Realismo fantástico
No mundo em geral, o realismo fantástico é ficção num dos seus bons momentos com Vargas Llosa, Cortazar e tantos outros; no Brasil, esse tipo de manifestação é factual, notícia comum como se denota desse episódio em Foz do Iguaçu onde a Polícia Federal prendeu 12 dos seus 15 vereadores, uma dimensão em escala reduzida, no parâmetro da aldeia, o que vai se dar nacionalmente com seus políticos, parlamentares e tudo o mais. O prefeito continua preso e agora o presidente da Câmara também como decorrência da Operação Pecúlio, mensalão em torno de recursos da saúde e de obras públicas.
Não se sabe os efeitos da Lava Jato, apesar dos esforços para detê-la inclusive no seio do próprio Judiciário, mas sobretudo no Senado e Câmara Federal, todavia a expectativa é que alcance bem mais do que o "rapa" de Foz, já que aí 20% escaparam e na questão nacional o que se imagina é que suas consequências estatísticas sejam maiores, ameaçando o todo num percentual equivalente ao da tragédia da Chapecoense na Colômbia.
Quando Lula (que colecionou ontem nova denúncia em Curitiba juntamente com mais oito pessoas, dentre elas Antonio Palocci, por desvios de recursos da Petrobras) se referiu aos 300 picaretas do Congresso Nacional, certamente, antes de cooptá-los para associação em nome da governabilidade, essa prostituição genérica dos nossos hábitos cívicos, sabia bem o que estava dizendo. Dá para imaginar, com o caso de Foz do Iguaçu, em que toda água das Cataratas seria insuficiente para lavar tanta podridão, que os tentáculos da corrupção se apresentam em todos os níveis de governo, cada um, é claro, com sua especificidade, como ocorre em Ribeirão Preto com a prefeita denunciada e afastada ou aqui nesse impoluto Paraná de tantas operações do Gaeco e isso só no governo atual, já que parece a autoridade controladora ter aberto os olhos apenas agora para os desvios patrimoniais.
Prisão dos maiores empresários do país e de hierarcas do poder, processamento de políticos em série - tudo, enfim, traz a atmosfera de sonambulismo, realidade transfigurada, que por ser insólita vai bem além da ficção.

Resposta
Débil, para dizer o mínimo, a resposta da polícia ao episódio do empresário que teve que deixar o país para ver-se livre das ameaças de traficantes do centro da Capital: uma ´´canoa´´ tradicional em cima dos que vivem do ofício no bairro São Francisco. Igual a essa ocorreram dezenas, centenas, de baixo retorno em termos de combate. Regras de convívio impostas obrigam ao silêncio e a encarar tudo como normal. Botar um quartel general no centro vai apenas consolidar esse faz de conta, no qual a polícia se confessa ajustada a uma acomodação que não faz bem ao seu pobre currículo.

Contas
O ex-deputado Durval Amaral, no rodizio, é o novo presidente do Tribunal de Contas e o corregedor o ex-deputado Fábio Camargo. É a expressão do governo: um ex-secretário da Casa Civil e um dos mais novos conselheiros estimulado pelo governador e apoiado pela maioria.
O TC está numa fase de ativismo expressa na auditagem do sistema de transporte coletivo de Curitiba e em incursões nos desvios das construções escolares e na fiscalização do pedágio. Fez soar o alarme para a administração estadual, mais de uma vez, em gastos do pessoal superando o limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Solidariedade
Entidades patronais e de trabalhadores se solidarizaram com o jornalista Celso Nascimento por causa de sua condenação pelo Judiciário e Ministério Público pelo delito de opinião, tal qual se deu anteriormente com os colegas do mesmo jornal em evento em série contido pelo STF e também alvo de críticas da Associação de Jornais e Revistas, Associação Brasileira de Imprensa e entidades internacionais. A Rede Paranaense de Comunicação virou alvo e isso em sequência de atentados à liberdade de imprensa, especialmente, depois de sua atuação nas reportagens sobre os diários falsos da Assembleia Legislativa que lhe renderam prêmios nacionais e internacionais.

Prestígio
O Paraná deve manter o comando de Itaipu com o atual presidente da Copel, Luis Fernando Viana, solução técnica e derrota do PMDB de Requião que está de mal com o de Temer. Vitória de Beto Richa. Já a nomeação da procuradora Maria Teresa Uille Gomes para o Conselho Nacional de Justiça, com 141 votos, é indicação do ministro do STF, Gilmar Mendes.

Folclore
Para muitos o presidente do TC, Ivan Bonilha, ao reter o processo do metrô agiu bem porque o trambolho estava fadado desde o início à frustração pela incompatibilidade com a situação recessiva. Essa demora deu margem a crítica do jornalista Celso Nascimento que Bonilha interpretou como prevaricação. O fato é que o jornalista foi condenado e o senador Alvaro Dias discordou defendendo o jornalista e a liberdade de imprensa. Bonilha discursou ontem contra o senador, o único paranaense que defendeu o teto dos gastos e por isso mais afinado com Beto Richa pelo menos na tese nacional.