Guerra na Síria, atentado em Berlim, policiais sendo atacados, assassinato de cônsul, violência urbana, extrema esquerda x ultraconservadora direita, economia instável, reforma da previdência. Incerteza foi a tônica de 2016 e deixará marcas que teremos de enfrentar em 2017. Em um contexto tão turbulento, é preciso levar em consideração uma característica da qual pouco se tem falado: a tolerância.

Ao falarmos sobre ela, precisamos reconhecer previamente que, como seres que vivem em sociedade, temos diferenças e preferências individuais e, mais do que isso, precisamos compreender e reconhecer a liberdade de existir do outro de modo distinto das nossas próprias convicções e dos sentimentos que construímos em relação a nós mesmos e à sociedade na qual vivemos.

Mas, tolerância não nasce pronta. Precisa ser construída a partir das relações que estabelecemos com o mundo e com as pessoas desde a infância. Ou seja, é convivendo com as diferenças que nos percebemos como diferentes tanto quanto o outro. E, nestas relações, por vezes conflituosas, é que vamos forjando e refinando nossas percepções e convicções.

Os ambientes familiares e escolares nos trazem nossos primeiros desafios. Mas é na escola que encontramos a diversidade necessária para aprendermos sobre as belezas e durezas da convivência humana.

Na escola encontramos ambiente propício para o desenvolvimento de uma das principais habilidades sociais do ser humano: a empatia, que está ligada à maneira como percebemos o outro, e como somos capazes de nos colocarmos no lugar do outro e de perceber o mundo sob sua perspectiva.


Ser tolerante, então, pressupõe que tenhamos nossos pontos de vista, acreditemos neles, mas que não os consideremos os únicos possíveis. Requer que, de modo autônomo, nos desliguemos de certezas e convicções em busca de um conhecer mais amplo. Ser tolerante nos convida a ampliar nossos próprios horizontes.


À escola cabe contribuir para a construção de sujeitos mais tolerantes e capazes de aplicar a empatia no seu dia a dia, uma vez que é nesse ambiente que ocorrem as primeiras interações fora da família. Na escola, regras de convivência social são exercitadas e criadas continuamente. Frustrações e satisfações se intercalam no conviver infantil, e cabe aos professores e demais profissionais, intermediar os relacionamentos e sentimentos de modo construtivo. As diferenças individuais estão para além de se pensar na criança com deficiências ou com situações étnicas e sociais diferentes, mas compreender que a diferença é inerente ao ser humano em suas condições físicas, intelectuais, culturais e sociais.

Nesse processo que envolve erros e acertos, a tomada de consciência sobre um relacionamento humano harmônico vai sendo edificada. Ao ser chamada para ser parte da solução de problemas oriundos do convívio e não apenas para uma "chamada de atenção", a criança vai sendo empoderada para que, aos poucos, consiga resolver de modo autônomo os conflitos e embates sociais com os quais convive.

Família e escola, ao interagirem para promover melhores níveis de aceitação das diferenças e ao promoverem a convivência construtiva, comprometem-se com uma sociedade menos excludente e conflituosa.

Na escola, situações pedagógicas devem incentivar que alunos falem sobre si, sobre seus sentimentos em rodas de conversa, assembleias, leitura e interpretação dialógica sobre situações reais ou hipotéticas. Que criem cooperativamente regras de convivência e que se responsabilizem pela aplicação destas regras e de possíveis sansões quando há descumprimento dos "combinados". Essas oportunidades criadas promovem experiências de aprendizagem construindo valores essenciais à convivência e amenizam situações de exclusão e de bullying.


Todo aquele cenário de 2016 irá desaparecer ao ser tolerante? Não, porém, irá facilitar a busca por soluções pacíficas, respeitando o olhar do outro e permitindo chegar a um resultado que beneficie a todos. A tolerância será a tônica para 2017.

EDNA LUIZA PERCEGONA é pedagoga em Curitiba

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br