Chegaram na ave ‘sagrada’
Havia uma piada clássica sobre a Justiça brasileira: a de que receberia um prêmio internacional de ambientalismo pelos seus esforços na preservação dos tucanos. Seu fundamento estava no fato de o primeiro beneficiário do mensalão ter sido Eduardo Azeredo na campanha de governador pelo seu partido, o PSDB, em Minas Gerais, muito antes, portanto, daquela guerra de egos entre Roberto Jeferson e José Dirceu que redundou no primeiro escândalo nacional do lulopetismo e que o desarvorou.
Por que a anedota? Simples: denúncia sobre irregularidades em trens e metrôs em São Paulo não eram levadas a sério e o PSDB as tirava de letra com acrobacias advocatícias e explicações nem sempre suficientes. O comportamento do tucanato, ante qualquer denúncia, por grave que fosse, era respondida com aquele ar clássico de dignidade ofendida, velha dissimulação da malandragem coroada nacional, isso desde os tempos da heroica União Democrática Nacional que, por fatores óbvios, não obteve sucesso em suas cruzadas de moralização, posto que a escala de roubo da época (dos anos 40 a 60) fosse infantil comparada com a de agora.
Ainda recentemente se viu que o tucanato é mais profissional nas reações como o comprovou no caso da merenda na CPI estadual: os políticos ficaram fora da culpabilidade que se limitou a atingir assessores e cooperativas, preservando aliados de Alckmin. Agora, porém, essa fleugma está severamente ameaçada com as delações premiadas da Odebrecht dentre as quais, isso ocorrido há alguns dias, que alcança o atual chanceler, José Serra, por ter recebido ilegalmente R$ 23 milhões em 2010 em sua campanha presidencial.
Agora, vazamentos, que parecem inevitáveis, em torno das delações ainda não homologadas, indicam que a Odebrecht teria pago caixa 2 ao governador Geraldo Alckmin nas campanhas de 2010 a 2014. Essa referência ao PSDB como beneficiário dessas operações deve aparecer com maior vigor a partir dos desdobramentos da Lava Jato porque até então as referências eram um tanto quanto impressionistas como na pintura quando os objetos perdem densidade e parecem flutuar.
Vários governadores, portanto, vão ser listados e o Paraná não deve ficar de fora, pois são daqui os maiores personagens do enredo desde o mensalão como Youssef, Janene, Vargas e tantos outros, o que confirma a derrubada de um arquétipo em cima de nossa gente: o de que seríamos introspectivos e tímidos. A timidez, portanto, está tanto desmontada na defesa como na acusação com a força-tarefa da Lava Jato e a firmeza do juiz Sérgio Moro, maringaense de talento e inspiração.

Desvio
Orlando Pessuti (que uma certa época Requião chamava de gafanhotão) saiu-se em defesa na ação do Tribunal de Contas que o enquadra como ex-governador ao lado de outros servidores, um dos quais está na comitiva que tenta vender ações da Sanepar no exterior, como responsável pela devolução de R$ 3 milhões ao erário sob o fundamento de que tal recurso não foi desviado e de certa forma incorporado ao patrimônio de servidores públicos. Esse tipo de defesa no estamento público normalmente bate na trave. Infração orçamentária pode ser cobrada dessa forma ainda que a grana tenha ficado com beneficiários barnabés e
não com quem os agraciou.