No dia 23 de maio de 2016, o então vice-presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.290 que obriga a utilização dos faróis acesos nas rodovias durante o dia. Achei isso muito oportuno! Afinal, as coisas por aqui andam tão obscuras que faz sentido essa reedição do feito do filósofo Diógenes que há mais de dois mil anos andava com uma lanterna acesa durante o dia para, segundo explicava, tentar encontrar homens honestos. Aventei, por isso, a possibilidade de que o autor dessa lei tenha tido as mesmas motivações, mas que escamoteou sua ideia com o argumento de que era para aumentar a segurança nas estradas. Como a população está desiludida, desconfiada e sobrecarregada por leis criadas apenas com o fito de beneficiarem seu criador ou seus financiadores, aumentam as suspeitas sobre o verdadeiro propósito de mais essa lei, até porque em alguns países a prática existe, mas não obriga a acender os faróis baixos e sim as chamadas DRL (Daytime Running Light), ou seja, luz de circulação diurna, opção mais moderna e econômica.

Refletindo sobre esse tema, lembrei-me da conversa que mantive com um cidadão sobre ética e política quando ele, supostamente contrariado, disse: - "Infelizmente, é assim mesmo. Ninguém se candidata pensando no povo, mas para obter benefícios próprios" - e finalizou - "política é para espertalhões, mentirosos e descarados." No ano seguinte, para minha surpresa, lá estava ele como candidato a vereador, e, no outro pleito, para deputado.

Sem saber ele empregou o paradoxo de Epimênides, outro filósofo grego que aplicava o seguinte silogismo: "Todos os cretenses são mentirosos". Ora, sendo ele também de Creta, conclui-se que havia pelo menos um cretense veraz, já que ele dizia a verdade sobre os seus compatriotas. Ocorre que sendo ele um deles e dizendo a verdade que todos são mentirosos, impõe que ele também o era, logo, como confiarmos em sua afirmação? O sujeito com quem conversei ignorava a existência do silogismo, mas demonstrou não ser confiável em termos de política e jamais terá meu voto – nem mais a minha amizade –, pois sua lógica é epimenidiana.


Na verdade, até acho que faróis acesos de dia ajudam sim a aumentar a visibilidade do veículo, mas como existem pessoas com graus variados de dificuldade visual, inclusive aqueles que têm fotofobia e são prejudicados pela luminosidade, acho que deveríamos aperfeiçoar a lei. Sugiro que, além dos faróis acesos, seja obrigatório o uso do som alto ou o cano de descarga aberto para fazer muito barulho e assim tornar o veículo mais audível também. O que acham?
Brincadeira à parte, enquanto esperamos para ver o resultado dessa medida, vamos apostando na possibilidade de que a prática de "iluminar o dia" nos possibilite encontrar políticos honestos por onde andarmos. Se os encontrarmos, por tabela, passaremos a transitar com menores riscos de acidentes, pois haverá mais investimentos em sinalização nas rodovias, asfaltos com melhor qualidade, campanhas de educação no trânsito, etc. As vítimas dos acidentes, que porventura ocorrerem, contarão com atendimento integral na rede pública de saúde, já que seus impostos finalmente serão aplicados de forma justa e correta.
Por ora, vamos apenas evitar divagações filosóficas ao dirigir para não nos distrairmos e acender os faróis, mesmo com o sol rachando, para não cometermos a infração que acarretará na perda de quatro pontos na CNH e o desembolso no valor de R$ 85,13 pela multa. Desse dinheiro, pode crer, você não verá mais a cor nem com todas as luzes acessas, seja de o dia ou de noite.

JAIR QUEIROZ é pós-graduado em Segurança Pública em Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br