O conteúdo escolar é o mal do século

O conteúdo escolar é tão nocivo que foi capaz de produzir educadores e legisladores incapazes de alterá-lo


Se você prestar vestibular hoje, não passará. O ministro da Educação também não passará, os secretários de educação não passarão, os professores do ensino médio e universitários também não passarão. Sequer os professores que elaboram as questões do vestibular passarão, como já dizia Rubem Alves. Aliás, de todos estes, penso que os últimos seriam os piores colocados.

Mas, antes de seguirmos adiante, por favor me responda: os níveis de industrialização da Ásia em meados do século 18 acompanharam o movimento geral de industrialização do Atlântico Norte ocorrido na segunda metade do século 19? Ou essa aqui: na duração de uma faísca de 0,5s e intensidade 10 elevado a -11, ao final do processo as cargas elétricas totais dos objetos são, respectivamente, zero e -5,0 x 10 elevado a -12C? Difícil, não? Pois estas foram duas das perguntas que constavam na prova da Fuvest 2017.

Vestibulares e exames de admissão para faculdades são, em todo o planeta, fonte de ignorância e estresse. Aulas diárias de "nada" é o que oferecem as escolas, especialmente no ensino médio. Passamos dos oito aos 18 anos estudando um passado sem sentido; os passados da química, da literatura, da física, da matemática, da biologia etc.

O conteúdo ensinado não está conectado aos nossos interesses pessoais e profissionais. Precisamos aprender a lidar com nossas relações pessoais, com nossas carreiras, com o que fazer da vida. Saímos da escola sem saber para que serve o dinheiro e como geri-lo, não temos senso de finitude ou de propósito, não desenvolvemos o autoconhecimento e, em especial, não sabemos lidar com nossas emoções. Não fomos ensinados a nada disso.

Isso gera um mundo onde prevalecem a ganância e o egoísmo. Um mundo que promove líderes desprovidos de bom senso e altruísmo. Mudar o vestibular e estabelecer um conteúdo que nos possibilite, nesses dez anos de estudo, entender quem somos e o modelo de mundo que queremos construir é o remédio para nossos problemas. Assim preparamos os jovens para ir à universidade.

O vestibular protege o conteúdo escolar, que é o mal do século, promove o stress e a angústia, além de levar os jovens e professores aos antidepressivos - consumidos por um terço da população nos EUA e capitais europeias. É dramático.

No Brasil, os desavisados apontam o analfabetismo como o grande problema. É sempre a defesa mais óbvia: apontar para o lado; fugir do assunto. Produzir uma nova geração bem preparada e capaz erradicará muitos males, entre eles o analfabetismo, assim como a corrupção, a falta de ética nos negócios e um sistema financeiro que beira a desonestidade.

O conteúdo escolar é tão nocivo que foi capaz de produzir educadores e legisladores incapazes de alterá-lo. Afinal, a quem isso interessa? Ninguém.


Bots: não há razão para se temer essa nova expansão robótica

Os alarmistas de plantão já profetizam um desemprego catastrófico devido à iminente invasão dos bots nos postos de trabalho e, talvez, até mesmo a sua instalação nos mecanismos secretos de manipulação e controle das massas, seja lá o que entendam por isto.

Mas se é verdade que há bots sendo produzidos e reproduzidos em velocidade viral para as mais variadas tarefas, o fato é que ainda está incipiente a aplicação realmente "inteligente" deste novo modelo de robótica.

Aliás, cabe aqui um parênteses: se tem uma área em que os bots prosperam e ajudam a prosperar (para o mal de quase todos nós, e para o deleite de alguns) é na automação das ações hackers, seja atuando com botnets, spambots, mineradores de dados clandestinos, atacantes DDos e serviços maliciosos em geral.

É bem possível que os bots, e mais precisamente os chatbots, já comecem a ganhar, por exemplo, posições de atendimento e pré-atendimento excessivamente elementares e repetitivas que, até bem pouco tempo, eram realizadas por humanos. Fala-se até de sua inserção efetiva nos meandros da Internet das Coisas, onde uma arquitetura emergente "bot-to-bot" poderia levar a automação a níveis de fato assombrosos.

Mas, se analisarmos friamente, veremos que, na maior parte dos casos, esses tais assistentes sintáticos (e fonéticos, quando aplicados a interfaces de voz) representam menos perigo aos empregados de uma central de atendimento do que àqueles velhos dispositivos de URA, nos quais um obsoleto sistema de menus exige a atenção máxima do usuário e a sua quase escravização como um operador de teclado.

Estes sim, sistemas desajeitados, caros e ineficientes, podem pôr as barbas de molho e se conformar com a sentença de que sua missão aqui na terra está cumprida.

