Neutralidade impositiva
Abomina-se quando o país fica rigidamente dividido à neutralidade. Lembro até de um discurso de dom Helder Câmara em plena Suíça, cultora por tradição, da negativa de engajamento, contra essa postura tida pelo líder religioso como afrontosa à aventura humana sob qualquer condição, ainda que estivéssemos dominados por uma Guerra Fria que reduzia tudo ao rigor de dois campos.
Se há quadro em que a neutralidade é a forma mais criativa de denunciar o falso maniqueísmo, é a hoje exposta entre os bunkers de Michel Temer e o da presidente afastada Dilma Rousseff pelo fato de que os dois setores são contaminados pela corrupção e destinação miserável a que condenaram o país. E isso ficou mais claro com as revelações da conversa entre o senador Romero Jucá e Sérgio Machado, da Transpetro, em que o hoje licenciado ministro do Planejamento de Temer fala na necessidade de um pacto para deter a Lava Jato e o teor da conversa sugere que isso estava nos fundamentos do impeachment. Pelo grau de comprometimento, portanto, dos dois lados por tudo de ruim que está ocorrendo, a neutralidade é impositiva e espera-se que ela esteja configurada na operação judicial, a mais importante de toda a história do Judiciário no país, e cuja relevância se sobrepõe ao próprio impeachment, a despeito de sua força traumática numa democracia que se respeite.
Em cima do impeachment, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu que seria inevitável alguma ação com o objetivo de "melar" a Lava Jato e que se isso ocorresse era dever imperioso do PSDB deixar, incontinente, o governo. Dias passados me referi aqui ao cinismo dos nossos políticos que em nome da tal restauração nacional (como se eles não fossem sócios comanditários do lulopetismo há tanto tempo) seriam capazes de tudo, inclusive de citar o histórico Pacto de Moncloa que removeu os resíduos do fascismo e a preparou a Espanha para o mundo contemporâneo em acordo nacional.
Opção entre o governo interino e o afastado, como linha axiológica, de valor, é falsa. O que há de melhor no Brasil atual é o livre desenvolvimento da Lava Jato, cuja característica mais forte é, sobretudo, republicana. Nada mais republicano do que ela, daí sua força-tarefa não crer em qualquer hipótese de bloqueio a suas atividades. Ela é neutra, os dois polos não.

E as nossas?
Se para o Brasil a Lava Jato é fundamental, pode-se dizer o mesmo no Paraná da Publicano, já na sua quinta etapa e agora na acusação de mais 27 pessoas, e da Quadro Negro, ambas com gente diretamente ligada ao governo envolvida, convivas da intimidade governamental em arrancadas automobilísticas e partidas de tênis. Essa a razão principal da resistência dos deputados para uma CPI que até ontem só havia conseguido 16 assinaturas em favor da apreciação da Publicano que trata do maior assalto na Receita Estadual em nossa história político-administrativa, Até agora não consta que o Gaeco tenha, no caso da Valor, acusada dos golpes nas construções escolares, investigado se esses R$ 20 milhões desviados tenham servido de aporte, uma espécie de capital de giro, em sua atuação no mercado. O dirigente continua preso, mas há ainda entre os relacionados como beneficiários gente ligada (ao ponto de prática de tênis com o governador) e figuras como o presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, o conselheiro do Tribunal de Contas Durval Amaral e seu filho, Thiago, deputado estadual. Como se vê, o que a Lava Jato representa para o país, as operações do Gaeco, Publicano e Quadro Negro, são relevantíssimas na perspectiva regional. É ruptura com a acomodação clássica dos políticos e dos ajustes da sociedade cartorial com a fraude, tudo como se fosse praxe e respeito aos costumes.

Trânsito
Um dia aziago para o trânsito em Curitiba ontem: pela manhã um ônibus e um caminhão desgovernados provocaram acidente no bairro Uberaba em doze carros com cinco feridos e à tarde num estacionamento da 13 de Maio o descontrole do acelerador levou a morte de duas idosas num veículo que conduzia quatro.
Ainda ontem à tarde a Secretaria de Trânsito municipal comunicou que de janeiro a abril tivemos 144 mil multas, das quais a maioria por excesso de velocidade.

Pessimismo
Obviamente, segundo pesquisas da Federação do Comércio, caíram muito as intenções de consumo das famílias paranaenses, a maior dos últimos seis anos.

Folclore
Entre os presos da Lava Jato um momento de euforia por má informação: celebravam o feriado da próxima quinta-feira como o dia do habeas corpus quando se trata, como sabemos, de Corpus Christi.