É, no entanto, visível que os vazamentos fluirão com a maior naturalidade, apesar
das advertências mais lúcidas"

Vazamentos, como contê-los?
Vazamentos não são de agora e já os tivemos desde o mensalão e no curso do petrolão. Que havia risco de nulidades, como alerta agora o ministro Gilmar Mendes, todos já sabiam e assim mesmo, com toda essa carga de advertência, eles persistiram. Num tempo em que ministros do STF acabam flagrados em bate-boca ou em que decisões como as adotadas na crise entre o Senado e o Judiciário revelam que pedaladas não são apenas do Executivo tudo pode ocorrer como também, apesar da abundância do material coletado, nada acontecer. Essa, aliás, a esperança de muitos, talvez da maioria.
O procurador Rodrigo Janot não se omitiu, tanto que requereu investigação a propósito do tema, que deve preocupar especialmente o relator da Lava Jato no STF, Teori Zavascki. É, no entanto, visível que os vazamentos fluirão com a maior naturalidade, apesar das advertências mais lúcidas. Há método na loucura: Polícia Federal e Ministério Público se atribuem a origem e não é afastável a hipótese de que advogados as adotem como tática até para melar, objetivo nada desprezível de tanta gente.

Preocupação dominante do governo no plano institucional é aprovar o teto dos gastos e outras providências voltadas para o saneamento fiscal, mas já sentiu maior dificuldade na votação final da PEC dos no Senado com os quatro votos de sobra, bem mais estreita do que a primeira. O público se alimenta desse produto, o escândalo, e parece um Moloch na ânsia de devorá-lo e exige doses maciças e diárias. A essa altura dos acontecimentos seria o caso de o relator do processo no STF, Teori Zavascki, o provocar em sessão colegiada a pretexto de assegurar o fluxo da Lava Jato sem riscos de acidentes de percurso, muitos deles desejados e tentados por toda a engenharia que visou desde sempre "melar" o processo, intenção ainda perceptível em tantos acontecimentos no cotidiano, às vezes também produto de uma paranoia presumida face a desconfiança de que nunca teremos um momento contínuo de verdade na luta contra a corrupção sistêmica da praça.

Indiciado
Qual a diferença que há entre o estilo de Sérgio Cabral como governador nas suas celebrações dos demais do país? Foi, inclusive, um porta-voz de ações moralistas em sua carreira no Rio de Janeiro, mas também se viu flagrado em Paris num banquete em que os sibaritas da sua luzidia comitiva usavam o guardanapo nas cabeças em momento de intensa euforia.
Está preso em Curitiba e foi indiciado ontem pela Polícia Federal. Se vier a ser condenado, talvez, gere um pouco de contenção na rapaziada que a tentação é grande e se frutifique nesse clima observado agora de descontrole fiscal e chamamento à austeridade.

Vice braba
A vice-prefeita da capital Mirian Gonçalves, inconformada com a não publicação de vários decretos que assinou em sua interinidade como titular e que não foram publicados (e com isso perderam a precária legalidade) por intervenção do chefe de Gabinete de Gustavo Fruet, promete um agito com movimentos sociais na cidade. Um deles, o mais grave, declarava de utilidade pública área de assentamento de invasores na Cidade Industrial e outro abonava as faltas de barnabés que participaram de greves. Quem vai assumir a manifestação serão o sindicato de funcionários municipais, o Sismuc, e o MTST, dos sem-teto, à frente da sede prefeitural. Além disso, os últimos momentos da gestão caminham para a desolação com acertos às pressas para parcelar a dívida de R$ 30 milhões em 36 vezes com o pessoal da reciclagem do lixo. Melancolia para ninguém botar defeito com um buraco nas contas de mais de R$ 400 milhões e tantas outras surpresas para Rafael Greca.

Reintegração
O governador Beto Richa anunciou, ontem, em entrevista na CBN, que a reintegração do transporte metropolitano estaria acertada com o novo prefeito da capital e acusa o atual de ter sido o seu desencadeador em documento da Urbs em que declarava a ruptura. Óbvio que Fruet contesta alegando que o governador quis reduzir drasticamente o repasse do subsídio, mas o fato é que a medida abagunçou a organicidade do sistema, antes tido como referencial. Uma pesquisa origem-destino dos passageiros serviu de apoio à queda do subsídio.

Luto
Tristeza em todo o Brasil e em Curitiba também, onde atuam vários da família, com a morte do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, um dos maiores lutadores contra a ditadura, um dos personagens mais fortes da resistência por sua atuação em São Paulo.

Folclore
Mais uma vez se sente a ausência do jornalista Cândido Gomes Chagas da revista "Paraná em Páginas´´ num momento em que se fala em derrubar o Estádio Couto Pereira para construir um novo. Quando se pretendeu convocar a empresa WTorre, a mesma que implantou a arena do Palmeiras, Candinho reagiu como jornalista e conselheiro do clube e a ideia foi afastada. As últimas diretorias do Coritiba só fizeram uma façanha: deixar sempre o time à beira do abismo, a de cair para a Série B. Mais de meia década de pronto-socorro cardiológico.