O desenvolvimento econômico, social e sustentável está intimamente ligado à produção acadêmica e científica. Isto já era observado na revolução industrial, e intensificou-se na Segunda Guerra, conflito cujo desfecho contou com interação decisiva entre universidades, empresas e Estado. Venceu quem mais mobilizou a comunidade científica, integrando-a ao potencial produtivo. O rápido desenvolvimento do Japão e da Coreia do Sul ilustram como esta mobilização extrapolou os objetivos bélicos e atingiu o âmago do sistema produtivo atualmente.

No Brasil, também há clareza do papel central do conhecimento como propulsor do crescimento. No entanto, a crise econômica e política que atinge o país está levando os atores que podem tornar conhecimento em riqueza a se concentrar na busca de soluções de curto prazo. Este comportamento compromete gravemente a produção científica, atividade essencialmente de longo prazo. Na contramão das boas experiências, este ano o governo brasileiro cortou em mais de 40% o orçamento de ciência e tecnologia, o menor investimento em 20 anos.

Os cenários mundial e nacional nos dão uma boa base para pensarmos o desenvolvimento de Londrina e região. O município possui uma das maiores e melhores universidades públicas do País, a UEL (Universidade Estadual de Londrina), além de institutos de pesquisa e várias outras instituições de ensino superior. Especificamente, no caso da UEL, tem-se uma estrutura física e de equipamentos razoável, embora ainda insuficiente e em processo de deterioração devido ao baixo investimento público, mais um enorme capital humano, baseado no corpo técnico e docente, com um potencial testado, comprovado e absolutamente preparado para fazer frente ao desafio de desenvolver nossa região.

No entanto, alguns obstáculos podem barrar esse potencial. Primeiro é a falta de clareza da política de ciência e tecnologia por parte Estado. O segundo ponto é a busca pelo setor produtivo de soluções de curto prazo, que prejudicam o planejamento estratégico das empresas públicas e privadas, dificultando possíveis parcerias universidade-empresas. Por fim, a estrutura de governança da UEL, desenvolvida com pioneirismo e arrojo desde sua fundação, tornou-se inadequada para os desafios que a instituição tem que enfrentar.

Por que reformular a governança da UEL é importante? A governança é necessária no setor privado quando existe uma dissociação entre gestão e propriedade, o que pode gerar um conflito entre os objetivos do gestor e os do proprietário. A governança deve existir para que esses objetivos convirjam. No setor público, os gestores não são os proprietários, a propriedade é social, portanto, a governança pública é mais necessária ainda, uma vez que os objetivos dos gestores devem convergir para os objetivos da sociedade. A UEL é propriedade da sociedade, foi criada a partir do esforço da sociedade para contribuir com o desenvolvimento. Cada centavo investido é um esforço social.

A pedra fundamental da governança da UEL e das demais universidades é a autonomia. A sociedade reconheceu isto na Constituição Federal, pois é um instrumento que confere a liberdade necessária para se praticar ciência e ensino de alto nível. Sem ela, pesquisadores e professores ficam prisioneiros dos resultados de curto prazo.

A autonomia não existe para o conforto corporativo, mas para que os membros da comunidade acadêmica e científica possam desempenhar todo seu potencial produtivo. Neste momento de grave crise, cabe à comunidade acadêmica demonstrar para a sociedade que a prosperidade da Universidade pode se converter em prosperidade social, que a UEL não existe para si. Ou como diz o Nobel de Economia, Joseph Stiglitz: "A única prosperidade sustentável e real é a prosperidade compartilhável".

SÉRGIO CARVALHO é professor do departamento de Economia da UEL

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br