A recessão é uma travessia dolorosa. No seu curso, enfrentamos todos os demônios – os mesmos que em períodos de bonança se tornam irrelevantes e invisíveis, ainda que sorrateiramente estejam se preparando para nos atacar nas fragilidades do futuro. Estamos deixando uma das quatro grandes recessões da história da República. Nas outras três, os livros nos contam que foram nelas que enxergamos com mais clareza e maturidade a origem das nossas dores. E embora ainda não soubéssemos exatamente o que pretendíamos, sabíamos exatamente o que não queríamos mais. E foi assim, insatisfeitos com bolsos e estômagos vazios, que nos transformamos.

No início dos anos 1930, após a quebra da bolsa de Nova York e uma profunda crise internacional, enterramos a República Velha e a sua representatividade rudimentar, sem voto secreto, com eleitorado ínfimo, sem pobres, analfabetos e mulheres. No início dos anos 1980, a combinação de forte endividamento externo, inflação alta e aumento do desemprego e da miséria contribuiu para abreviar o governo militar, dando lugar ao comando civil e permitindo a elaboração de uma nova Carta Magna.

A recessão voltaria em 1989, com direito à hiperinflação e ao sequestro de ativos no percurso. Conjuntura que resultou em outra inflexão histórica da opinião pública, minando as pretensões políticas de Fernando Collor de Mello. Pouco tempo depois, refundamos nossas relações econômicas por meio de um plano econômico bem sucedido e de uma nova moeda.

É muito animador registrar aqui que já desfrutamos a instalação da parte positiva do atual ciclo. Estamos vivenciando uma transição que pode dar ao País novos rumos, com mais responsabilidade fiscal, com a modernização da máquina pública (e da gestão do funcionalismo) e a consolidação do protagonismo da iniciativa privada.

Olhando para 2017, é possível dizer que já pensávamos ao modo de um comandante que sabe que a tempestade vai passar e a viagem vai seguir. A celebração dos 80 anos da Acil ratificou a confiança que temos no Brasil, ainda que muitos pensadores preferissem apenas lamentar (aliás, operacionalmente, colhemos um ótimo resultado, com expansão de alcance e faturamento nas mais variadas frentes de atuação). Há menos de um ano estávamos publicando nesta FOLHA um Manifesto empresarial no qual defendemos um novo modelo de Estado, mais enxuto, eficiente, representativo. Lançamos e realizamos com extraordinário êxito o "Lidere", encontro empresarial planejado para ser o carro-chefe da nossa programação de eventos e para jogar luzes no debate sobre o mundo corporativo contemporâneo no Norte do Estado.

Articulamos a sociedade civil da cidade para a criação de um fundo de apoio a iniciativas de impacto socioeconômico e que têm o desenvolvimento como foco. Acreditamos muito que este será o instrumento mais apropriado para que o setor produtivo seja mais ouvido no planejamento e na execução de soluções para tantos problemas que nos desafiam.

A congregação das entidades foi fundamental ainda para conquistarmos um horizonte promissor para nossos ecossistemas de inovação. Estamos caminhando para termos em breve um arranjo orgânico capaz de mudar o perfil econômico da região. Também temos uma grande satisfação em perceber o avanço do programa Compra Londrina, uma ideia que construímos ao lado do Sebrae e que se tornou política oficial do município no ano passado.

A participação de pequenas e médias empresas locais nas concorrências públicas é uma forma inteligente de reter divisas, gerar novos postos de trabalho e dar mais transparência aos contratos custeados com recursos públicos. O ano velho se foi também com outra grande certeza. A experiência de transformar nossa campanha de fim de ano em um grande festival cultural funcionou e será aperfeiçoada este ano. Londrina é um centro de produção de artes e espetáculos com muitos talentos, um trunfo que podemos usar para movimentar a cidade e tornar o cenário das compras de fim de ano mais vibrante.

E por tudo isso, por tanta coisa acontecendo na sociedade civil e no setor produtivo, que insisto em dizer: 2018 será mais do que especial!

CLAUDIO TEDESCHI é presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina

■ Os ar­ti­gos de­vem con­ter da­dos do au­tor e ter no má­xi­mo 3.800 ca­rac­te­res e no mí­ni­mo 1.500 ca­rac­te­res. Os ar­ti­gos pu­bli­ca­dos não re­fle­tem ne­ces­sa­ria­men­te a opi­nião do jor­nal. E-­mail: opi­niao@fo­lha­de­lon­dri­na.com.br