Vivemos um tempo no qual a sociedade brasileira convive com a exposição das nossas piores chagas. São dias sofridos, que testam nossa capacidade de enxergar o caminho em meio ao caos econômico e político.

Aos poucos vamos entendendo a origem das nossas mazelas, descobrindo duramente a verdade: não há fórmulas mágicas para conquistar justiça e desenvolvimento, ética e paz social, politização e discernimento. Estas conquistas são prêmios que uma sociedade recebe após as dores inerentes do processo histórico.

Os desembargadores do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) se juntaram ao entendimento da "República de Curitiba" e de vasta parcela da população para cumprir mais uma etapa do nosso processo de purificação, imenso e longo processo por sinal, que desgasta tanto ainda que nos engrandeça tanto.

Impor uma decisão tão contundente ao principal líder popular das últimas décadas, reconhecendo, com alta dose de certeza, o cometimento de crimes por parte do ex-presidente (delitos graves que liquidaram sua integridade moral), é um marco para o Brasil.

Composta por admiráveis brasileiros que desde o início acreditaram nas próprias capacidades técnicas para debelar organizações criminosas suprapartidárias, inescrupulosas, poderosas, a Operação Lava Jato já havia passado um recado, agora mais efetivo com este peremptório 3 a 0: a autêntica democracia é o império da lei. Conforme defendeu o procurador Maurício Gerum, citando a literatura de Dostoievski: "Em uma república todos os homens são de carne".

Se precisamos de disciplina no jogo social, precisamos de exemplos. Se precisamos de exemplos, este é o mais bem acabado para influenciar as futuras gerações de homens públicos.

A Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) entende que a decisão de Porto Alegre, independentemente dos seus efeitos na vida pública do País, é uma vitória para todos os brasileiros que lutam contra os "fichas sujas", contra o personalismo na política, contra a falta de limites entre o espaço público e o espaço privado, contra o instituto do tráfico de influência, do fisiologismo, do populismo e da mentira como estratégia eleitoral.

Mas há os desejáveis bônus. A inelegibilidade do ex-presidente, a nosso ver uma consequência natural da decisão do TRF-4, antecipa o início da transição na nossa cultura política, mais conveniente aos clamores por representatividade, austeridade e seriedade que toma corpo na opinião pública ao fim desta traumatizante década.

Da nossa parte, vamos nos empenhar para que o eleitorado continue enxergando nas urnas uma chance para fundar uma nova política, percebendo claramente o nexo entre o aperfeiçoamento do civismo, a capacidade da escolha, a própria escolha e a qualidade dos mandatos.

Quanto mais nos informamos e participarmos da vida pública, mais próxima ela está dos nossas expectativas. A repulsa que nos consome a cada escândalo só é válida se nos move rumo à participação nos principais debates sobre o bairro, a cidade, o Estado, o País.


Os 3 a 0 de Porto Alegre são um alento para continuarmos apoiando todos os órgãos de controle, defendendo a lei e a independência dos poderes.

Se hoje sentimos a euforia de um vento democrático que varre momentaneamente nossas angústias de brasileiros desapontados, é porque muitos não pensaram duas vezes em se manifestar nas ruas e nas redes sociais apoiando a Lava Jato como um instrumento excepcional de defesa dos interesses dos cidadãos.

A indignação é o patrimônio afetivo que nos protege dos criminosos disfarçados de nossos representantes. Usada em momentos apropriados, é uma centelha capaz de tornar líderes desonestos e arrogantes em figuras nulas, atormentadas pela reprovação social. A indignação é um antídoto, amigos. Não hesitemos em expressá-la para transformar o Brasil.

CLAUDIO TEDESCHI é presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br