A chamada Igreja de Francisco teima em decolar, apesar dos embates internos e das contradições que insistem em se perpetuar. O papa argentino está obstinado em dar à Igreja um rosto cada vez mais missionário e bíblico, ensopado do ideal evangélico, mas as estruturas e o pensamento pré-conciliar ainda instalado em determinados setores do clero, criam razoáveis dificuldades a essa caminhada franciscana, no pleno sentido do termo! Francisco é determinado e já disse que seguirá adiante malgrado a oposição, mas sabemos o quanto isso desgasta e são já claros os sinais de cansaço físico do Santo Padre.

Uma instituição que os leigos católicos pouco conhecem e que se revela cada vez mais obsoleta e inócua é a chamada Nunciatura Apostólica. É o departamento do Vaticano responsável pelos "embaixadores" da Santa Sé nos vários países com quem mantém relações diplomáticas. Não é representante do Estado do Vaticano, mas da Santa Sé. Diga-se, representante do papa e do seu governo junto aos outros governos. Como dizia o papa Paulo VI, a Santa Sé é um organismo completamente especial, pela sua origem, pela sua natureza e pelos seus fins.

A Nunciatura Apostólica é uma instituição que embora tenha raízes mais antigas, remota na sua performance atual ao final do Século XVI. Não teríamos muita dificuldade em aceitar a validade e a lógica destes legados papais junto aos países, defendendo os interesses dos fiéis católicos representados no governo central de Roma, na pessoa do papa eleito, não fosse outra figura que surge na discussão. Refiro-me às Conferências Episcopais. É a organização nacional das várias dioceses com os seus bispos, formando um organismo de comunhão e orientação, no âmbito da Igreja dentro desse determinado país. No Brasil, temos a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que todos conhecem.

Os núncios representam o papa, mas nem sempre o pensamento papal! O óbvio nos assiste para deduzirmos que os ventos de Roma podem demorar a chegar aos vários recônditos onde está a Igreja Católica na pessoa dos fiéis batizados.

Acrescente-se a isto, o poder que é reservado às nunciaturas na escolha dos bispos locais, tendo elas praticamente a última palavra. Esse processo também é infelizmente quase totalmente desconhecido pela maioria dos católicos! O bispo é geralmente recebido com muito amor e carinho, como um pai espiritual, mas poucos sabem como ele chegou ali. A Conferência Episcopal fica de fora, como noutros assuntos de relevada importância. Diga-se, a guizo de justiça, que a figura do núncio e seu papel, também varia de país para país, uma vez que as incumbências institucionais passam inevitavelmente pela pessoa que desempenha essa função. No Brasil, concretamente, não existem até hoje queixas explicitas.

Nos anos sessenta não foram poucos os bispos que ao redor do mundo denunciaram como imprópria a figura das nunciaturas apostólicas, acusando-as inclusive de roubar a autonomia que as conferências episcopais regionais tinham ganho com o Concílio Vaticano II. Hoje com a papa Francisco, o assunto volta à tona e várias vozes de respeito se escutam nesta direção. São muitos milhões de dólares que se gastam na manutenção das cerca de 150 embaixadas da Santa Sé pelo mundo afora! Dinheiro esse, que com certeza o atual papa daria um bom encaminhamento!

No Brasil, temos uma ótima Conferência Episcopal (a CNBB). Ao longo dos últimos anos teve uma participação profética na formação da sociedade brasileira e com certeza representou de forma brilhante os ideais bíblicos que constituem a Missão da própria Igreja. Ninguém duvida que seria uma ótima mediadora entre a Santa Sé de Francisco e os governos de plantão neste país! Mais eficaz, mais justa e mais ágil e quem sabe mais criteriosa.

MANUEL JOAQUIM R. DOS SANTOS é padre na Arquidiocese de Londrina

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