Judiciário moroso
Chamar o Judiciário de moroso não significa que seja seguidor de Moro, o Sérgio, hoje mitificado pela presteza de seus julgamentos em casos de corrupção e de lavagem de dinheiro. Moroso porque só agora tocou no caso de Renan Calheiros de tantos anos passados e que àquele tempo o levou a renunciar o posto que hoje ocupa no Senado. Ainda que esse evento seja a causa até aqui do seu impedimento em permanecer na linha sucessória presidencial, ele levou a melhor, pelo menos para o público que representa, a classe política, no confronto com o Judiciário. Isso porque diante da abrangência da Lava Jato, e que ganhará dimensões até aqui inimagináveis com a delações premiadas da Odebrecht, o impacto atinge a esmagadora maioria dos políticos e que tem no presidente do Senado o seu gladiador maior, uma espécie de Spartacus redivivo.
A velocidade das decisões no primeiro grau constitui um contraponto à lerdeza da instância superior e, se esse encadeamento é submetido a todas as prensas por parte de advogados e de instituições da ampla defesa, nada indica que tenha sido gerado um ciclo novo na Justiça como o demonstram o hibridismo de soluções como a do impeachment de Dilma sem o acessório indispensável da cassação de direitos políticos (a regra é o acessório segue o principal), e agora esse lance esquivo da "capitis dimutio" para suceder o presidente compensado com a permanência no comando senatorial.
Em ambos os casos, a meia consciência de culpa em nome de uma pragmatismo semelhante ao que sustenta as bases aliadas, confusas e conflitantes, em favor dessa coisa vaga e genérica chamada governabilidade, hoje acrescentada com a emergência recessiva e a preservação da ´´ponte´´, que FHC chamou de pinguela, para a retomada do crescimento que dependeria, sobretudo, da aprovação rápida da PEC que limita os gastos, alvo ontem de atitude pouco parlamentar de Renan Calheiros ao impedir o debate sobre o tema solicitado por Gleisi Hoffmann que teve ainda o seu microfone cortado.

Acabou
Mudanças tecnológicas acabam profissões: a internet ceifou propangasdistas de remédios e pracistas, aqueles que davam apoio às redes de supermercados. Agora aplicativos pegam de frente os taxistas, como se dá com o Uber, e um concorrente chamado T-81 que já teria cadastrado 1.500 profissionais. Terror natural à luz do dia que a Urbs não enxerga, nem tem, sequer, opinião a respeito, embora viva disso em parte como também do parasitismo nos transportes coletivos com a tal taxa de gerenciamento que o TC quis derrubar e ela vetou.

Depois o ar
O governo está provando, dia a dia, que tenta sair do atoleiro e mandou uma equipe de seus assessores na Sanepar para uma viagem ao exterior empenhada em vender ações da Sanepar. De repente, mais cara do que o benefício a alcançar. Primeiro água-esgoto, depois o ar. Esse vai faltar especialmente para o funcionalismo garroteado pelo veto ao reajuste e atingido pelas agressões descapitalizadoras do seu fundo de pensão.

Frota
Crise evidenciada na redução da frota de automóveis com o descarte em Curitiba de 10 mil carros e crescimento em motos e caminhonetes.

Dedação
Dedação é coisa da moda: e isso não apenas na Lava Jato, mas em casos como o do comerciante que entregou o lugar em que traficantes escondiam as drogas na Rua São Francisco em Curitiba e também no curiosíssimo do Porto de Paranaguá (sempre ele como exemplo da má causa) em que os portuários se valiam de um dedo de silicone para fajutar presença nos controles nada rigorosos da autarquia. MP enquadrou até agora pelo menos 21 infratores.

Rigor
O TC acaba de impor ao ex-governador Orlando Pessuti, à secretária Maria Marta Lunardon e Ney Hamilton Caldas, da Casa Civil, sanção de R$ 3 milhões por emprego de crédito ilegal em despesas de pessoal. A pedalada previdenciária recente foi tida como correta.

Reações
Fóruns que tratam de proteção a crianças e adolescentes e de direitos humanos e cidadania tiveram queda de 21 e de 26% em dotações oficiais entre este ano e o exercício passado e estão chiando. Já levaram até o governo a enquadramento administrativo-judicial.

Folclore
Em função da "peitada" que Alvaro Dias deu em Cecílio do Rego Almeida por causa da hidrelétrica de Segredo, o empreiteiro passou a fazer campanha contra o governador e um dia ofereceu duas notas de cem dólares para o Alvino Cruz Guimarães, o Esmaga, o mordedor top da Boca Maldita, em troca de que ele difundisse coisas negativas contra o adversário. Esmaga virou-se para o megaempresário e perguntou "como fica a ética?". Cecílio, embasbacado, queria saber essa razão e o Alvino explicou: "É que ele (Alvaro) também me arma". Isso é, também lhe dava uma graninha.