O que é adoção para você? Uma opção para adultos com problemas de fertilidade ter filhos? Uma chance para as crianças que por algum motivo vivem nos abrigos à espera de um pai e uma mãe? Um ato de caridade, uma ação bondosa, um ato nobre... Você adotaria uma criança? Não, por quê? Você acredita que o filho adotivo sempre dá problemas? Ou será, por que você não conhece a origem, a genética dos pais biológicos? Você tem medo que ele cresça e queira conhecer os seus pais biológicos? Se quando você era criança tinha medo de ter sido adotado pelos seus pais... Ou então, cresceu ouvindo os adultos dizerem que fulano era filho de criação do dono do mercadinho... A dona fulana pegou uma menina para criar e ajudar nos serviços da casa... Ou ainda, que os seus vizinhos tinham dois filhos deles e um adotado... Provavelmente, você cresceu achando que a adoção não é uma coisa boa, é uma segunda opção, o plano B, para se tornar filho ou filha, pai ou mãe.

Essas questões refletem alguns mitos e preconceitos sobre adoção, o maior deles está relacionado à herança genética, ou seja, que as habilidades, a inteligência, o comportamento, o caráter das crianças são características "imutáveis" herdadas biologicamente. Como na maioria dos casos as crianças adotáveis são aquelas que foram concebidas por homens e mulheres vítimas da pobreza, das drogas, da violência... Logo, são crianças tidas como "problema", uma ameaça para os adotantes. Mesmo não existindo comprovação científica para tal ideia, muitas pessoas acreditam nesse mito, alimentando o preconceito contra a adoção.

Isso significa pensar que os filhos biológicos são concebidos com certificado de garantia, de que serão saudáveis, inteligentes, bom caráter, amáveis, que não apresentarão "problemas", pois possui o sangue, a genética dos seus genitores. Sabemos que não, muitas famílias constituídas geneticamente enfrentam dificuldades na educação dos seus filhos, o que também pode acontecer ou não com as famílias constituídas por adoção. A ideia não é criar mais um embate, dentre os vários que temos vivenciado atualmente, desrespeitando o direito das pessoas de pensar diferente, de expor sua opinião sobre esse ou aquele assunto.

O que pretendemos com o Dia Nacional da Adoção, é convidar a sociedade brasileira para refletir sobre a adoção de crianças e adolescente no Brasil. A data surgiu em 1996, no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção, realizado nos dias 24 e 25 de maio. Em 2002, o projeto de lei foi sancionado pelo presidente da República.

Acreditamos que é possível e necessário superarmos os mitos e preconceitos da adoção, quando nos empenhamos na construção de uma nova cultura da adoção. Precisamos desmistificar a adoção mostrando à sociedade que é possível a constituição de famílias por esta via de filiação, que gerar é diferente de ser pai e mãe, quem gera é genitor (a), que filhos adotivos são filhos de verdade, que educar não é uma tarefa fácil, sejam eles filhos biológicos ou adotivos.

Temos avançado no que diz respeito à construção de uma cultura da adoção no Brasil, com a constituição dos Grupos de Apoio à Adoção, a publicação de livros sobre adoção para adultos e crianças, a pesquisa científica sobre adoção, a presença do tema na imprensa televisiva e impressa etc. Entretanto, ainda presenciamos atitudes preconceituosas em relação aos filhos e pais adotivos, ou então, o "silêncio" sobre esse assunto, ainda tido como um tabu. Esperamos que a data de hoje contribua para que possamos refletir sobre a adoção garantindo às crianças a espera de uma família, o direito à convivência familiar.

GILMARA LUPION MORENO é pedagoga, docente do departamento de Educação da UEL e membro do Grupo de Apoio à Adoção Trilhas do Afeto

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br