Yoko Ogawa:com três livros lançados no Brasil, desde 2003, autora já conquistou leitores nos EUA e Europa
Yoko Ogawa:com três livros lançados no Brasil, desde 2003, autora já conquistou leitores nos EUA e Europa | Foto: Divulgação


A trama é instigante, apesar de sua simplicidade. Uma empregada doméstica recebe a incumbência de trabalhar na casa de um solitário professor de matemática aposentado. No primeiro dia de trabalho fica sabendo que o professor possui problemas de memória provocados por um acidente de automóvel.

A cabeça do sujeito funciona de uma maneira bem específica. Sua memória é perfeita até 1975, ano em que sofreu o acidente. Após essa data, sua memória dura apenas 80 minutos. Ao decorrer do dia, a cada 80 minutos suas lembranças zeram, voltam ao branco total. Sua memória recente existe por um tempo determinado e exato.

Essa é o ponto de partida de "A Fórmula Preferida do Professor", romance da escritora japonesa Yoko Ogawa que acaba de ser lançado pela editora Estação Liberdade. Muito mais do que uma história sobre os mecanismos da memória, a obra é uma declaração de amor aos números e ao mundo da matemática.

Todo dia quando chega ao trabalho, a empregada precisa se apresentar, pois o professor não se lembra dela. Ao longo do dia esse procedimento se repete várias vezes em meio a suas atividades em limpar a casa, lavar roupa e preparar almoço. Para se lembrar das coisas mais importantes, o professor faz uso de um recurso peculiar: cola pequenos lembretes na camisa ou blusa.

A matemática é o sentido da vida do professor. Sua maneira de relacionar com as pessoas e com o mundo passa necessariamente pelos números. E assim a relação entre ele e a empregada também passa a ser através da matemática. A maneira como ele explica as contas e equações encanta a mulher. E ela, que até então vivia num mundo onde os números eram detalhes chatos, passa a amar o universo da matemática.

Quando o professor descobre que a emprega é mãe solteira e que deixa sozinho em casa seu filho para poder trabalhar, solicita que ela traga o garoto para ao trabalho. Assim tem início uma relação afetiva entre os três pautada pela matemática.

Em "A Fórmula Preferida do Professor" Yoko Ogawa promove a humanização da matemática, coloca a afetividade no seio do universo dos números. Lançado originalmente no Japão em 2003, o romance se tornou rapidamente um best-seller com mais de quatro milhões de exemplares vendidos. Em 2006 foi adaptado para o cinema pelo cineasta japonês Takashi Koizumi.

Livro profundamente amoroso, "A Fórmula Preferida do Professor" é o terceiro romance de Yoko Ogawa publicado no Brasil. O primeiro, "Hotel Iris", foi publicado em 2011 pela editora Leya. O segundo, "O Museu do Silêncio" foi lançado o anos passado pela editora Estação Liberdade. Nascida em 1962 na cidade de Okayama, Yoko Ogawa é uma das escritoras cultuadas da literatura japonesa contemporânea. Nos últimos anos suas histórias caíram no gosto dos leitores da Europa e Estados Unidos.

O personagem do professor criado pela escritora é a grande revelação da trama de "A Fórmula Preferida do Professor". Vivendo num mundo paralelo das pessoas comuns, revela que a comunicação criativa pode conter um valor grandioso. E coloca em prática algo parecido com a essência da arte: "A perfeição matemática é bela porque não tem utilidade na vida prática."

Serviço:
"A Fórmula Preferida do Professor"
Autor – Yoko Ogawa
Editora – Estação Liberdade
Tradução – Shintaro Hayashi
Páginas – 232
Quanto – R$ 43


Fragmento:

Foi só um tempo depois de começar a trabalhar para ele que percebi seu hábito de recorrer a números, em vez de palavras, sempre que se sentia confuso e não sabia o que dizer. Era a forma de comunicação que ele desenvolvera para interagir com as pessoas. Os números cumpriam o papel da mão direita estendida para o aperto de mão, e também o de um sobretudo que protegia seu corpo. Um sobretudo tão grosso e pesado que ocultava o formato de seu corpo, e que ninguém o convencia a despir. Enquanto ele o vestisse, seu lugar no mundo estava garantido.

(Fragmento de "A Fórmula Preferida do Professor", de Yoko Ogawa)