Um pouco de sonambulismo
Há quem tenha visto na reação da senadora Gleisi Hoffmann algo além da sensibilidade aguda da pessoa alinhada numa causa: ela, como boa parte da militância, cultiva a noção de que as elites voltaram a comandar a orquestra, depois de um período de avanços sociais em favor da inclusão. Na verdade, as elites deitavam e rolavam em sociedade com a companheirada no capitalismo sem riscos da sociedade brasileira na supressão ou baixa de tributos e na desoneração das folhas de pagamentos e no consumismo patrocinado na universalização do crédito consignado, no qual o marido da senadora, Paulo Bernardo, foi enquadrado.
Ainda conservando o timbre da juventude e com dificuldades para separar a realidade asfixiante do momento com o sonho interrompido de uma república de comissários do povo, dá a impressão de quem despertou de um pesadelo em transição ao sonambulismo, salto da poesia onírica para o abismo.

Cópia parcial
O pacotaço copia, em parte, dispositivo de lei idêntica de Minas Gerais na taxação de minérios, mas exclui os não metálicos por seu baixíssimo custo: a tonelada de saibro está a um preço de R$ 8 ou R$ 9 a tonelada e o governo queria aplicar taxa de R$ 3 por tonelada, um terço do valor. Industriais da região metropolitana de Curitiba que lidam com o insumo se sentem encampados, tal a espoliação. Incompetente, como vem se mostrando o governo e mais prepotente ainda. Enfim, uma cópia parcial. Dá para imaginar o que o Bento Chimelli faria se estivesse vivo.

Pessoal
27% das prefeituras, segundo o Tribunal de Contas, ultrapassam o nível prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LFR) relativo a gastos com pessoal. Entre elas, as de porte elevado como Ponta Grossa. É adequação da realidade brasileira à aldeia. Questão cultural que só o tempo vai mudar.

Barraco
A senadora paranaense, ex-chefe da Casa Civil da Presidência, aprontou barraco na sessão de abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, afirmando que o Senado não tem envergadura moral para o julgamento. O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que não está acostumado a cenários que lembram o das assembleias dos DCEs, se viu impedido a suspender a sessão, dado o alarido provocado. A bancada paranaense ainda pode expor mais dois pontos de vista, um exaltado de Roberto Requião, acusando o imperialismo internacional por trás de tudo e o também candente, mas de apoio ao afastamento definitivo da presidente, por parte de Alvaro Dias.
Quando da vinda das montadoras também os senadores Requião e Osmar Dias na Comissão de Assuntos Econômicos ( CAE) do Senado, negavam apoio e apenas José Eduardo Andrade Vieira se colocara a favor dos interesses paranaenses. Maioria deve perder de novo.

Mimetismo
O Ministério Público eleitoral está impugnando a candidatura do clone e irmão do Professor Galdino que com os mesmos trajes, número eleitoral e outros elementos identitários como o jingle de campanha se candidatou. Além disso, sai às ruas de bicicleta e dançando como se fosse outra pessoa. Se cada candidato que expusesse o que não é fosse impugnado, por acaso sobraria alguém para votar? Quando o povo vota no rinoceronte Cacareco e no macaco Simão ou ainda, em Olinda, no Bode Cheiroso já se revela identificado com a burla eleitoral tentando negá-la, mas reafirmando-a.

Multa
O Ministério Público Federal quer aplicar multa de R$ 1,5 bi no casal João Santana-Mônica Moura em função dos recursos recebidos em caixa dois da campanha presidencial de origem externa e supostamente do propinoduto da Petrobras.

Dívidas & dúvidas
Pesquisa nacional do Serviço de Proteção ao Crédito e da Confederação de Dirigentes Lojistas apontou, anteontem, que de cada seis de dez entrevistados entendem que a situação financeira de 2015 era melhor e que apenas um em cada cinco tem intenção de pagar o que deve em até 90 dias. Uma das apostas do governo Lula-Dilma foi a de fomentar o consumo e que teve seus picos de sucesso com a ampliação dos quadros tidos como de classe média. Dos devedores de 90 dias, conforme a amostragem, 92,2% são das classes C/D/E e 58,8% deles têm ensino médio completo ou incompleto. Perda de emprego é o motivo (28,2%), seguido de diminuição da renda (14,8%), perda de controles e empréstimo do nome feitas por outros. Já os compromissos em dia são aluguel (94,9%), planos de saúde (91,8%), condomínio (91,3%) Como o Sísifo, 46% dos brasileiros carrega às costas uma dívida maior que a rocha da lenda. Por isso, se diz que esse imaginário Sísifo sifo, sufocado pela rocha que levava até o alto da montanha e que repetia o movimento quando ela rolava a meio do percurso. Parábola da tragédia humana, como a viu Albert Camus.