Sartre, liberdade, diálogo
Jean Paul Sartre conceituou que estamos condenados à liberdade, logo ele que durante algum tempo nutriu simpatias por ordens liberticidas como a da maioria dos países do leste europeu e que se constituiu num advogado da causa cubana na Guerra Fria e que teve a simpatia do jornal "Última Hora", reportada no texto épico "Furacão sobre Cuba" num momento em que inexistia resistência interna à revolução de Fidel. Lembro até que, quando da invasão da Baía dos Porcos por grupos mercenários norte-americanos, fizemos em Curitiba, sem qualquer licença de autoridade, comício de solidariedade à revolução. Por sinal que dos oradores que se revezaram na tribuna da Praça Tiradentes eu, o meu colega de turma da Faculdade de Direito, Leo de Almeida Neves, o mais agudo foi Cândido Martins de Oliveira, então dirigente secundarista como esses que ora ocupam colégios.
Houve uma situação inusitada: junto aos que assistiam ao ato em companhia do Sergio Matulevicius, fotógrafo da embaixada ianque no Brasil, estava uma filha de diplomata e tivemos um diálogo sobre o que ocorria. O diálogo, um dos que o usou sistematicamente foi Sócrates para chegar à maiêutica, processo dialético da compreensão, é aliás algo indispensável à visão contratualística da sociedade (o que vai muito além de Rousseau). Se estamos condenados à liberdade, indispensável para vivê-la é o diálogo.
Ainda agora age bem o secretário de Segurança em afirmar que nenhuma escola ocupada será despejada, mesmo com ordem judicial, sem o diálogo. Da mesma forma a base parlamentar do governo estadual quer levá-lo à exaustão no exame do corte do reajuste dos barnabés. Mas a determinação dos servidores mobilizados no Fórum da categoria é fazer a greve dia 17 e uma concentração de caráter nacional no dia 25. Ao diálogo não significa deserção. Façamos tudo isso com um mínimo de civilidade como se exige na ocupação das escolas, algo que até o momento não contagiou outras unidades federativas, e por essa falta de conectividade leva à suposição de vinculada à ação da APP, fortemente política.
E mais: também a ocupação de universidades estaduais e adesão à greve (essa razoável) acentuam a presunção de que a ação sindical está por trás de tudo. Se a ela seguir-se a ocupação generalizada das escolas o governo se verá impelido a sair da inércia e daí será inevitável o confronto, no qual não contará com a boa vontade da Polícia Civil que hoje se reúne para ver como apoiar a mobilização geral do funcionalismo.

Manipulação
Tentando mostrar-se operante no campo psicossocial, o chefe da Casa Civil, Valdir Rossoni, já que ele é a hierarquia política do governo, colocou mensagem na internet segundo a qual o Enem não ocorreria no Paraná por causa da ocupação das escolas e da greve. Aparentemente bem sacada, a trama foi desmontada pelo MEC e Rossoni retirou-a do Facebook. Pelo jeito está havendo escassez de "laranjas" ou os disponíveis querem mais ou se alinharam à oposição. Juntam-se no caso a falta de autocrítica à deficiência de apoio cítrico.

Alastra-se a ocupação
O governo já perdeu a batalha da comunicação na questão da greve quanto na da ocupação das escolas: havia ontem poucas com ordem judicial pela desocupação e um total de 264 sob comando rebelde, "foquismo" puro. É a consequência de o princípio da autoridade estar em baixa relativamente ao da liberdade. Está demais e isso aí, em condições normais, seria um ensaio de sublevação. Oba oba dos inconsequentes fermenta o caos.

Simbolismos
A PEC dos gastos, vitória inegável do governo, é, apesar das aparências, um símbolo, já que se trata de um ato meramente declaratório e de escassa função efetivamente atributiva, ainda mais com as restrições no tempo para dispêndios com saúde e educação. Como a força da oposição, especialmente o PT e conexos, é centrada em símbolos teremos algo como uma espécie de confronto de alegorias como a dos jogos florais em que há competição de poesia e canções declamadas, hoje valorizadíssimas com o prêmio Nobel das letras a Bob Dylan.

Praia esvazia
A previsão do Sindilitoral, que representa os interesses do empresariado litorâneo, é a de que neste ano em função da conjuntura recessiva (corte dos salários de servidores estaduais aí incluído) haverá queda de 20% no movimento comercial.

Jornada
Segundo o IBGE, 52,5% dos trabalhadores brasileiros têm uma jornada que vai de 40 a 44 horas semanais. O tema é apropriado quando um precipitado ministro falou em jornada de 12 horas por dia, embora estivesse se referindo a exceções.

Folclore
O maior caso de redundância oratorial é ainda o do vereador Soriano, de Paranaguá, que fechou seu emocionado discurso com um "e viva a paz universal do mundo inteiro todo!".