Alargamento das leis
Como cada vez mais a exegese, isso é a interpretação, vale mais do que está escrito teríamos nos juristas algo como Champolion para hieróglifos e as letras cuneiformes. Ainda agora o STF, por maioria, fulminou a Lei da Ficha Limpa, obtida pela forma possível de democracia direta, via lei de iniciativa popular, entendendo que veto dos tribunais de contas, se não ratificados por 50% dos vereadores, seria insuficiente para fulminar um gestor e marcar-lhe com a "capitis diminutio" e um cartão amarelo avermelhado.
Isso se não inviabiliza, o diploma o fere de morte e reduz ao nanismo a relevância das cortes de contas que, no caso, têm um distanciamento dos fatos municipais que não se observa com os estaduais quase sempre cúmplices de quem está no poder, como é a circunstância histórica aqui do Paraná. E é justamente o rigor dessas glosas e vetos que vão criando uma nova base institucional para o acompanhamento das contas públicas.
Há outra questão, que não é igual, todavia conserva semelhança, é a que se examina no STJ relativamente a investigações e denúncia contra governadores se deveriam ser precedidas ou não de aprovação das suas respectivas assembleias. Ora, se assim fosse o processo estancaria e desconhecer esse fato é não interpretar adequadamente as deformações do federalismo brasileiro.
Assim, no primeiro caso – o da amplitude fiscal do TC- é visível que pode exercer plenamente tal prerrogativa e, que se lhe fosse negada, o melhor seria declarar a inexistência da corte e, no segundo, ainda ontem pela reação de Ademar Traiano, presidente do Legislativo estadual, se percebeu o grau de subordinação aos interesses do Executivo no pacotaço, combatido em audiência pública no plenarinho da Casa pela sociedade organizada. Imaginem se a investigação em andamento no STJ fosse precedida de autorização parlamentar, ela simplesmente não ocorreria. Quem aprova massacre afinal aceita tudo.

Reação tardia
Traiano estava muito seguro como governador interino, mas desatento no futuro próximo com a sua volta à presidência da Assembleia e retornou, furioso, porque seu diretor-geral teria agido com leviandade ao admitir a audiência sobre o pacote, na qual a OAB-PR, cumprindo o seu mais estrito dever, fulminou-o com inconstitucionalidade que sustentará na via judicial. Quem falhou foi ele e não o servidor que seguiu praxe liberal da instituição e não cometeu crimes como os que se davam anteriormente no mesmo posto.
Claro que os interesses do governo Richa (repudiado em pesquisa por 70%) foram duramente atingidos porque outra sociedade, que não a parlamentar, engajada, foi ouvida.

Temer faz maioria
Na pesquisa que mostrou Beto Richa subindo de 25,8% para 29,8% de apoios houve sondagem sobre Michel Temer que conseguiu 46,4% de aprovação contra 45,4% de rejeição em 92 cidades do Paraná focadas pelas Paraná Pesquisas. Consenso maior é o de 69% contra Dilma-Temer e por uma nova eleição. O esforço do situacionismo em ´´pinçar´´ indicadores que apontem redução de queda ou mesmo de melhoria na economia para promover o interino é total. Mesmo assim, vai muito mal e, pela antipatia, acaba merecendo o apodo de usurpador. Como sempre coloquei, a opção Dilma-Temer é falsa e oposta à maioria do povo, mesmo que se considere o retorno da afastada como o pior de tudo, inimaginável.

Doações
Está até agora muito fraquinho aqui e no Paraná o movimento de doações aos candidatos a prefeitos. Em Curitiba há R$ 1,2 milhão nos registros do Tribunal Eleitoral, R$ 600 mil dos quais de Rafael Greca (grana própria) . O público está de olho em tudo como se percebeu pelo debate de ontem na Band.

Transporte
Enquanto está meio travado o debate sobre o VLT (um grupo quer sobre pneus), a choradeira institucional do cartel é que o número de passageiros caiu em 18% nos últimos quinze anos, aumento da frota de automóveis teria subido 93% e a de motocas em 243% e não há cálculo para o uso intensivo da bicicleta. Ontem tivemos greve parcial numa das empresas metropolitanas sob o fundamento de que estava demitindo, alarmismo decorrente do quadro de tensão vivido nas empresas que já declararam que não vão pagar o 13º com o que levantam a bola para o Sindimoc cortar. É a comédia de sempre repetida como farsa.

Folclore
A alta das tarifas nos ônibus levou muita gente a comprar um carro usado para driblar o problema: um dono de estacionamento relatou que isso se deu com quatro manobristas dos quais não queria cobrar o espaço usado pelos veículos. Se cobrasse, ficaria antieconômica. Esse é o drama da queda de demanda no transporte de massas: mais motoristas e aumento dos pedestres, para os quais não há cálculos. Percebe-se que essa é uma razão possível do aumento de sapatarias populares e de farmácias, aquelas para garantir o pisar e essas para cuidar dos joanetes e calos, tamanha a maratona. Na economia pouco se cria, mas tudo se transforma. Empresários ameaçam devolver os ônibus à prefeitura e buscam na Justiça a indenização. A esperança é o Gaeco enquadrar essa soberba e arrogância.