Seja como for, há bots em profusão e eles aderem cada vez mais aos sites de mensagens, negócios, jogos e serviços. E sua expansão vai sendo rápida, principalmente em serviços IM e IRC, não só em função da nova onda de se priorizar, na aplicação, a qualidade da experiência do end user, mas também devido a um esforço descomunal dos grandes players da nuvem em popularizar o modelo.

São inúmeras as iniciativas de facilitadores de acompanhantes de vários tipos, como o Azure da Microsoft, Alexa da Amazon, o iOS Siri da Apple e o Google Home, todas elas confluindo para a intenção de oferecer um motor fácil de assimilar e componentes pré-fabricados de código para a rápida criação de bots voltados para toda a sorte de tarefas.

Mas o alvo, nessa fase inicial, na média, ainda está longe das pretensões máximas de um programa como o Watson, lançado em 2011 pela IBM, cuja ambição seria a de massificar a Inteligência Artificial e capacitar milhares de programadores (profissionais ou até amadores) para a criação de apps cognitivas usada em aplicações que vão do diagnóstico e tratamento do câncer à redução da latência em decisões de electronic trading.

Como mencionei mais acima, os bots atuais, tecnicamente falando, ainda estão mais focados em interações baseadas em menus (mais ou menos sofisticados) ou em universos probabilísticos limitados, ainda que por vezes bem extensos. É claro, eles têm a fantástica capacidade de processar e correlacionar registros de interação - em escala até de terabytes por segundo - e de, portanto, prognosticar o desfecho de uma ação que ainda está apenas se esboçando.

E isso não é nada desprezível e conduz, na prática, ao surgimento de uma admirável robótica adaptativa. Mas não chega a se constituir, ainda, numa inteligência intuitiva de fato à maneira da que ocorre na mente.

Com o fabuloso avanço e constante compactação da capacidade analítica aplicada aos softwares e ao processamento complexo de grandes lotes de dados assíncronos, haverá, em algum momento, a eclosão de um verdadeiro boom de aplicações cognitivas e - aí sim - tendendo a ameaçar seriamente certas áreas de atuação até então exclusivas do cérebro natural.

Mas a tendência é que, nesse contexto, o intelecto humano se valha dos próprios bots em favor da geração de insights em profundidade, alcance e velocidade exponencialmente maiores. E, dessa forma, promova a expansão e a criação de novos ambientes e formas de interação e trabalho muito mais sofisticados do que aqueles que, então, já estarão a cargo dos bots.

RODRIGO JONAS FRAGOLA é palestrante e CEO em Brasília


Atraso no pagamento dos tributos e sonegação fiscal

Em tempos de crise, onde inúmeras empresas não estão conseguindo pagar em dia suas obrigações tributárias, se faz inicialmente necessário explicar os conceitos de elisão e evasão fiscal, sabendo que existe linha muito tênue entre ambos. Entretanto, a regra principal que os diferencia é o momento do fato gerador e a conduta do contribuinte.

A elisão legítima é buscar economia do tributo evitando a ocorrência do fato gerador, sendo uma prática lícita, isso porque o contribuinte agiu antes da ocorrência do fato gerador e a obrigação tributária específica ainda não ocorreu, com o direito do fisco ao tributo se encontrando ainda em uma fase abstrata.

Como exemplo, deixar de importar determinado bem ou deixar de produzir determinada mercadoria são comportamentos do contribuinte que precedem a ocorrência do fato gerador, exercendo uma faculdade de não arcar com o tributo sobre a importação ou produção de determinado produto.

Já a elisão ilegítima, ou seja, a evasão, é caracterizada quando se obtém através do abuso das formas jurídicas, ou seja, pela recorrência às formas jurídicas artificiais, anormais, inadequadas em relação ao ato ou negócio jurídico que deveria ser tributado.

Assim, o contribuinte, após a ocorrência do fato gerador, utilizando-se de má-fé, pretende ocultar, através da sonegação, a incidência da norma tributária sobre o fato. A exemplo, realizar importação de um bem ou a produção de determinada mercadoria, mas omitir a prática dessas operações ao fisco.

A sonegação é definida pela Lei nº 4502/65 em seu artigo 71, e tem como traço comum a ideia de fraude consistente em omissão de informação quando existente dever de declarar, reduzindo o valor do tributo a ser pago.

Diante disso, o atraso no pagamento do tributo será considerado apenas uma infração administrativa passível de cobrança de juros ou multa, desde que ocorrido após o fato gerador, e envio das declarações ao fisco, sendo o débito declarado em sua integralidade.

Sempre que ocorrer qualquer impontualidade do sujeito passivo, resultará na cominação de juros de mora, pois correspondem à mera recomposição do poder de compra do capital. Desse modo, o tributo manteve-se devido no mesmo valor da data do pagamento, e o contribuinte não recaiu em nenhuma conduta criminosa.

JORGE CALAZANS é advogado em Londrina.

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