Moratória inevitável
Um pouco de bom senso, que poderia ter precedido todos os arranjos da crise mais recente, fixou moratória na desastrosa iniciativa de impedir o reajuste automático e anteriormente negociado do funcionalismo estadual. A mensagem desconsiderava elementos do pacto, celebrado no fragor da batalha, o que não abria alternativa para os barnabés fora da greve. Como ela veio acompanhada de outra reivindicação, expressa na ocupação dos colégios, a dimensão da crise assumiu proporções catastróficas. Por maiores razões que o governo tenha na situação fiscal, imperioso é que não há condições de credibilidade na administração de impor tal sacrifício até porque o represamento de sua dívida em progressões e promoções supera quatro anos, não tendo o menor sentido misturar um compromisso inadimplente do passado (que pode ser submetido, como é da tradição, ao parcelamento) com um ainda a vencer em janeiro. Uma jogada com jeitinho de malandragem de parque, daquelas que fazem desaparecer a bolinha sob tampinhas ou nos dados viciados, cartas marcadas ou roleta mágica.
Expôs-se o governo a um desgaste inútil, que consumiu tempo e energia, minando outra vez as suas relações com os trabalhadores públicos que saíram fortalecidos, ainda que imaginando tropeços nas negociações que se travarão até o fim de novembro, quando Beto Richa espera ter novos argumentos para justificar o arrocho e até lá pelo menos se reduz a tensão, aqui representada pela greve e ocupação das universidades complementada pela das escolas, ora transferida adequadamente à responsabilidade do governo federal, no caso o Ministério da Educação, que indicará a saída para a crise, que é de sua alçada e não do governo estadual no questionamento da reforma do ensino médio, ônus incabível à gestão provincial. Agora a proposta de armistício vai para exame da assembleia e quem sabe já na segunda feira tenhamos a retomada das aulas e a esperada descompressão. Depois tudo volta como antes no quartel de Abrantes.

Dúvidas
Apareceu, ontem, em meio à pendenga reivindicatória, um relatório que coloca o Paraná junto a catorze unidades federativas com situação fiscal aceitável, do Brasil meridional o único. É curioso porque em junho de 2016 num mapeamento do mesmo Tesouro Nacional aparecíamos na classificação C+ (conceito de fraca) e São Paulo com C- (muito fraca). Melhor desempenho era o da Paraíba com A- (muito forte). Tirando os casos extremos de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Alagoas e Goiás todos com nota inferior a D, indicadora de desequilíbrio, tínhamos mais de 16 unidades com nota superior a B (entre elas Rondônia, Roraima, Amazônia, Maranhão, Ceará, Piauí, Pernambuco, Bahia, Espirito Santo, Amapá, Tocantins, Brasília, Mato Grosso) bem acima, portanto, do nosso desempenho. O critério de classificação é contestado por alguns estados por não levarem em conta o dinamismo da economia e nem a qualidade da gestão e basear-se dominantemente na dívida com a União e levando em conta resultados passados.

Mais prensa
Tanto no Instituto Federal de Educação quanto na UTFPR houve manifestações de desagrado com a reforma do ensino médio e o bloqueio do reajuste estadual. Contágio facilitado.

Multa
Volta a imperar o regime de multa para quem não mantiver os faróis acesos em rodovias federais conurbadas com as cidades como o caso da Linha Verde (ex BR-116, agora 476) na capital e outras tantas no Paraná.

Zero em saúde
Recente levantamento do Tribunal de Contas sobre os serviços de saúde prestados pelo município e Estado leva nota baixíssima.

Frente pró-barnabé
Deputados de oposição e da indefinida bancada independente (esse não ficou visível na eleição da Mesa) avaliavam ontem se o recuo do governo na questão do reajuste mantém a ideia da frente parlamentar em defesa do funcionalismo. Contribuiu para tanto a ocupação, anteontem, das galerias da Casa pelos ruidosos manifestantes.

Cunha
Preso, mas inconformado com os fundamentos da preventiva, Eduardo Cunha confessa em Curitiba que se valerá de densa argumentação no ajuste de contas com a Justiça e o juiz Sérgio Moro. Ainda que minado pela cassação, confia em sua capacidade de resistência revelada no mais longo processo da vida parlamentar brasileira e na deflagração do impeachment. O seu enquadramento em parte derruba a visão de seletividade voltada ao PT, o que também é referência em desdobramentos da Lava Jato que pega o time do PSDB e PMDB.

Folclore
O governo federal queria acelerar a votação das reformas (teto de gastos e previdência) o mais rápido possível para evitar que o debate fosse contaminado pela delação premiada em massa (uma delas de 50 executivos) da Odebrecht. Aí, veio a cana do Cunha e tudo voltou à perplexidade. Na areia movediça quanto mais se caminha tudo o mais se afunda na tentativa de desatolar-se.
Pior seria, é claro, no lamaçal da corrupção.