Nasci no seio de uma família com "igualdade de gêneros". Meu pai e minha mãe, além de uma extensa, sólida e duradoura sociedade matrimonial, mantiveram uma sociedade nos negócios, dividindo tarefas, cargos e funções dentro de casa e no ambiente de trabalho. Pouco tempo depois de casarem, iniciaram um projeto educacional. Meu pai, com as atribuições administrativas e minha mãe, com a parte pedagógica. Além disso, meu pai auxiliava minha mãe, de igual por igual, nos afazeres domésticos.

E apesar da importância indiscutível que cada um exercia dentro do negócio, percebi, desde muito cedo, que minha mãe se conformou em ficar sempre nos bastidores. Sabe aquele trabalho de formiguinha, constante, intenso e sem o qual inexistiria solidez no negócio? Pois é, esse era o papel de minha mãe, uma educadora e empreendedora nata. Mas, mesmo assim, ela nunca estava na vitrine.

E para falar a verdade, minha MÃE nunca se importou em retratar perfeitamente aquele velho ditado: "Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher". É como se ela se conformasse com a ideia de que a mulher não teria o direito de liderar uma empresa de sucesso. Ou que faltasse confiança para acreditar em si mesma e perceber que ela reunia condições intelectuais e habilidades necessárias para encabeçar os processos dentro da organização. E esse não era apenas o pensamento de minha mãe, ele refletia fidedignamente o pensamento das mulheres daquela época. E eu, vinda de uma outra geração, acompanhava, com estranheza, o desenrolar dos negócios da família que, apesar disso, sempre deram certo.

Minha história de vida e de empreendedorismo foi um pouco diferente. E apesar de também ter construído, ao lado de meu marido, uma grande instituição educacional e de ter tido a chance de desenvolver um trabalho que me enche de orgulho e realização, nunca me conformei em estar nos bastidores e abrir mão do meu papel de líder. Além disso, tive a sorte de casar com um homem nem um pingo machista, cuja mãe era uma mulher totalmente à frente de seu tempo, que, no auge dos anos 60, já trabalhava fora e sustentava a casa.

Com o tempo, eu e meu marido definimos bem os papéis, controlamos a competitividade e trabalhamos com a ideia de que quem precisava ser competitiva era a empresa e não nós dois. Passamos a atuar respectivamente nas áreas em que cada um era mais hábil e dividimos, sem maiores problemas, a liderança e a gestão da faculdade, que, em pouco tempo, se tornou uma das maiores e mais renomadas instituições de ensino superior da região.

Talvez, essa minha atitude de fincar a bandeira, conquistar meu território e de não permitir que acontecesse comigo o que, um dia, vi acontecer com minha mãe, reflita bem o pensamento da mulher moderna, que compreendeu sua real importância não só no seio de sua família, mas no mundo corporativo.

O empoderamento da mulher moderna

O conformismo de aceitar a inferioridade pelo simples fato de ser mulher é coisa do passado



As lutas que foram travadas no passado surtiram um efeito principalmente na concepção das potencialidades que a própria mulher tinha em relação ao seu gênero. O conformismo de aceitar a inferioridade pelo simples fato de ser mulher é coisa do passado. A autoestima e a autoconfiança femininas tomaram conta das atitudes da MULHER moderna e são, em grande parte, responsáveis pelo aumento significativo do gênero em cargos de gestão e empreendedorismo que, na última década, no Brasil, aumentaram mais de 16%, de acordo com o Sebrae.

A atual tendência de empoderamento feminino está posicionando as mulheres em todos os campos, sociais, políticos e econômicos, mas as desigualdades em vários deles ainda persistem.

E muito longe dos discursos misândricos de feministas extremistas que disseminam repulsa, desprezo e ódio contra o sexo masculino, para tentar elevar a figura da mulher, vejo que o principal impulsionador da inclusão feminina em vários setores e em cargos de liderança se deu pelo fato de que a mulher definitivamente se convenceu de que tem todas as condições necessárias para galgar os mais altos degraus na escada do sucesso. Só depende de nós!

DANIELI SCAPIN é empreendedora e palestrante da Insperiência


Porque lugar de mulher é em cargos de liderança?



Por que falar de mulher no trabalho? Há vários motivos, mas destaco três: é moralmente correto; o ambiente de trabalho se torna mais criativo; e, dá lucro. Isso mesmo! Estudos realizados por consultorias em gestão empresarial e, inclusive, pelo Great Place to Work (GPTW) mostram que empresas com público feminino no seu time de liderança alcançam resultados financeiros até 50% superiores.

Essa realidade, no entanto, não é tão real assim. Apesar de serem a maioria da população economicamente ativa brasileira (52%) e também com formação superior (60%), somente 14% dos cargos executivos no Brasil são ocupados por elas. E não é por falta de ambição, como também mostram os estudos a respeito. Características corporativas comuns a algumas empresas dificultam a escalada feminina: tendem a valorizar o modo masculino de gerenciar; as mulheres preferem um estilo de vida mais equilibrado; e líderes do sexo masculino tendem a promover profissionais que tenham um estilo parecido com o deles.

Como por exemplo, a Arcos Dourados, empresa que administra a marca McDonald’s no Brasil, se mostra uma companhia antenada com essa realidade. Mais de 50% do quadro de funcionários dos seus restaurantes em todo o Brasil são formado por mulheres. E, nessas unidades, elas respondem por 50% dos cargos de gerência – a posição de maior responsabilidade no restaurante e que entre outras atividades, é responsável pelo resultado de um negócio que fatura milhões de reais por ano.

E não para por aí. Na empresa, a diversidade se aplica além da questão de gênero, passando pela oportunidade de abrir as portas para quem procura o primeiro emprego a todos. Afinal, o que importa é o trabalho bem realizado.

Seguir o bons exemplos é relativamente fácil. Felizmente, há medidas que podem ser rapidamente implementadas para virar esse jogo: comprometimento da liderança com o tema diversidade de gênero; os processos de seleção e promoção devem sempre conter um candidato do sexo feminino; políticas flexíveis, que visem o maior equilíbrio entre vida pessoal e trabalho devem beneficiar ambos os sexos.

MARCELO NÓBREGA é diretor de Recursos Humanos

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