Ônus dos ‘amigos’
Com a condenação na Publicano de um amigo do governador, com quem compartilhava exercícios automobilísticos, o auditor Marcio Albuquerque Lima a mais de 97 anos de prisão juntamente com a esposa, Ana Paula, essa a 76 anos, chega a sua etapa final o processo mais rumoroso da história atual do Paraná em torno da gangue que operava na Receita Estadual, Marcio era inspetor geral da fiscalização e se valia dessa aparência de ligação com Beto Richa para as ações do grupo no qual atuava também o parente distante, Luiz Abi.
O acúmulo de infrações é de tal monta que se aproxima da pena máxima, a perpétua, e revela que na dosimetria de aplicá-la o juiz Juliano Nanuncio, da 3ª Vara Criminal de Londrina, foi rigoroso com todos os 42 réus sentenciados e isso apenas na primeira fase da operação do Gaeco, já que há outros desdobramentos delinquenciais.
O governo paranaense não tem oposição, em virtude do seu nanismo aritmético e impotência em explorar o filão proporcionado por esse caso gravíssimo e outros na órbita do Ministério Público, tal qual o verificado nas operações Voldemort, aquela das oficinas mecânicas terceirizadas, e da Quadro Negro que desviava recursos de construções escolares.
Obviamente, a exacerbação das penas, ainda que correspondentes à gravidade dos delitos praticados, tendem a ser revistas na instância superior, e embora não haja uma blindagem específica para proteger o governador, via um cordão sanitário, que também reduz o peso de suas responsabilidades, assumidas por alegada amizade que vem dos tempos do pai, com a figura controversa de Ezequias Moreira, que ampara com o foro privilegiado na condição de seu secretário, ironicamente do cerimonial, num exemplo de pouco apego a rituais. Essa permeabilidade aos infratores da qual eles se beneficiam gerando ônus ao que detém o poder, num roubo sub-reptício da esfera afetiva, parece não tisnar a figura de um campeão de votos, vide a eleição e reeleição na prefeitura da capital e no governo, tudo no primeiro turno, todavia minam parte do papel que poderia exercer dada à ausência de lideranças nacionais em momento sensível como o que estamos vivendo e no qual não se pode negar que o Paraná, como economia densa, dá exemplo na questão fiscal e isso, em parte, é mérito seu.

O inspetor Javert
Esforço da defesa de Lula é transformar Sérgio Moro numa espécie de inspetor Javert, a figura obstinada que perseguia Jean Valjean, em ´´Os Miseráveis´´, perseguindo-o até pelos esgotos na obra imortal de Victor Hugo. A analogia perde o sentido porque a falta de Valjean foi roubar um pão e não uma refinaria. E, agora, diante do papel missionário na cruzada contra a endemia nacional da corrupção pelo procurador Deltan Dalagnol, investiram contra ele invertendo papéis processuais de indiciado, já feito réu, em acusador. Como disse o âncora Boechat, eles fazem o poste urinar no cachorro.
Claro que o procurador já foi admoestado pelo ministro Teori Zavascki pelo excesso midiático daquela encenação em que expunha Lula como chefe de quadrilha, conclusão a que chegou em função dos autos, evidentemente exagerada. Mas a retórica da contundência é inseparável do acusador. A associação nacional dos procuradores saiu em defesa do colega em mais uma evidência de que o país está em tensão institucional permanente, acicatada pelo ministro Luiz Fux com sua exigência de que o projeto de iniciativa popular contra a corrupção se despoje das contaminações que lhe foram impostas em emendas parlamentares e o desfiguraram. Matéria é controversa, mas a democracia direta do primeiro dispositivo constitucional vai depender dessas fricções para ser regulamentada.

Pedágio
Agência Nacional de Transportes de Cargas aumentou as tarifas na BR-116 de R$ 4,80 para R$ 5,60 e de R$ 2,50 para R$ 3,00. Refresco se comparado com a BR-277 no sentido litoral, máxi assalto.

Folclore
Prefeitos e governadores de regiões afastadas do país sempre apresentaram em posses de novos administradores retaliações, como a de deixar gabinetes imundos inclusive com bosta. Aqui, em Curitiba, teremos algo mais elegante, quase uma disputa de florete, entre o peso mosca Fruet e o craque do sumô Rafael Greca. Este pensa até em suprimir a Oficina de Música de janeiro, compromisso nacional, se não tiver os recursos. É melhor isso do que não deixar clara a herança como a de Requião para Beto Richa, que leva à suposição de que este e não aquele foi quem quebrou o Estado.