Parece que não aprendemos com a história. Não é de hoje que nosso país enfrenta problemas, sejam econômicos, políticos ou sociais. Talvez, o Brasil nunca tenha sido para amadores. Porém, diante desses problemas, ficamos muitas vezes em busca de alguém que possa resolvê-los. Rara e pontualmente, tomamos as rédeas e agimos em sociedade para propor e implementar soluções. Talvez, seja um reflexo da nossa democracia de representação, mas o fato é que às vezes ficamos achando, como diria Caetano Veloso, que "um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante para nos salvar". Estamos sempre à espera de um messias político.

Essa imagem de um homem bom que poderia resolver todos os problemas sociais e os anseios de seu povo não é novidade. Na Bíblia, podem ser considerados exemplos os de Moisés, João Batista ou mesmo Jesus. Seja Buda, Maomé, Smith ou Alan Kardec, há sempre um messias nas principais religiões.

Na política, existem vários exemplos. Logo após o mandato de José Sarney e depois de um longo período de ditadura, com cerceamento de liberdades, tortura e presos políticos, pudemos novamente escolher nosso chefe máximo por meio do voto direto. Com a economia em grave crise, decidimos, claro, pelo "caçador de marajás", aquele que poderia combater os altos salários de alguns servidores públicos e combater a inflação. Elegemos Fernando Collor. Deu no que deu.

Anos depois, brilha uma estrela, cresce a esperança. Surge a figura heroica do líder sindical, que fala com os pobres, os excluídos, os que se sentiam esquecidos. Somente Lula poderia trazer a justiça social para esse povo que sofria, colocando finalmente o Estado a serviço dos menos favorecidos e lutando contra as elites. Dilma seria, claro, a continuação da obra do messias. Marina Silva, com seu discurso de "nova política", também foi vista por muitos como alguém que tentava usar o messianismo para se eleger.

Carlos Serra, professor catedrático da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, afirma que o messianismo político é especialmente forte em meios sociais nos quais se conjugam três fenômenos: o grande peso das tradições e regras, a percepção de que estas regras e tradições estão se perdendo e os níveis elevados de pobreza. Parece familiar?

O messianismo político é visto, com mais frequência, como característica de populistas de esquerda. Mas não é sempre assim. Também podem ser vistos como exemplo desse fenômeno a liderança de Hitler, na Alemanha, ou, mais recentemente, de Donald Trump, nos Estados Unidos.

No Brasil, o novo messias vai acabar com toda a violência e com as drogas. Vai prender muitas pessoas e vai armar seus discípulos para que façam a justiça. Mas não para por aí. Ele também vai lutar contra essa gente que insiste em amar o semelhante. Vai acabar com os privilégios dos indígenas e do universo feminino e dizimar toda a corrupção trazida pelo messias anterior. Ele, e somente ele, vai resolver todos os problemas (menos os econômicos, claro) do nosso país. Em resumo, muitos estão acreditando que virá, no seu cavalo, peito nu, cabelo ao vento, aquele, infalível como Bruce Lee, que vai fazer o sertão virar mar. Em pleno 2017 (ou 2018) a esperança de alguns é a chegada do Messias. Nesse caso, literalmente.

Parece que não aprendemos com a história.

FILIPE MUNIZ é estudante de Jornalismo na Unopar Londrina

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