Burnout (queima, desgaste, exaustão) é a expressão médica usada para descrever o estado de desgaste emocional de uma pessoa, manifestada por apatia, desânimo, distanciamento, baixa estima, chegando até à despersonalização do indivíduo e o suicídio. O fenômeno se torna mais intenso nas profissões que envolvem estresse emocional, como ocorre entre médicos.

Os médicos sofrem, hoje, uma pressão cada vez maior, gerando uma grave crise profissional. São agredidos todos os dias, de todas as formas, inclusive agressão física, e o Estado é o maior dos agressores. Especialmente, quando tenta culpar os médicos pelo descalabro em que se encontra a assistência pública à saúde, ao mesmo tempo em que os explora com esmerado descaramento (o governo paga R$ 7,14) por uma consulta médica há 15 anos!

Observa-se, também, que progressivamente vem ocorrendo uma perda do respeito pela profissão médica, pela sociedade em geral. Graças à internet e a facilidade de acesso a supostas "informações médicas", todos, agora, estão se achando um pouco "doutores".

Caso o médico não concorde com as opiniões "abalizadas" do paciente e seus acompanhantes, e se negue a fazer o que estão exigindo; se não souber contornar "diplomaticamente" a situação – será chamado, no mínimo de grosseiro e incompetente, além de outros epítetos menos declaráveis.

Na verdade, há uma progressiva perda do respeito pela profissão do médico.
Por seu lado, a lei é ciosa em lembrar aos médicos suas obrigações éticas e morais, também pouco se importando com as condições em que o médico é obrigado a cumpri-las.

É possível que, no mundo da fantasia em que vivem políticos e governantes, desligados da realidade que existe fora dos muros dos palácios, devem acreditar que médico é uma espécie de robô: não tem família, filhos, preocupações, obrigações pessoais, dívidas, moradia, não se veste, não come, não se especializa.

No estudo "Demografia médica", do Conselho Federal de Medicina, ficou claro que entre as condições de trabalho que mais afetam os médicos, com estafa e exaustão, está o número de empregos a que recorrem para sobreviver com o mínimo de dignidade que a profissão exige. O médico inicia sua jornada diária às seis horas da manhã, visitando os pacientes internados, às oito horas já está no consultório, depois na UBS, na UPA, ou em plantão no Pronto-Socorro, e assim, sucessivamente, todos os dias. A média diária de horas trabalhadas varia de 12 a 16 horas, sem horário de almoço, fins de semana, feriados, dias ou noites...
Quando o cidadão chega a um Pronto-Socorro às três horas da manhã, com uma dor; quando uma gestante entra em trabalho de parto em pleno feriado nacional; ou alguém resolve ter seu infarto do miocárdio em pleno domingo, todos sabem que lá no Pronto-Socorro haverá, sempre, um médico para atendê-los. Não há greves, não há faltas ao trabalho, não há Natais ou Anos-Novos...

Outro fator que leva o médico ao desgaste emocional, é não ter tempo para a família, para os amigos, sem contar a cobrança implacável da sociedade. Hoje, no Brasil, cerca de 30% dos médicos sofre burnout.

Há, no Congresso, uma bancada formada por médicos – deputados e senadores –, mas não acredito que estejam interessados na amarga sina de seus colegas. O Estado, ao invés de atender às reivindicações mínimas da categoria, prefere importar médicos de outros países, e explorá-los de forma desumana. Atualmente, o Brasil é o 3º país do mundo em depressão, com alta taxa de suicídios, inclusive entre os médicos.

O profissional afetado pela depressão apresenta uma premente necessidade de autoafirmação, seguida de negligência crescente com os cuidados pessoais, passa a não desejar mais contato com pessoas, segue-se tristeza, pessimismo, ansiedade, dificuldade de atenção, perda do sentimento de realização pessoal, até um nível de risco suicida. Essa é a realidade do médico brasileiro.

PAULO ANDRÉ CHENSO é médico em Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br