Imagem ilustrativa da imagem Uma infância feliz



Sou a segunda de uma família de dez irmãos, sete homens e três mulheres. Mamãe teve quase todos os filhos em casa, assistida pelo nosso querido amigo, o dr. Waldemar Scardazzi (que também foi prefeito de Sertaneja), auxiliado por minha avó Maria. O papai nos levava para o sítio e trazia a vovó para ajudar no parto. Quando voltávamos para casa, já tinha mais um nenê. Inocentes, perguntávamos:

- Quem trouxe, mamãe? E ela respondia: - A cegonha.

E, ingenuamente, acreditávamos. O nosso irmão caçula, o Ranulfo, nasceu na Santa Casa de Cornélio Procópio porque a mamãe já estava com 36 anos e, naquela época, precisava de maiores cuidados. Ela respeitava os 40 dias do resguardo, tomava diariamente a canja de galinha com farinha de milho (as galinhas vinham lá do nosso sítio). E era saborosa; meus irmãos e eu a ajudávamos a tomar. Mamãe se cuidava, fazia tudo certinho e hoje, com 91 anos, é uma pessoa saudável.

Além do jardim em frente de casa, tínhamos um quintal bem grande, de dois terrenos para brincar. Parecia um pomar, tinha bananeiras, cinco pés de goiaba vermelha, dois de goiaba branca; na porta da cozinha, um pé de limão-rosa, um pé de maçã, um de pêssego, um de romã e uma jabuticabeira. Cada irmão era dono de uma goiabeira. Subíamos lá no alto, cada um no seu pé, pulávamos de galho em galho. Nessa, o Édson caiu duas vezes e quebrou o braço. Brincávamos de circo, de trapézio, o nosso ingresso era uma folha de goiabeira; cantávamos lá de cima da árvore "Filme triste", do Trio Esperança e "Coração de luto", do Teixeirinha (sucessos da época); uns dias antes do Natal, o Idivar cantava o dia inteiro "Noite Feliz". Coitados do seu Nagayoshi, da dona Maria e Terezinha Flor, nossos queridos vizinhos!

O chão do quintal era todo cheio de "burquinhas", brincávamos com as bolinhas de gude com os meninos; também de "casinha"; bilboquê, cinco pedrinhas (ou saquinhos de arroz que a mamãe costurava para nós brincarmos) - nestes eu era craque, ninguém ganhava de mim. Na parede do armazém, jogávamos bola: "Ordem, seu lugar, sem rir, sem falar..."; com nossos amiguinhos, brincávamos de passar-anel, ciranda-cirandinha, lenço-atrás, pular corda; na rua, de bola-queimada, de bétis, de pega-pega, de esconde-esconde; na carroceria dos caminhões, de canto e o bobinho no meio. Ufa! Era tanta brincadeira... E quando chovia... ah, fica para a próxima.

Quando nós nos reunimos aqui em casa com a mamãe, quanta coisa para conversar, para recordar... Que infância maravilhosa tivemos!

Idiméia de Castro, leitora da FOLHA