Monstros da floresta
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 17 de julho de 2017
Marcos Losnak<br>Especial para a Folha2
Quando os colonizadores portugueses aportaram em território brasileiro no século 16, encontraram um mundo desconhecido. Numa floresta de novidades, entraram em contato com seres fantásticos que povoam o imaginário dos povos indígenas.
Em cartas escritas em 1560, o padre José de Anchieta (1534 1597) mencionava a presença de seres como Curupira, Boitatá e Anhangá. Numa dessas cartas, Anchieta escreveu: "É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios, a que os Brasis chamam curupira, que acometem aos índios muitas vezes no mato, dão-lhe açoites, machucam-nos e matam-nos. São testemunhas disto os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles."
Os religiosos jesuítas chamavam esses seres do imaginário indígena de "espíritos maus". Seres que passaram a ser considerados "diabos" por razões religiosas com o objetivo de conversão.
Muito longe de serem demônios, Curupira, Boitatá, Anhangá e muitos outros seres fantásticos integram o patrimônio do folclore brasileiro há mais de cinco séculos. Apresentar essas figuras às novas gerações é o objetivo da educadora Januária Cristina Alves com a coleção "Personagens do Folclore Brasileiro".
O quarto voluma da coleção, "O Curupira e Outros Seres Fantásticos do Folclore Brasileiro" acaba de ser lançado pela editora FTD com ilustrações de Berje. A obra apresenta ao público infantojuvenil figuras como Boitatá, Cobra-Nonato, Anhangá, Caipora, além do próprio Curupira.
O mais instigante deles, o Anhangá, parece ser o mais determinado. Protetor dos animais, nada pode vencê-lo. Trata-se de um ser que pode assumir a forma que quiser. Pode assumir a forma de homem, tatu, boi, pássaro, tartaruga ou peixe. A forma mais comum é a de um veado branco com olhos de fogo, chifres cobertos de pelos e uma cruz tatuada na testa, também chamado de Suaçu-Anhangá.
Entre suas práticas, está morder o cano das espingardas dos caçadores que entram nas matas para matar animais. É capaz de moer as armas com os dentes. Também é capaz de desviar as balas da direção dos bichos e redirecioná-las de volta para a pessoa que disparou a arma.
Assim como o Anhangá, outros personagens como Curupira, o Boitatá e a Caipora possuem uma missão muito especial no imaginário indígena: proteger os animais da floresta da ganância dos caçadores. Uma missão que começou a mais de cinco séculos atrás.
Serviço
"O Curupira e Outros Seres Fantásticos do Folclore Brasileiro"
Autora Januária Cristina Alves
Ilustrações Berje
Posfácio Ana Miranda
Editora FTD
Páginas 48
Quanto R$ 39