Mediador ausente
Essa que estamos vivendo não é a primeira crise institucional caracterizada como anomia. No fim dos anos cinquenta, e com vários paranaenses envolvidos (dois ministros Munhoz da Rocha e Aramis Atayde), tivemos algo parecido quando se declarou o impedimento do deputado Carlos Luz para assumir a presidência momentaneamente desocupada com a doença de João Café Filho que ganhou o posto com o suicídio de Vargas, este sim a maior tragédia política até hoje da política nacional. Na gestão Café Filho foi interrompida a política nacional-desenvolvimentista e a linha dominante da nova situação abria espaços para o liberal cosmopolitismo.
Com vivandeiras ou não, o fato é que os militares através de duas das maiores referências - os generais Henrique Dufles Teixeira Lott e Odilio Dinis - deflagraram, vejam a acrobacia mental na designação, o movimento de ´´retorno aos poderes constitucionais vigentes´´ e que liquidou como contragolpe uma suposta intenção do governo de impedir a posse de Juscelino Kubitschek
que restabelecia, com Jango Goulart como vice, a
suposta ´´frente popular´´ , a mesma que consagrara Getúlio Vargas.
Golpe ou contragolpe, como se tentou configurar a sublevação de 1964, o fato é que dentro da tradição brasileira a mediação militar mais ostensiva só é chamada de golpe pelos derrotados, os que perderam , tal qual se deu agora com o impeachment de Dilma Roussef e também com o que se pretende aplicar no atarantado Michel Temer na hipótese de queda. Lembro da situação constrangedora vivida pelo maior criminalista brasileiro, Nelson Hungria, então ministro do STF, negando a demanda de Carlos Luz pelo argumento beligerante de que os tanques estavam nas ruas para ratificar o seu impedimento, algo semelhante a uma cláusula pétrea constitucional.
Hoje não dispomos desse mediador, que impôs a República e também o predomínio do vice, o marechal de Ferro, quando isso se tornou inevitável, portanto é coisa nossa como o samba e, especialmente, a jabuticaba. Não está na jogada, mas isso não impede que se dê tratamento especial aos militares na questão da previdência, mesmo quando se sabe que representariam 40% dos seus custos gerais.
O jeitinho, o lubrax das situações emperradas, vai funcionar também no choque mais grave, esse entre os homens de preto e os pais da pátria, por não haver espaço aí para a exaltação de passionalismos e de torcida organizada de futebol. Com os milicos, esses certamente, se ainda tivessem condição para tanto, optariam por um dos lados e isso seria decisivo. O que não seria nada fácil, já que do lado do Senado está 90% da classe política contra a Lava Jato e essa com a maioria esmagadora da população.
Droga
Um episódio na famosa Rua São Francisco em cima de um dono de restaurante, que mostrou onde figurantes do entorno escondiam as drogas e, por isso, o agrediram e depredaram o seu estabelecimento por causa da delação, marca bem o ambiente central da capital. Não há segurança nesse particular, o centro de Curitiba está tomado pelo tráfico e isso não dá mais para ocultar, ainda que a PM tente deslocar um centro de operações para uma antiga sinagoga a situação persiste e nada indica que mesmo com esse reforço operacional a coisa mude.

Governo age
Há 159 mil contribuintes no governo estadual com débito em tributos como IPVA, ICMS e tantos outros e a Secretaria da Fazenda enviou cartas aos inadimplentes notificando que os enquadrou no Cadastro dos Inadimplentes (Cadin), para a execução que se seguirá. Acredita o governo que ,por essa via, recuperará cerca de R$ 3 bi. Agir dessa forma é mais sensato, por exemplo, do que tentar recuperar na marra aquilo que está inscrito em dívida ativa. É que muita gente forte deve tributos fiscais, mas garantem muitos empregos. Acioná-los, de forma destemperada, apenas quebraria empresas e reduziria empregos, mas há radicais que pensam exatamente dessa forma.

Orçamento
Rafael Greca, como se deu com seu antecessor, vai ter dificuldades com o orçamento de R$ 8,650 bi, no qual a educação leva R$ 1,5 bi e a Saúde quase o dobro. Além do mais, Fruet, como Beto Richa, pegou R$ 230 milhões do fundo de pensão municipal sem falar nos R$ 58 milhões que tomou emprestado da Câmara Municipal. Administrador público que estiver sorrindo é o caso de prestar atenção para ver se o riso no rosto não é sequela de um derrame. No quadro secretarial, já se sabe que Eduardo Pimentel, seu vice, será um secretário-chave da gestão no setor básico de infraestrutura.

Folclore
Numa reunião de adeptos da ´´ação direta´´, um doutrinador tentava dar máxima importância a um ato singelo como o de destruir um orelhão com significado revolucionário, de ruptura e da construção de uma ordem nova semeada por black blocs. Aí, um mais racional ponderou que derrubar um orelhão não é a Tomada da Bastilha e o efeito disso seria bem menor do que o de um pum num elevador lotado.