Vivemos numa lógica econômica centrada no consumo que se traduz em produção, trabalho, e renda que se converte em mais consumo. Este modelo ao mesmo tempo em que acelerou a geração de riqueza, trouxe o dilema entre recursos naturais escassos e necessidades e desejos ilimitados. Parte-se do princípio que quanto mais escasso maior o valor, e quando isto não se dá naturalmente pode ser provocado através da redução da oferta – quanto mais exclusivo maior o valor – logo não pode ter para todos.

Enquanto quase 1 bilhão de pessoas passa fome, todos os anos cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados ou tornam-se alvo da especulação (FAO, 2013). O mesmo ocorre com boa parte das necessidades básicas, a exemplo da habitação. Enquanto milhões vivem em lugares insalubres e precários – o Brasil tem 12 milhões de moradores em favelas –, empreendimentos nababescos permaneçam vazios por anos a fio a serviço da especulação imobiliária.

Karl Polanyi, em 1944 em seu livro "A Grande Transformação", apontava para o reducionismo de se entender a economia restrita à lógica de mercado e apontou três outros modelos complementares: economia doméstica (familiar ou de pequenos grupos), a economia da reciprocidade (dádiva e solidária) e a economia redistributiva (desempenhada pelo Estado).

Recentemente, vem ganhando terreno um novo constructo econômico, não mais centrado na posse, mas no acesso e no fluxo. Por que precisamos ter a posse de algo que pode ser compartilhado? Podemos ampliar a oportunidade de outros desfrutarem do mesmo produto/serviço, a relação econômica não precisa ter um perdedor. Surge assim o conceito, ainda viscoso, de economia colaborativa e do compartilhamento, que ganhou terreno após a crise de 2008-2009 quando se evidenciaram as inconsistências do modelo econômico dominante e a necessidade de novos designs organizacionais, mais justos, democráticos e sustentáveis.

A economia colaborativa movimentou em 2015 cerca de US$ 3,5 bilhões e cresce 25% ao ano. Esse modelo propõe-se a ampliar a utilidade de produtos e serviços, incorpora princípios como reduzir, reutilizar, reciclar, reparar e compartilhar o acesso de bens e serviços, algo já bastante difundido através do conceito de Coworking, em que se reúnem pessoas de diferentes especialidades no mesmo espaço físico, compartilhando experiências, ideias e despesas. Esse modelo é também conhecido por Economia do Acesso, pois paga-se pelo serviço e não mais pelo produto que pode ser usado por várias pessoas. Não precisamos de CDs, e sim de música, não precisamos de carro, e sim de transporte, bicicletas podem ser compartilhadas, assim como caronas, casas de praia, furadeiras ou aspiradores de pó.

Um segundo modelo em ascensão é conhecido por economia do compartilhamento, baseia-se na partilha de recursos, dinheiro, habilidades ou tempo. Um exemplo é o Crowdfunding ou financiamento coletivo, em que ideias são potencializadas por pessoas que apoiam através de doações ou outro tipo de participação, beneficiando pequenos negócios, startups, softwares livres, campanhas filantrópicas. Este modelo pode desdobrar-se no Compartilhamento Aberto, quando produtos e serviços são disponibilizados gratuitamente, a exemplo do Creativecommons em que livros e músicas são ofertados gratuitamente pela internet, ou no caso de softwares livres como Linux, Wikipédia ou vídeos com aulas gratuitas. Este modelo pode tornar-se revolucionário ao quebrar a lógica de um sistema que quer colocar preço em tudo.

Estas novas modalidades econômicas, além de melhorarem o bem-viver coletivo através da expansão do acesso a produtos e serviços, apontam para uma nova sociabilidade a partir de valores mais solidários, cooperativos e sustentáveis.

LUÍS MIGUEL LUZIO DOS SANTOS e LÍVIA COTARELLI MAROSTIGA são, respectivamente, professor e aluna do curso de Administração da Universidade Estadual de Londrina

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