Dizem os sábios que "a Medicina deve estar voltada a tentar proteger, curar, controlar ou, pelo menos, consolar um corpo em desalinho, corroído pela doença ou trauma". O homem deveria cuidar do homem usando seu conhecimento, a tecnologia e o amor ao próximo. Dentro de nossas circunstâncias, os médicos devem sempre fazer o melhor possível; trabalhamos numa profissão de fé, na ciência e na arte. Os médicos devem praticar os bons modos, colaborando para que nossa nação seja considerada civilizada, onde não haja espaço para a prática da corrupção, que as nulidades não encontrem espaço, onde nossas atitudes sejam sempre consideradas como confortáveis e compatíveis com uma convivência saudável.

A Medicina pública que nos levam a praticar, mostra com clareza a desvalorização da assistência, com falta de planejamento, financiamento limitado e gestão disforme, que desestimula médicos e demais profissionais de saúde que atuam no SUS. Isso leva nosso país a sofrer com fechamento de leitos, a desativação de hospitais, a enorme crise no segmento filantrópico da assistência e à sobrecarga nas contas públicas de estados e municípios. Esses entes gestores necessitam se desdobrar para garantir o atendimento à população.

Os recursos mínimos obrigatórios das três esferas de governo para o financiamento do SUS foram definidos pala Emenda Constitucional 29, no ano de 2000. Essa emenda tem como base a aplicação de percentual da receita de impostos e transferências constitucionais e legais que deveria ser transferida para estados e municípios. Entre 2000 e 2013, estados e municípios saíram de um patamar de 40% para 57% da participação no financiamento do SUS e a União apresentou decréscimo de 60% para 43%. Esse inacreditável comportamento da União esquece que o custo dos serviços de manutenção, entre 2008 e 2014 tiveram necessariamente que absorver a variação positiva na compra de produtos alimentícios usados no preparo das refeições dos pacientes, que foi de 58,4%, a variação nos custos dos serviços de manutenção, os quais aumentaram 44%, porcentual idêntico ao dos reajustes de artigos de limpeza, que também a água e esgoto tiveram alta de 35,5%, a eletricidade de 14,2% e que o combustível subiu 38,45%. A União, nessa prática de desgoverno, faz vistas grossas ao descongelamento da tabela do SUS, que seria a única forma para que médicos, serviços e hospitais não abandonem o atendimento à população.

A União, na ausência das chamadas "políticas de Estado", improvisa fragmentadas "políticas de governo", das quais a maior aberração está no Programa Mais Médicos. Esse programa, que prevê ininteligível absorção de técnicos de saúde formados por escola cubana para exercerem a função de médicos em saúde pública em recantos de nosso país, deveria conter supervisores e tutores. O Tribunal de Contas da União concluiu que 31,73% dos profissionais inscritos não possuíam essa orientação prevista e que 17,7% deles admitiram a falta de conhecimento dos protocolos clínicos definidos.
O ensino médico deve merecer abordagem especial: tem havido um crescimento em grande escala na autorização para criação de novas escolas no país. Segundo o presidente do Conselho Federal de Medicina, a maioria dos novos projetos apresentados não atende às necessidades atuais, às diretrizes curriculares e aos pressupostos mínimos para a formação de médicos. O que o Brasil precisa é de médicos com formação de qualidade. Algum tempo atrás, em um estado do Nordeste, um médico embalou uma criança recém-nascida em um saco plástico na ausência de uma incubadora. Em uma outra situação, um cirurgião cardíaco salvou uma vida usando "Super Bonder" numa cirurgia do coração. A União falta com o respeito para com o médico e o paciente, não presta reconhecimento algum e não oferece condições de trabalho para que os profissionais da saúde, principalmente o médico, possam cumprir o seu papel. Mesmo assim, salve 18 de outubro, o Dia do Médico!

JOSÉ LUIS DE OLIVEIRA CAMARGO é ginecologista e obstetra e vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná (Sindmed)

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br