FGV saiu na frente
Antes que alguém (mormente políticos do governo atual) se apropriasse do fato de que a recessão se extinguiu em dezembro de 2016 e a faturasse como obra sua, um conselho superior da Fundação Getúlio Vargas fez a divulgação do fato semana passada. Assim mesmo, a notícia em si favorece a escalada de sinais positivos no horizonte da economia entre as quais a melhora sensível no registro de trabalho com carteira assinada e recorde de vendas em nossas montadoras, tanto no mercado interno quanto na exportação, bem como melhoras na performance em setores industriais e serviços. Obviamente, tais melhorias favorecem o atual governo, sua bandeira de reformas e a agenda de medidas que irão desafogar ainda mais a economia. Nesse clima é que se pretende ungir o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, como postulante presidencial pelo PSD, que é a figura de maior credibilidade, principalmente externa e, consequentemente, do mercado, a desempenhar tal papel. Já há um plano para levá-lo ao Amazonas e mais ainda aos dois Estados governados pela sigla, o Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Essa é uma das mais fortes especulações do momento. É perceptível que nada dos ônus do governo Michel Temer, como se uma barreira sanitária o protegesse, atinge o ministro e ao contrário de todos é quem tem a imagem mais forte em termos de identificação com o mercado, valor mais cultuado pelo tal reformismo e o discurso corriqueiro da moda.

Justiça do trabalho
Estudo recente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostra que esse setor do Judiciário trabalhista, além de caro demais e lento, não favorece o trabalhador, como se costuma dizer. Apenas 2% das queixas são tidas como procedentes e o prazo para receber a sentença na primeira instância é de sete meses em média, conforme apuração de 2015 e nos tribunais regionais as ações duram oito meses e nos superiores um pouco mais de um ano. Fase de execução é a mais demorada, levando em média três anos e meio. Um trabalhador, ainda conforme esse estudo, recebe, em média, R$ 4.500 por reclamação.

Essa avaliação valoriza intervenções como as de comitê de fábricas com representação de traço paritário antes da mediação judicial e isso se dá em meio a um momento em que parte do Congresso, como retaliação à declaração de juízes trabalhistas que em suas decisões não reconheceriam como constitucionais e legítimas as inovações da reforma trabalhista estariam dispostos em extinguir todo o aparato da justiça do trabalho. A tese de mediação é defendida por muitos magistrados como capazes de reduzir drasticamente o número das demandas. Uma das sínteses do estudo diz o seguinte: para cada R$ 1 pago aos empregados, a Justiça do Trabalho desembolsou R$ 0,91 e a União arrecadou R$ 0,16.

As análises são apropriadas, mas não chegam a tempo, já que a reforma trabalhista, meia boca ou meia sola pouco importa, entra em vigor em 11 de novembro.

Flagra
No fim de semana algo de espetacular, como feito policial, em Mandirituba na BR-116 quando quadrilheiros assaltaram dois ônibus de turismo com destino ao Paraguai e foram apanhados em plena ação criminosa. Esse tipo de delito é um dos mais frequentes em nossas estradas e dirigido especialmente contra os compristas de mercadorias em Ciudad del Este.

Menos muda
Como se esperava, a microrreforma política só favorece os atuais mandatários e, ao invés de diminuir a distância entre a representação e o Congresso, cortará o embalo da renovação que apresentava um nível percentual de 50% dos deputados federais. Assim a taxa de renovação histórica na média dos 40% dificilmente crescerá. Grandes partidos e políticos com mandato serão os beneficiários da reforma. Como o fim das coligações proporcionais só virá em 2020, o interregno favorecerá atuais mandatários.

Profissões em extinção
O impacto das novas tecnologias está criando um clima de extinção de profissões como se dá com os bancários e em medida menor com jornalistas. Um dirigente do Itaú referiu-se, anos passados, a um descarte de 10 mil trabalhadores e o disse com a maior placidez. Agora, uma pesquisa Febraban 2017, alusiva ao ano passado, revela que meios de móbile e internet banking responderiam por 57% das operações, o império das agências virtuais. Em que pese a sequência de greves anuais e prolongadas dos bancários, não há sinais de reversão e sim, cada vez mais, de piora e agravamento nos espaços no mercado. Movimento de saques, ano passado, foi de R$ 1,2 bilhão em caixas eletrônicos e agências, R$ 100 milhões a mais que em 2015.

Folclore
Nos anos 50, fez-se, sob Munhoz da Rocha, a inauguração do grande auditório do Teatro Guaíra, ainda inconcluso com madeirame exposto, e o povão encheu o teatro para ver a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo consagrado maestro Eleazar de Carvalho. Um verdadeiro happening tomou conta do ambiente (mais adequado para uma sessão pedagógica de um Karabicheviski explicando, instrumento por instrumento, a sua função) com o público pisando em cascas de amendoim, estourando pacotes de pipocas ou ainda soltando aviõezinhos que chegavam perto da cabeça dos instrumentistas. Naquele dia, os bairros invadiram o centro de Curitiba e habituados às artes empinavam os narizes, sobressaltados.