Cautelas necessárias
Estamos vivendo um momento importante demais para ser perdido: vazamento de delações, nos desdobramentos da Lava Jato, ainda que alimentem a mídia que não pode desprezá-las, não se constituem em rumo adequado para o andamento processual pela hipótese de anulação, como já se deu anteriormente. Esse tipo de risco sempre houve, razão pela qual Rodrigo Janot, procurador-geral da República, mandou investigá-los e deve fazê-lo com a maior seriedade. Outra coisa: advogados do ex-presidente Lula parecem empenhados em criar a imagem de Sérgio Moro com impulso persecutório e fazem provocações seguidas nos atos processuais, como se deu ontem em conflitos gerados por testemunhas de acusação; quando não é isso, funciona a tática das sucessivas questões de ordem.
Já afirmei aqui e em comentários radiofônicos que todo arsenal até agora levantado contra o ex-presidente não parece ter consistência como nas referências ao sítio e o tríplex pelos quais já é réu. Pesquisa DataFolha mostrou que Lula está à frente de todos os seus adversários mais coroados numa suposta corrida presidencial, o que justifica a preocupação de que denúncias mal feitas só tendem, até pela repercussão, a aureolá-lo como vítima, algo que se infere do desempenho nas pesquisas de intenções de votos, a mais derradeira indicando que em segundo turno só perderia de Marina Silva. Supostos beneficiários da situação, já tisnados pelas delações, especialmente as da Odebrecht, veem estreitar-se cada vez mais as suas perspectivas e como um dos tiques de nossa cultura política é a da ideia no homem providencial e salvador da pátria, eis que aparecem como destaque tanto Lula quanto a ambientalista Marina Silva.
Todos os cuidados com a Lava Jato são indispensáveis para que não se frustre, com equívocos e desvios de conduta, algum excesso de estrelismo, a população que nela vê a única esperança de pôr fim no Brasil ao estigma endêmico da corrupção.

Uber
A Câmara Municipal de Curitiba arquivou o projeto de regulação do Uber. Se a cidade não contou sequer com alguma contribuição doutrinária ou técnica da Urbs, que vive também dessa área como parasita a do transporte coletivo com a taxa de gerenciamento, faltou obviamente um mínimo de assessoramento para Fruet posicionar-se corretamente. É uma solução adequada deixar o assunto para o novo prefeito e a nova legislatura.
Uber vive da crise (falta de empreso, intervenção de locadoras sem serviço) porque são precários os ganhos dos motoristas pagando 25% ao aplicativo e respondendo pelos custos de manutenção. Vários, depois de alguns meses, percebem que não vale a pena e, se isso fosse bem comprovado, caberia uma análise pericial em torno do tema pelo Ministério Público do Trabalho, eficiente nesse tipo de intervenção.
Vereadores não querem polêmica em fim de exercício e decidiram bloquear a proposta que visava responsabilizar a prefeitura por roubo de veículos ou de haveres no sistema de estacionamento público e que tem consistência, embora a cidade não tenha capacidade para regular e controlar os flanelinhas que posam de donos de pontos.

Processo
O jovem que morreu numa ocupação de colégio em Curitiba não tinha sinal de qualquer tipo de tóxico, segundo a criminalística, razão pela qual os pais querem processar o governo, já que a autoridade tinha dado essa versão. Segundo a polícia, quem deu essa interpretação foram alguns dos que testemunharam a ocorrência.

E Alvaro?
Nas sondagens de intenção de votos pelo jeito não entra o senador Alvaro Dias que pretende sair à Presidência pelo Partido Verde. O quadro que está aí parece favorecê-lo, notadamente se não figurar na Lava Jato. Aliás, o senador publicou uma revista em que são relacionados seus discursos em favor da Petrobras e contra os que a assaltaram.

Na trave
Apesar da liminar, duas vezes concedida pelo desembargador Jorge Vargas, dificilmente será aceita no Tribunal de Justiça a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a medida que bloqueia o reajuste do funcionalismo. O próprio TJ terá que adotá-la, embora o Sindijus, órgão dos trabalhadores, esteja em posição de resistência como sempre.

Folclore
A lista de apelidos para os apontados pela Lava Jato é coloquial e popular se comparada com a designação de suas operações, eruditas demais e, às vezes, um tanto quanto pedantes, há uma piada de que deveriam contratar gente de Paranaguá e Antonina, especialistas em apelidos, para essa missão. O incrível foi o que acontece com Lídice da Mata que acoimada de "feia" pediu retificação na TV que não era do PCdoB como foi divulgado e sim do PSD. Nada disse quanto ao codinome.