Filhos e pais
Da mesma forma que Ortega y Gasset falou das circunstâncias no fluxo da História (e aí poderia, por que não?, incluir o acaso tão desprezado por livre arbitristas e deterministas), há diferenças nas trajetórias de pais e filhos. Leônidas Cardoso, pai de FHC, general do Exército, liderou a campanha do "petróleo é nosso" e o rebento, na condição de presidente da República, tratou de flexibilizar o monopólio; José Richa foi o governador que mais criou direitos para o funcionalismo estadual (inventou o décimo terceiro e a isonomia entre servidores aposentados e os da ativa) e seu filho, Beto, ameaça botar todas as conquistas sob risco, inclusive rompendo a tradição secular dos reajustes sistemáticos. Claro que as circunstâncias mais do que temperam o sabor da História, já que em certos casos passam a assumir a direção dos acontecimentos. Como as coisas se condicionam ainda a fatores ideológicos, como o do monopólio estatal, não espanta que o afrouxamento das regras de domínio no pré-sal encontrem fundamento de justificação ainda que o resíduo doutrinário dê sustentação a formas de resistência. Dá para lembrar (e já fiz referência ao episódio) de Geisel admitindo, com algum constrangimento, os chamados contratos de riscos expostos à ação de grupos internacionais até pela notória ausência de capital em país pobre de poupança, como é o caso histórico do Brasil. Não foi só o governador atual que quebrou o Paraná: a saga vem de antes pega o governo Lerner com o fim do Banestado enunciado pelo escândalo da CC5, um secretário de Fazenda acumulando a presidência da Copel (Ingo esteve sob ameaça de ser preso), dois períodos sucessivos de Requião e mais esses dois inacabados do atual gestor e temos matéria de sobra, principalmente com o havido no fundo de pensão. Mas a quebra se consolida, a pá de cal, visível nos últimos acontecimentos, é da marca digital de Beto Richa. O décimo terceiro ainda sai o que mantém o feito do pai, mas o não pagamento do reajuste é feito intransferível.

Cunha em cana
Desde ontem o ex-imbatível deputado Eduardo Cunha, deflagrador do impeachment de Dilma Rousseff, está em cana. Ninguém duvidava que isso aconteceria: o correntista suíço, já punido com a cassação, encara a Justiça e geograficamente na "República de Curitiba", ironia de Lula que se transformou em mandamento, em axioma.

Sem circo
Um cuidado deveria ter sido tomado no encontro de ontem na Celepar entre governo e funcionários para explicar a dimensão da crise. Não há espaço para safadezas ideológicas e políticas, como a de fazer um segundo turno do impeachment, que parece indelével na ação de pelo menos parte da APP-Sindicato, clima de auditório de tevê com gritaria e palavras de ordem. Razões do governo precisam ser ouvidas, mas indispensável que órgãos como o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), façam a contestação técnica dos chapas-brancas. Um argumento prejudica a ação de Mauro Ricardo Costa na Fazenda: apesar da propalada dureza, a despesa cresceu mais de 10% e a receita subiu menos de 2%. Não é um sinal de precisão e competência e sugere que o oba oba da lua de mel continua.

Crise
O governo (via Mauro Ricardo Costa) fala como se a crise fosse agora, esquecendo que a Lei 17.170 das progressões e promoções é de abril de 2012, mais de quatro anos de vigência e de notória inadimplência do poder público. Papo furadíssimo. Não trincou, quebrou.

Arrastões
A Secretaria de Segurança teve ontem o encontro com grupos inconformados com a ocupação das escolas e que fazem manifestação no centro da capital no domingo, não deu esperança de reversão no processo. Já na demanda de motoristas e cobradores, vítimas de assaltos e de arrastões no interior dos coletivos, a polícia prometeu logística específica para a questão. Nada menos de R$ 272 mil foram surrupiados nessas ações.

Pesquisa
Pesquisa Opinião e Band dá Ney Leprevost na frente com 39 e Rafael Greca com 33: 51 a 46 nos votos válidos.

Inflação
Segundo fontes oficiais, a inflação acumulada até aqui é de 7,37%. Ela deveria timbrar, se o governo não tivesse quebrado, o reajuste do funcionalismo em janeiro que até lá pode acumular mais alguns pontos.

Marcação cerrada
Galerias do Legislativo ocupadas de novo por professores e outras categorias inconformadas com o não reajuste salarial. Evidência de que farão marcação cerrada e uma esperança para o funcionalismo é a frente parlamentar de apoio aos barnabés feita por oposicionistas e membros da até aqui diminuta bancada independente.

Folclore
Não paga progressões e promoções, há mais de quatro anos, e apesar de tudo o governo tenta sugerir que a crise é de agora. Permitiu o represamento justamente para negar o reajuste, acenando que pagaria os atrasados. E ainda pretende passar-se por sério ao confundir dívida com obrigação nova, o reajuste. Beto é a negação do pai, José, o anverso.