Crise x oportunidade
Nesta crise, manter o emprego é muito importante. Mas criar alternativas para melhorar a renda pode fazer o diferencial na rotina de qualquer um. No meu caso, assar bolachinhas amanteigadas me permitiu juntar uns trocados para comprar alguns utensílios que para mim são indispensáveis na cozinha. Por enquanto, meu lucro alimenta meu pequeno negócio e meus caprichos por utensílios e ingredientes, como cortadores diversos, chocolates belgas, quantidades enormes de manteiga e creme de leite, mixer, batedeira planetária, além dos raladores para raspas de cítricos, fouets, pães duros e xícaras e colheres de medida que colorem as gavetas do armário da cozinha. Tem ainda a balança que não pode faltar na confeitaria e o silpat de silicone para acomodar os doces banhados com chocolate. É muito detalhe, que faz a diferença, mas custa caro.

Profissionalização x burocracia
Dar o próximo passo e profissionalizar a produção é mais caro ainda. Mesmo devagar temos feito progresso e logo, logo creio que o sonho pode se tornar realidade, ainda que tomar decisões tenha se mostrado mais difícil do que poderíamos imaginar. É preciso investir tempo e dinheiro para conseguir alvarás, registrar produtos, definir valores nutricionais, desenvolver a arte que culminará na marca, investir na embalagem mais atraente e adequada, enfim, todo dia tem alguma coisa para fazer. Além de colocar a mão na massa e produzir as tais bolachinhas, que por enquanto estão em segundo plano. Empreender não é para qualquer um, principalmente se temos outras prioridades na rotina, como o emprego que paga as contas ou os cuidados com a saúde.
Já dominamos as técnicas, agora precisamos conquistar o mercado. E como é complicado imaginar o que o consumidor quer experimentar. Vamos apostar naquilo que já fazemos bem e imaginar que vai dar certo. Mas para mim, mais do que lucrar, quero tocar as pessoas que consomem minhas guloseimas. Do mesmo jeito que sou tocada por tantas delícias diariamente. Adoro experimentar novidades.

Inspiração gourmet
E como também gosto muito de ver TV, acompanho os programas culinários, que se tornaram mais que uma inspiração: é na televisão que aprendo cada dia mais sobre o universo mágico da culinária. Boas ideias não faltam e dar um toque pessoal ao que já existe pode ser o início de um negócio próspero.
Foi "gourmetizando" meu dia a dia que criei coragem de buscar uma realidade nova, fora do bom e velho jornalismo. Com realities culinários, livros e cursos, descobri uma nova paixão, que deixa meus dias – e de quem caminha ao meu lado – mais doces. Foi a partir da "onda gourmet" - que apesar de exagerada, me trouxe muita informação – que aprendi que a nossa bomba tem origem francesa, nosso pudim de pão tem um quê inglês, nosso bolinho de chuva é parente do canoli italiano e que o blondie é a versão do brownie americano feita com chocolate branco. Já testei todas essas receitas e digo: é possível confeitar com muito pouco e até conquistar alguns admiradores, basta começar.

Mariana Guerin é jornalista na FOLHA