internacional.