Analogia impossível
Estamos tão atrasados em termos de transparência e civilidade que, quando surge uma Lava Jato, acreditamos que estaríamos dando lições para o mundo. Agora, com a divulgação do Departamento de Justiça dos Esteites sobre 1 bilhão de dólares de propina da Odedebrecht em escala mundial, percebemos que mesmo órgãos daqui ora em destaque como a Procuradoria da República adotam sigilo em torno do assunto, ora amplamente desmistificado, o que reafirma nosso apego a formalismos que tanto desfiguram o exercício da Justiça.
A um teste de analogias com o mundo contemporâneo, sempre nos damos mal, embora a ilusão momentânea de que neste instante saímos do jurássico, o que é uma ilusão.

Transição conflituosa

Rafael Greca manteve o veto à Oficina de Música, alegando – o que tem traço demagógico - que não se festeja quando há crise na saúde que, obviamente, não vai aumentar seus investimentos por causa do bloqueio intempestivo a uma tradição do calendário cultural de Curitiba. Fruet aceitou a decisão, até por não ter alternativa, mas deu o seu repique: declarou instalado na cidade o sistema de empréstimo de bicicletas.
Pelo ocorrido, já dá para imaginar que as coisas não param aí, ainda mais quando ficarem bem clareadas as circunstâncias fiscais herdadas. Aí, teremos algo que Fruet não soube fazer com seu antecessor e Beto Richa, igualmente no governo estadual, com Requião a respeito da pesada herança recebida. Se conflito ajuda a esclarecer, é bom para todos e para a democracia. Ocorre que o último é que paga e o ônus da quebra do Estado ficou com o governo atual que pelo menos faz algo, mais consistente, para sair da pedrada.

Ativismo
A polícia está em boa fase, depois de tanta omissão acumulada: as operações feitas contra o tráfico de drogas no centro histórico já haviam surpreendido, mas ontem chegamos a patamar mais elevado no combate a um esquema que pegava Curitiba e a Região Metropolitana de entrega de tóxicos em domicílio envolvendo funcionários públicos e profissionais liberais, incluindo médica de Unidade de Terapia Intensiva. Já anteriormente tivemos prisões e mandados de busca e apreensão de quadrilha que operava no estouro de caixa eletrônico. Na de ontem das drogas tivemos 16 prisões e 24 de busca e apreensão.

Truísmo
Segundo uma pesquisa do Ministério de Turismo, Curitiba seria o sétimo destino de turistas no verão brasileiro. Vejamos, por exemplo, o que se dá agora no Natal, um dos registros nossos do calendário nacional: a festa perdeu muitos dos seus destaques, o comércio não colabora para enfeitar o cenário e também é decepcionante a participação dos moradores em enfeitar as residências. Falta um comando promocional, não há concursos de fachadas e vitrines com a imponência dos anos anteriores.
Vamos a um truísmo do turismo local: o nosso é o de eventos e de negócios. Não temos, e isso é apenas para comparação didática, algo como as celebrações da serra gaúcha em Gramado e Canela. Desfiles, préstitos, vinculação da indústria com o evento.

Breque no abuso
Apesar do vexame da inexistência de contrapartidas nas dívidas estaduais, conforme o projeto da Câmara Federal, o governo não se exporá com um veto e simplesmente se valerá dos espaços de autoridade de que dispõe para nos contratos com as unidades restabelecer aquilo que a malandragem quis retirar. O Paraná, com o cenário criado pelo secretário importado, Mauro Ricardo Costa, em que pese os percalços enfrentados, se sairá bem no conjunto, o que beneficiará Beto Richa que demorou para perceber o colapso.

Folclore
O Gaeco de Londrina está na origem do processo que condenou o atual prefeito da Lapa, Paulo Furiati. A investigação se processou em vários municípios em cima de uma empresa que atuava acoplada aos prefeitos. A certa altura da campanha eleitoral na Lapa, houve referência à medida judicial que impedia o então candidato de aproximar-se da prefeitura na eventualidade de dobrar testemunhas. Como a decisão é de primeiro grau, a diplomação e posse não são afetadas mesmo que haja intervenção do Ministério Público.
Quando Furiati foi prefeito, a primeira vez botou, sem desejar, em risco a campanha de Requião em torno do baixa ou acaba do pedágio ao lutar pelo estabelecimento de um deles na BR-476 na entrada da cidade, o que foi feito irregularmente e que rendeu processo judicial contra Lerner e seu sucessor. Uma ironia processual foi Lerner ter incluído Requião como testemunha de defesa porque foi ele e não Lerner que botou em funcionamento aquela praça de pedágio.